Apenas 5 meses e quatro dias após completar 17 anos Diogo Ribeiro entrou para a história da natação portuguesa pelos seus dois feitos de quinta-feira em Coimbra, de onde é natural.
Se o feito de manhã nos 100m livres foi fantástico (ver notícia anterior) – pois além de tudo obteve, ainda, o seu primeiro recorde absoluto de Portugal com 48.96 – o da final à tarde foi sublime: 48.72!
Em poucas horas o miúdo de Alberto Silva no CAR saltou da posição 32 na Europa para…o 8º lugar entre os melhores mundiais e, na final, para o 5º posto planetário!
E vejam o que me disse o ‘torpedo’ de Coimbra ao final do dia: “Quando vi o tempo de manhã e o da tarde fiquei emocionado, mas não queria chorar com pessoas a ver… então quando cheguei à mochila lá soltei umas lágrimas…”
E continuou dizendo: “senti que era o sinal que precisava para voltar a mentalizar-me que ainda consigo”. E porquê esta ‘dúvida’? Diogo recorda-nos que a sua vida poderia ter sido bem diferente a partir do verão passado: “as pessoas por trás não sabem, ninguém sabe… só a nossa “equipa” sabe o quão difícil foi, e o que passámos depois do meu acidente [de mota] para voltar a estar nesta excelente forma…; mas eu não vou comemorar já; cabeça para cima e [esta prova] já passou; foco nos próximos três dias porque ainda não acabou.”
Mas esperavas atingir tanto num dia apenas? “Sim, estava no plano dos meus treinadores e meu, mas acho que foi um dia melhor do que estava à espera; estou bastante contente, mas com vontade de fazer mais e melhor”, afirmou com confiança.
Palavras à campeão que também se sabe emocionar, e demonstra coragem e maturidade para o assumir.
Mínimo para o Mundial de Budapeste
E se a marca matinal já lhe dava mínimos para três grandes competições (Europeu de Roma, Europeu Júnior e Mundial Júnior), à tarde foi mesmo a cereja no topo do bolo. Diogo sagrou-se campeão absoluto de Portugal pelo seu SL Benfica com um novo mínimo para os Mundiais de Budapeste (natação de 18 a 25 de junho), sendo agora o terceiro melhor europeu numa das provas mais competitivas, e considerada a prova-rainha dos grandes palcos mundiais. E o sonho de Paris 2024 parece cada vez mais realidade.
Líderes do ranking mundial 2022
- Hwang Sunwoo (KOR), 48.42
- Lewis Burras (GBR), 48.45
- David Popovici (ROU, jún.), 48.50
- Katsuo Matsumoto (JPN), 48.57
- Diogo Ribeiro (POR, jún.) 48.72
- Alessandro Miressi (ITA), 48.84
- Maxime Grousset (FRA), 48.87
- Breno Correia (BRA) 48.92
Naquela que terá sido a final mais rápida de sempre em Campeonatos de Portugal, Miguel Nascimento (SLB) sagrou-se vice-campeão atrás de Diogo, com 49.07, a escassos cinco centésimos do mínimo para Roma ’22, entrando no top 5 europeu do ano, provável top 10 mundial.
Bruno Ramos (CF Os Belenenses) foi 3º em 50.83, e Tiago Costa (Sporting) 4º lugar com apenas mais três centésimos. Seguem-se 5 atletas abaixo dos 52 segundos, numa final disputadíssima, e que tinha os olhos postos numa possível estafeta no Europeu.
Tamila faz mínimos para o Mundial e Europeu
O primeiro de quatro dias no Centro Olímpico de Piscina Municipais registou finais muito disputadas, que deram mais mínimos e recordes. A luso-ucraniana Tamila Holub demonstrou estar de volta à forma, ao bater as colegas da equipa olímpica em Tóquio 2021, Diana Durães e Angélica André. A nadadora do SC Braga foi primeira classificada aos 1500m livres em 16:28.19, entrando para o top 5 europeu e top 10 mundial à data.
Mas, mais importante foi ter obtido os mínimos para o Mundial na Hungria e para o Europeu em Itália, este curiosamente mais exigente (16:28.47).
Catarina também apurada para Roma
A semifinalista olímpica em Tóquio cumpriu o que se esperaria, após regressar quase na plenitude aos treinos, alguns meses após a cirurgia ao apêndice em outubro último.
