Destaques para um evento como um Mundial de Esportes Aquáticos são difíceis de se escolher. Sempre há o recorde mundial, a desclassificação controversa, um desempenho incrível, e outros que deixam a desejar. Na estreia da natação em Kazan, é impossível não deixar o queixo cair alguns centímetros diante da única manchete possível: Estados Unidos e Austrália fora de uma final de Mundial no revezamento 4x100m livre. Se parar para pensar a última vez em que isso aconteceu, vai demorar um pouco para se lembrar. Nunca, desde o primeiro título americano em 1973, as duas seleções assistiram a prova das arquibancadas.
Um erro de estratégia, alguns atletas poupados, um pesado desfalque para os australianos sem James Magnussen, e China e Polônia agarraram as vagas que se abriram entre os oito melhores times do mundo no conjunto da prova.
O tempo de 3min16s01 foi o pior dos americanos desde o Mundial de 1998. Chocante pelas parciais individuais: Jimmy Feigner, constante na casa dos 48s, para 49s21; Anthony Ervin como âncora para 49s69, Matt Grevers com 48s67 e Conor Dwyer para 48s44. A 11ª colocação para eles, e 13º com os australianos (3m16s34).
Na final, foi o momento de crescimento dos franceses, que contaram com o reforço de Florent Manaudou, além de Fabien Gilot nadando para expressivos 47s08, e abocanharam o ouro. Um show de Vladimir Morozov, com a melhor marca individual da prova sendo o único a nadar abaixo dos 47s (46s95, com 21s71 na passagem), para liderar os donos da casa, apoiados pela torcida, à prata. E o bronze ficou para os italianos, recente pedra no sapato dos brasileiros, que não tiveram nenhum atleta abaixo de 48s. Um grupo regular, mas sem um destaque individual – e sem a presença de Cesar Cielo, que admitiu que a má fase o tirou da prova.
Os atletas do Brasil se incomodaram bastante em perder o pódio, e todos reconheceram que era possível melhorar um pouco de cada parcial. João de Lucca (que fechou para 48s40), salientou a união e conexão do time, e foi apoiado pelos colegas. Bruno Fratus (48s05) foi sincero: “Não vou mentir, não estou feliz com o quarto lugar. Acho que o tempo de 3m13s está aquém da nossa capacidade, podemos nadar bem rápido que isso. Mas estou animado com o que está pra vir. Estou orgulhosos de como eles competiram, parecemos quatro irmãos nadando juntos, tomando porrada juntos, celebrando juntos”.
“A gente está chateado porque foi muito próximo da medalha, está ali, a gente quase consegue sentir, pegar. Dói no coração. Mas foi um passo a mais. A maior competição das nossas vidas será no Rio, e quarto lugar no Mundial não é pouca coisa. Estamos no caminho certo, mas não adianta melhorar e não chegar lá e fazer”, complementou Marcelo Chierighini (48s54, abrindo o revezamento). O caçula Matheus Santana (48s20) foi além: “o time tem qualidade pra nadar pra 47s, não é fácil, temos que estar 100% afinados na troca, da melhor forma possível. Mas com essa união e empenho que temos tido, vai ficar fácil”.
Cesar Cielo não fez falta. Ao menos nas próprias palavras do nadador, ele não teria muito o que acrescentar na situação. Sofre com um problema no ombro, uma lesão revelada apenas neste domingo pelo atleta, além de uma grande dificuldade para encaixar a velocidade. Preocupa para os seus 50m borboleta, prova na qual se classificou raspando, com o último tempo da final. Ser tricampeão, ele descarta. O discurso e Cesão foca no bronze. E, ainda assim, há muito o que trabalhar.
As isoladas mulheres donas do mundo
Katie Ledecky, a quatro segundos da vice-campeã da prova, nada como se estivesse sozinha na piscina: o primeiro ouro (e recorde de campeonato) veio nos 400m livre, com 3m59s13. Mesmo cansando no final de prova. A Dama de Ferro, Katinka Hosszu, segue sua fama de superar as adversárias em diversas provas, de forma incansável: recorde europeu batido duas vezes nos 200m medley. E Sarah Sjostrom, único recorde mundial da etapa, nos 100m borboleta, aparece tão isolada que não precisa se preocupar em nada além de superar sua própria marca na final de segunda-feira. Por enquanto, impressionantes e imbatíveis 55s74.
E apenas para selar o dia de conquistas expressivas femininas, Bronte Campbell, no revezamento campeão da Austrália, emplacou 51s77. Marca que fala por si só.
Por Mayra Siqueira
A equipe Swim Channel no Mundial de Kazan é patrocinada pela Finis, a melhor tecnologia para natação.