Quase 37 anos depois da primeira e única (até ontem) final masculina da nossa natação em Mundiais, o ‘menino’ Diogo Ribeiro surpreendeu (quase) todos, e desde a periférica pista 1 recordou ao mundo que já não é júnior e tem talento suficiente para se bater com os melhores (ver os melhores resultados de sempre em Portugal inicia campanha que pode ser histórica no Mundial de Fukuoka – Swimchannel)
E a marca coloca-o entre os oito melhores europeus de sempre na prova, e entre os 16 mundiais da história…Inimaginável até há pouco tempo.
Foi medalha de prata, vice-campeão do planeta, apenas a 12 centésimos do gigante Thomas Ceccon (1.97m!), e a mostrar claramente que ‘querer é poder’. A considerável diferença de alturas para o italiano (primeiro com 22.68, novo recorde nacional) e para o francês Maxime Grousset (terceiro em 22.82), e que mede 1.92, foi compensada pela atitude do pupilo de Alberto Pinto Silva: Diogo saltou com um tempo de reação de 0.58 ao sinal de partida, bem mais rápido que Ceccon (0.67) e que Grousset (0.65).
Com o francês foi como que uma ‘revanche’ (‘vingança’), pois no Europeu de Roma há um ano os medalhados foram exatamente estes três, mas com Grousset a ser segundo, à frente do atleta do CAR Jamor. Agora, inverteram-se as posições. O italiano – sobredotado, e também recordista do mundo dos 100m costas – é que não facilitou, e mantém-se invencível.
1.85m de talento e alma lusitana
Igualmente, e apesar de arriscado, acabou por lhe ser favorável nadar fora da vista dos favoritos das pistas centrais: o francês (que tinha nadado ontem em 22.74 e 22.72 e de quem se esperava mais) nadou na pista 4; o italiano na 6, Jacob Peters (GB) na 4, e Dare Rose (EUA) na 5…
Deste modo, e nesta luta David vs. Golias, os adversários não viram o ‘pequeno’ português de Coimbra (1.85m), que nadou com muita técnica, mas muito com alma e coração, realizando ainda uma chegada perfeita, que lhe permitiu bater por escassos 2 centésimos o francês, e por 4 o britânico Peters.
Melhor jovem do mundo?
Depois da ‘triple crown’ no Mundial de Juniores de setembro último (ouro nos 50m livres, 100m mariposa, e 50m mariposa, nesta com recorde mundial da categoria), e analisadas todas as prestações de jovens rapazes em todo o mundo este ano, parece-me mais que seguro afirmar que o talento do SL Benfica é à data o melhor jovem do mundo, até porque é o mais jovem medalhado (em ambos os sexos!) dos 28 atletas que já subiram ao pódio em dois dias de competição. Completa 19 anos só em 27 de outubro.
Sejamos honestos: este título será difícil de manter após o prodígio David Popovici (igualmente nascido em 2004; faz 19 anos a 15 de setembro) se atirar à água no dia 26 para os 100m livres. É que o romeno, e futuro universitário de Psicologia (anunciou recentemente), é o recordista mundial absoluto da prova desde 2022. Ainda assim, pormos quase em pé de igualdade dois talentos universais como Popovici e Ribeiro é – reconheça-se – extraordinário.
E agora Diogo?
Como se diz popularmente, ‘já não digo nada…’
Mas digo. E digo que o programa do Diogo é exigente, mas que aquele que é um dos maiores talentos do desporto português da atualidade, vai estar à altura do desafio.
Dia 26 nada as eliminatórias e – esperamos – as meias-finais dos 100m livres;
Dia 27, potencialmente a final de 100m livres;
Dia 28 as eliminatórias dos 100m mariposa e 50m livres, e (acreditamos) as respetivas meias-finais;
Dia 29, em teoria ainda pode nadar as finais dos 50m livres e 100m mariposa;
Dia 30 (oitavo e último dia do Mundial) nadará a eliminatória da estafeta lusa de 4x100m estilos, e muito muito dificilmente a respetiva final logo nessa tarde.
Resumo: faltam três provas individuais e uma de estafetas ao português; acredito claramente na presença do Diogo nas meias-finais das três provas individuais.
Quanto a finais é que ‘já não digo nada…’ Depois da prova de superação incrível a que assistimos hoje, tudo pode acontecer, e em qualquer uma das três provas.
O cansaço começará a pesar nos últimos dias (normal), podendo até pôr-se a hipótese de abdicar de uma das provas (ou meia-final) dos 50m livres ou 100m mariposa; como sucedeu, aliás, no Mundial Júnior do Peru (setembro de 2022), em que não nadou (contrariado, mas compreendendo) os 100m livres, acabando por se revelar uma decisão técnica (de Alberto Silva) mais que adequada.
Portugal entre os 12 países medalhados
Doze países já foram medalhados nestes dois dias, tendo cinco alcançado o ouro. Lideram a Austrália, seguida da China, e EUA. O nosso país segue no grupo de países com uma medalha de prata, tal como Canadá, Países Baixos e Tunísia; com um bronze estão Alemanha, Japão e N. Zelândia. Portugal entre a élite de um dos desportos individuais mais exigentes e competitivos.
As seis medalhas de Diogo Ribeiro em Europeus e Mundiais (PL)
Ano Evento Medalha Prova Marca Local
2021 CE Juniores Prata 100m M 52.54 Roma (Itália)
2022 CE Absoluto Bronze 50m M 23.07 Roma (Itália)
2022 CM Juniores Ouro 50m M 22.96 Lima (Peru) RM Júnior
2022 CM Juniores Ouro 50m L 21.92 Lima (Peru)
2022 CM Juniores Ouro 100m M 52.03 Lima (Peru)
2023 CM Absoluto Prata 50m M 22.80 Fukuoka (Japão)
A evolução de Diogo Ribeiro nos 50m mariposa
Marca pontos Data Local
22.80 931 24/7/23 (Fin.) Fukuoka
22.96 912 3/9/22 (Fin.) Lima (RM Júnior)
23.04 903 23/7/23 (MF) Fukuoka
23.07 899 12/8/22 (Fin.) Roma
23.12 893 2/9/22 (MF) Lima
23.14 891 23/7/23 (Eli.) Fukuoka
23.18 886 11/8/22 (MF) Roma