Venceu os 200m mariposa em 2:10.84, cumprindo os 2:11.00 para Roma, e subindo ao top 5 europeu.
Luta muito interessante para a prata e bronze, com Mariana Cunha (Colégio Efanor) a vir de trás para a frente e a conseguir ultrapassar ‘in extremis’ Inês Henriques (Sporting) por 35 centésimos (2:14.40).
José P. Lopes (SC Braga) também teve prova muito disputada nos 1500m livres, vencendo em 15:37.28, apenas menos 21 centésimos que o jovem especialista de águas abertas Diogo Cardoso (Sporting).
Os 50m costas proporcionaram duas grandes finais em ambos os sexos. Em femininos Rafaela Azevedo (CAR/Algés e Dafundo) obteve a marca mais pontuada do setor (terceira entre os dois géneros), com 851 pontos pelos 28.46 que lhe deram a vitória, renhida, sobre Camila Rebelo (Louzan, Coimbra) em 28.82.
Em masculinos o duas vezes olímpico Alexis Santos (Sporting) quase batia o jovem em ascensão do Vitória de Guimarães João N. Costa, numa final emocionante e com os primeiros quatro a nadar em 25 segundos: João foi 1º em 25.51, Alexis segundo em 25.66, e os olímpicos Gabriel Lopes (Louzan) e Francisco Santos (Sporting) a terminarem separados por 14 centésimos: 25.80 e 25.94.
Diogo Cancela bate recorde europeu!
Destaque final para o jovem paralímpico do Louzan, Diogo Cancela, que nos 200m mariposa, classe S8, obteve nada menos que um novo recorde da Europa! Parabéns ao Diogo, que nadou a prova em 2:22.35; bom presságio para os Mundiais de natação adaptada que a Madeira recebe em junho deste ano.
A (não) comunicação da FPN
Não posso deixar de lamentar a paupérrima comunicação da Federação Portuguesa de Natação. Num dia que foi um dos mais produtivos e alegres da natação portuguesa em muitos anos, com um jovem de enorme potencialidade, já vice-campeão europeu júnior, a obter ‘tão só’ a segunda melhor marca mundial júnior, terceira europeia e quinta mundial absoluta, a FPN não percebeu o valor da marca que tinha em ‘mãos’ e não a soube ‘vender’ aos media, mais uma vez (por isso não vemos natação nos media lusos como vemos outras modalidades, por vezes com resultados de menor destaque).
O Instagram da FPN até à hora de fecho desta notícia (01h de Lisboa) ainda não tinha feito qualquer publicação sobre a marca de Diogo na final, ainda melhor que a primeira. O Facebook da FPN só perto das 13h publicou a notícia do primeiro recorde, e sobre o segundo só quase às 21h…e comunicado por email à imprensa, com as esperadas declarações dos ‘heróis’ do dia, técnicos, estatísticas, etc? Zero.
Ora isto não faz qualquer sentido do ponto de vista estratégico; a FPN contratou um dos melhores treinadores do mundo e a sua equipa de reconhecidos especialistas para ‘mudar o paradigma da natação portuguesa’, conforme anunciado; esta equipa técnica, que treina Diogo e mais 12 atletas de élite no Centro de Alto Rendimento da FPN no Jamor começa a obter os desejados resultados de ponta a nível internacional, mas a FPN não os dá a conhecer, ou seja, não divulga e promove o retorno do enorme investimento material e humano feito…
Recordo que em janeiro de 1986, quando me iniciei com 17 anos e ainda nadador a escrever no extinto Diário Popular, as condições e acompanhamento à imprensa eram inexistentes; não mudaram muito nas décadas seguintes; mas hoje, com a facilidade de tecnologia e conhecimento disponível é inexplicável que não haja uma estratégia de comunicação para as modalidades aquáticas, que em vésperas de Mundiais ou Europeus, p.e., não apresentam um dossier de imprensa das seleções, com biografias de atletas, técnicos, etc.
Não me alongo, mas será que também é necessário ir buscar ao estrangeiro um jornalista ou especialista em comunicação? É que o ‘paradigma da comunicação’ está claramente por mudar.
Nuno….completamente em desacordo contigo