Este fim de semana aconteceu mais uma etapa do Campeonato Brasileiro de Águas Abertas no Tocantins. Sem presença do quarteto Ana Marcela Cunha, Allan do Carmo, Viviane Jungblut e Fernando Ponte que nadou a última etapa da FINA Marathon World Series na China, as vitórias foram de Betina Lorscheitter e Victor Colonese. Porém, o quarto colocado na prova de 10 km em Palmas (e segundo nos 5 km) foi um nadador especialista em ultramaratonas e que vem se dedicando a distância olímpica visando retornar a seleção brasileira: Matheus Evangelista.
O nadador gaúcho, membro do Grêmio Náutico União, esta na elite da natação de águas abertas há muito tempo. Foi campeão nacional em diversas categorias de base e sagrou-se vencedor em 2010 do Campeonato Brasileiro absoluto da modalidade aos 17 anos, sendo até hoje o mais jovem a conseguir o feito. Desde então integrou diversas equipes da seleçãoe tornou-se um dos brasileiros com mais participações em eventos da FINA com destaque para o Ultramarathon World Series, circuito mundial da entidade que reúne provas acima de 10 km de distância. Ele é inclusive o único brasileiro entre os homens a conquistar medalhas no circuito somando dois pódios na etapa de Ohrid Lake na Macedônia (prata em 2015 e bronze em 2016).
Acostumado a nadar provas acima de 30 km o atleta agora colocou os 10 km como objetivo. O motivo é o Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de Gwangju. Matheus pretende conseguir um bom resultado na seletiva para a competição e voltar a integrar a seleção brasileira. “Este ano voltei minha atenção para esta distância justamente para buscar um espaço na seleção que vai ao Mundial. É o meu objetivo e principal foco de treinamento”, conta o atleta que já esta se preparando para a seletiva que será em dezembro, na Bahia.
Mas mesmo tendo a distância olímpica na mira, Matheus resolveu nadar uma prova de ultramaratona na temporada como forma de preparação. E a escolhida foi a famosa Travessia Capri-Nápoli, um evento que ele conhece como poucos. Até porque, Matheus já nadou em águas italianas oito vezes e tem como melhor resultado a 5ª colocação em 2015 e 2016.
‘Ela é a prova mais importante do mundo em ultramaratonas, tendo uma distância equivalente a do Canal da Mancha. A diferença é que a Capri-Nápoli é uma competição e o Canal da Mancha um desafio. Na prova italiana a navegação é uma das coisas mais difíceis, que fazem com que o atleta tenha que se superar a todo instante. Na prova deste ano nadei durante muito tempo entre os melhores colocados, mas havia nadadores fazendo uma outra rota a cerca de 500 metros distantes de mim. Nem meu barco guia conseguia avistá-los! Essa é uma das particularidades dessa prova mágica e muito dura”, conta Matheus que terminou os 36 km da travessia em sexto lugar em 7h05min33s.
Mas não é a apenas a navegação a maior dificuldade que um nadador encontra na Capri-Nápoli. “Esta é uma travessia complicada de nadar porque normalmente não se vê nada a frente. A margem é muito longe e até dá para se ver a cidade bem longe, mas é muito difícil de identificar alguma coisa. O vento, o mar pesado e o clima quente também são alguns obstáculos que enfrentamos e é muito comum ver atletas nadarem sozinhos e não em pelotão”, afirma o nadador.
Além da travessia em águas italianas, Matheus esteve no Canadá onde nadou duas etapas da FINA Marathon World Series em Roberval e em Lac Mégantic conseguindo bons resultados. Outro desafio do nadador foi a prova Desafio da primeira etapa do Circuito VIVA RS onde as péssimas condições climáticas foram ótimas nas palavras do atleta. “Queria pegar uma condição climática adversa como forma de treinamento e acabei dando sorte com o tempo ruim. Meu objetivo era fazer um treino mais difícil possível e deu certo”, revela o nadador que venceu os 2,5 km e lidera o circuito.
Amante do mar e do estilo de vida que as águas abertas proporcionam, Matheus é hoje um dos principais atletas do Grêmio Náutico União, principal clube do país na modalidade. Uma tradição que vem passando de geração a geração. “Quando era garoto me inspirava nos feitos do Carlos Pavão, Guilherme Bier, Marcelo Romanelli e do Fabio Lima que eram sempre celebrados no clube. Hoje a minha geração é quem vem inspirando as novas gerações e que faz com que o clube continue sempre forte nas águas abertas”.