No meio diz-se que ‘a natação é um desporto coletivo’, pelo seu apelo à união da equipa e à motivação mútua, numa modalidade individual por natureza e que pode ser ‘solitária’.
E nenhuma competição é melhor que o Campeonato Nacional de Clubes da 1ª Divisão – que se disputa sábado e domingo na piscina olímpica do Jamor – para comprovar esta máxima de ‘desporto coletivo’.
Na competição maior por clubes do país (também há a 2ª e 3ª divisões) assisti ao longo de décadas a algumas das maiores disputas – algumas foram históricas – entre nomes gigantes da nossa natação (e sem qualquer ordem especial):
Alexandre Yokochi (o nosso melhor de sempre e que, na verdade, era tudo menos explosivo e emocional, provavelmente pela herança japonesa do pai e alemã da mãe), João Santos, Diogo Madeira, Nuno Laurentino, Miguel Cabrita, Miguel Arrobas, Rui Borges, Sérgio Esteves, Paulo Trindade, Simão Morgado, Artur Costa, entre tantos outros.
Em femininos eram fantásticas as provas em que víamos nadar Sandra Neves (primeira mulher olímpica da natação desde 1960…), Ana Barros, Joana Arantes, Ana Alegria, Raquel, Felgueiras, Sara Oliveira, Petra Chaves, Ana Francisco, Diana Gomes, entre imensas mulheres de talento.
Alexis e Rafaela são campeões em título
Os nomes dos mais recentes vocês conhecem bem, são estrelas da nossa natação, e alguns deles os últimos campeões e campeãs de Portugal: Alexis Santos, Francisco Santos e João Vital, pelos sportinguistas, e as irmãs Rafaela e Francisca Azevedo, e Rita Frischknecht pelas vencedoras do histórico Sport Algés e Dafundo, entre vários outros nomes que poderia elencar.
Não posso esquecer, claro, os treinadores, grandes obreiros de equipas que tinham enormes dificuldades para treinar p.e. em piscinas de 50 metros, uma raridade até à década de 90, pois Portugal foi o último país da União Europeia e um dos últimos de toda a Europa a ter uma piscina olímpica coberta…e em Lisboa; no resto do país só anos mais tarde.
Entre outros técnicos para o ‘Hall of Fame’ da nossa natação (que um dia alguém tomará a iniciativa de organizar): ‘Mister’ Shintaro Yokochi (SL Benfica), Lima Santos (FC Porto), Eurico Perdigão (Algés), António José de Almeida (Sporting), José Manuel Borges (SC Braga), Filipe Coelho (CN Amadora), e os últimos campeões Miguel Frischknecht (Algés) e Carlos Cruchinho (Sporting) que está há décadas no topo da natação nacional.
A história em três parágrafos…
O primeiro campeonato nacional de clubes disputou-se na época de 1978/79, e durante oito anos a classificação era conjunta, femininos e masculinos, tendo o Futebol Clube do Porto como grande dominador.
A partir de 1986/87 iniciou-se a divisão por sexos, e entre 1989/90 e 1992/93 os dois campeões nacionais foram apurados para disputar os Campeonatos de Clubes da CEE, a Comunidade Económica Europeia (para a qual o nosso país entrara em janeiro de 1986).
Tive o prazer de acompanhar os clubes portugueses na maior parte desses Campeonatos da CEE, alguns com comportamento muito bom entre os melhores da futura União Europeia. Assim de repente lembro-me de Yokochi, claro, e Diogo Madeira pelas ’águias’, e da histórica portista Natacha Sousa (primeira portuguesa em menos de 60 segundos aos 100m livres em piscina curta) e Paulo Trindade pelos ‘dragões’.
FC Porto e Algés líderes com Sporting à espreita
É, pois, fácil de perceber pelos quadros em baixo quem têm sido os grandes entre os grandes da natação lusa nos últimos 45 anos: o FC Porto tem 15 dos 33 títulos femininos, e o Sport Algés e Dafundo a hegemonia em masculinos com 10 vitórias, logo seguido do Sporting com oito vitórias nas últimas…oito edições (devido à pandemia a competição não se realizou nas duas últimas épocas).
Clubes Campeões Nacionais de Clube
Oito Títulos absolutos (ambos os sexos)
Clube Títulos Primeiro
FC Porto 6 1979/80
S. Algés e D. 2 1978/79
33 Títulos em femininos
Clube Títulos Primeiro
FC Porto 15 1988/89
Sporting CP 6 2000/01
S. Algés e D. 5 1986/87
SC Braga 4 1992/93
CN Amadora 2 2006/07
SLB Benfica 1 1987/88
33 Títulos em masculinos
Clube Títulos Primeiro
S. Algés e D. 10 1994/95
Sporting CP 8 2011/12
SL Benfica 5 1986/87
FC Porto 4 1987/88
CN Amadora 3 2003/04
CF Vilacondense 3 2004/05
Sete clubes, 74 títulos
FC Porto 25
S. Algés e D. 17
Sporting CP 14
SL Benfica 6
CN Amadora 5
SC Braga 4
CF Vilacondense 3
Deste modo, participam nestes Nacionais 15 clubes, sabendo-se que descem seis, pelo que para grande parte das equipas a luta será pela manutenção no escalão principal.
