Na busca pelo bom desempenho, o equilíbrio entre treinamento e recuperação do atleta é de grande importância. Recorrer a técnicas almejando acelerar a recuperação é uma prática frequente. Um dos recursos utilizados é a piscina de gelo (crioterapia ou crioimersão) que consiste na aplicação de frio intenso com gelo, neve carbônica e outros meios buscando a redução da temperatura corporal ou de uma parte do corpo específica.
O objetivo desta prática é promover recuperação após esforço, efeitos analgésicos (tirar a dor), controle do edema e processo inflamatório, diminuição da taxa metabólica, do fluxo sanguíneo e da velocidade de condução nervosa.
A ideia central é promover uma melhor recuperação pós-treinos extenuantes ou competição, melhorando a recuperação.
Essa é uma prática bastante utilizada na maioria dos esportes, porém na literatura faltam estudos contundentes, embora, uma alta utilização clínica possa ser explicada pela expectativa de melhora dos sintomas, principalmente na dor e sensação de bem estar experimentadas após a crioimersão.
Tentando entender se os efeitos positivos podem estar relacionados com fatores psicológicos, Broatch e colaboradores testaram esta hipótese (estudo publicado em 2014 na Medicine & Science & Exercise). Esse estudo relata o acompanhamento de 30 atletas, que logo após realizarem treinamento de alta intensidade, foram divididos em 3 grupos e encaminhados para imersão em água fria a 10°C – crioimersão, outro com imersão em água morna a 34°C e adição de “óleos recuperadores” (induzidos por relatos destes serem tão eficazes quanto a água fria) e o grupo controle, com imersão em água a 34°C. Neste grupo, com imersão em água morna, os resultados mostraram que força, aptidão para o exercício, dor e condições psicológicas foram significativamente prejudicados quando comparados com os outros dois grupos. Nos dois grupos com água morna + “óleos recuperadores” e o grupo em crioimersão, os resultados foram semelhantes entre si.
Observe que o “óleo recuperador” era simplesmente um tipo de sabão para banhos (efeito placebo). As condições da água eram as mesmas entre o grupo controle e o grupo induzido com o óleo; este último apresentou resultados similares ao com imersão em água fria, destacando a importância da crença na recuperação (fator psicológico do esperado benefício).
Entretanto alguns estudos, mesmo sem explicar de forma contundente o mecanismo de auxílio, são categóricos em afirmar a eficácia da crioimersão quanto ao alívio da dor do dia seguinte. Com estes resultados, somados a relatos de inúmeros atletas que se sentem muito bem com este procedimento, concluímos que a escolha da melhor técnica de recuperação deve ser analisada individualmente.
No caso de se optar pela crioimersão é importante observar protocolos para o tempo de exposição, a temperatura da água e o momento a ser aplicada a técnica. Sugerem-se temperaturas de 10 a 15°C em tempos de imersão de 5 a 24 minutos com aplicação imediata, ou até o máximo de 20 minutos após a atividade física (Bleakley C e colaboradores, 2012).
Não devemos afirmar que estamos prontos para dizer ao atleta que abandone os banhos de gelo. Essa escolha pode mostrar bons resultados. De forma geral, várias técnicas de recuperação fazem o atleta se sentir menos dolorido e fatigado. Esse é o objetivo, não é? O importante é que o atleta perceba suas sensações e observe o seu bem estar.
Na minha opinião existem terapias melhores, como as massagens, por exemplo, com boas evidências no auxílio para a recuperação. Porém, nos esportes a superstição e a percepção do atleta podem ser cruciais então, se você segue uma rotina de recuperação (e sem evidências de contra indicações) que ajuda a se sentir melhor depois de um grande dia nas piscinas, mares ou rios, o melhor a sugerir é keep going (continue)!