Assim, os 15 clubes participantes em cada sexo são (por ordem alfabética):
FEMININOS:
A.D.C.R. Bairro dos Anjos, A.D.R. Colégio Monte Maior, Associação Académica de Coimbra, Clube dos Galitos, Clube Fluvial Portuense, Clube Futebol Os Belenenses, Desportivo Náutico da Marinha Grande, Futebol Clube do Porto, G.D. Natação V. N. Famalicão, Leixões Sport Club, Louletano Desportos Clube, Sport Algés e Dafundo (campeãs em título), Sport Lisboa e Benfica, Sporting Clube de Braga, Sporting Clube de Portugal
MASCULINOS:
A.D.R. Colégio Monte Maior, Associação Académica de Coimbra, Clube dos Galitos, Clube Futebol Os Belenenses, Clube Náutico Académico, Clube Naval do Funchal, Foca-Clube Natação de Felgueiras, Futebol Clube do Porto, G.D. Natação V. N. Famalicão, Louletano Desportos Clube, Sociedade Filarmónica União Artística Piedense, Sport Algés e Dafundo, Sport Lisboa e Benfica, Sporting Clube de Braga, Sporting Clube de Portugal (campeões em título)
O que dizem os treinadores
Ouvi alguns dos nossos técnicos principais, comandantes das equipas que levarão ao Jamor a animação e incerteza de que o desporto vive.
Carlos Cruchinho (Sporting Clube de Portugal)
Em relação aos Nacionais de Coimbra, e face às contrariedades que tivemos [sei que houve lesões p.e.], acabou por ser positivo, embora um pouco aquém do habitual… mas é assim que são as coisas. Quanto aos Nacionais de clubes, os nadadores e nadadoras estão prontos para dar o seu melhor e tudo pode acontecer. É para todos os atletas uma prova especial.
André Ribeiro (Sport Algés e Dafundo)
As nossas expectativas são tentar a manutenção na 1ª divisão. Este é o primeiro objetivo. É uma equipa muito nova, com muito poucos atletas que já participaram antes nestes Nacionais de Clubes. Em femininos as coisas estão um pouco mais controladas, mas em masculinos é mesmo uma equipa muito nova, pois estamos a apostar na formação, o que ainda nos recentes Nacionais de Coimbra se viu estar a dar resultados, pois fomos o clube primeiro classificado nas medalhas no escalão de juniores.
Luís Cameira (Sporting Clube de Braga)
O nosso objetivo é a manutenção nos dois sexos. Descem seis equipas! E muitas reforçaram-se com atletas estrangeiros. Penso que estes campeonatos nada têm a ver com os da última semana… há equipas que só levaram um ou dois atletas na semana passada a Coimbra, e agora são candidatos a andar nos primeiros… A nossa é uma equipa muito jovem, tirando dois ou três que são os líderes.
Élio Terrível (Galitos, de Aveiro)
Viemos de uns Nacionais onde a prestação da Carolina foi muito conseguida, com a obtenção de mínimos para os Mundiais de juniores e a conquista de três títulos absolutos; foi igualmente importante para nós a prestação da Maria Carolina Almeida nos 50m e 100m mariposa que nós acreditamos que também poderá vir a ser bastante melhor.
Para o Nacional de Clubes os nossos objetivos são a manutenção das duas equipas na 1ª divisão, muito embora seja um objetivo difícil para os rapazes. Assim como a obtenção de algumas marcas que não ‘saíram’ nos Nacionais de Coimbra.
José Manuel Borges (Futebol Clube do Porto)
O nosso objetivo é tentar superar os resultados das últimas edições, cimentando a estabilidade e o crescimento dos nossos nadadores mais jovens.
E a minha aposta é…
Em masculinos penso que os rivais de Lisboa, Sporting e Benfica, travarão uma luta excecional, com o Braga a intrometer-se seriamente, com Famalicão, Algés e CF Os Belenenses a roubar pontos aos candidatos.
Recentemente nos Nacionais de Coimbra os 17 títulos do setor masculino tiveram nada menos que 11 campeões de sete clubes, sendo quatro do SLB (dois cada para Diogo Ribeiro e Miguel Nascimento), quatro do SC Braga (também dois para José P. Lopes e Rafael Simões), três do Sporting (Alexis e Francisco Santos, e Tiago Costa), dois para a Louzan (com Gabriel Lopes, mesmo adoentado), dois para o Vitória de Guimarães (João Costa), e um para FC Porto (Kevins Apseniece) e Clube Náutico Académico (Tomás Veloso).
Mas mais que os primeiros, serão as segundas linhas a determinar muita da pontuação coletiva.
Em femininos este princípio da massa crítica de cada equipa também se vai aplicar, se bem que nos Nacionais de há uma semana os 17 títulos em mulheres foram apenas para oito ‘devoradoras’ campeãs, e algumas não competem na 1ª divisão: Tamila Holub (SC Braga), Carolina Fernandes (Galitos de Aveiro) e Raquel G. Pereira (SL Benfica) com três títulos cada, Camila Rebelo (Louzan), Ana P. Rodrigues (Escola Desportiva de Viana) e Francisca Martins (FOCA – Felgueiras) com dois cada, e um para Rafaela Azevedo (Algés) e Catarina Monteiro (CF Vilacondense; nada entre domingo e terça-feira o Open de Espanha).
Aposto, pois, numa luta mais repartida entre vários clube, um pouco mais centrada em SL Benfica de Raquel Pereira e Diana Durães e o Sporting de Inês Fernandes e Rita Frischknecht; mas com – novamente – o SC Braga de Tamila Holub a tentar roubar pontos, assim como (atenção) o FC Porto da polivalente Angélica André, o Algés de Rafaela Azevedo, e o Galitos da júnior já campeã absoluta, Carolinas Fernandes .
Se há dúvidas quanto aos vencedores, de uma coisa temos a certeza: este promete ser um regresso fantástico do 42º Campeonato Nacional de Clubes, o que só favorece a nossa fantástica modalidade. E ainda poderemos ter recordes nacionais, e até mínimos, quem sabe…