Com o término do Troféu Maria Lenk, seletiva para o Mundial de Budapeste, no último sábado, a sensação geral, mais do que de entusiasmo, foi de alívio.
Sim, alívio. Após o turbilhão que atingiu a CBDA no fim do ano passado e início deste, era difícil saber o que esperar.
Ainda mais após o desempenho abaixo das expectativas da equipe como um todo nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
(Obs.: quando nos referimos a “desempenho abaixo das expectativas da equipe”, obviamente sabemos que houve performances individuais que tiveram destaque positivo. O objetivo aqui é fazer a análise de um contexto geral, sem focar em fulano ou ciclano).
Coach Alex Pussieldi, em seu Blog do Coach, muito apropriadamente descreveu o que foi trazido à comunidade aquática com os resultados da competição: esperança.
Ao final do Maria Lenk, foram oito atletas que conseguiram tempos que lhes classificariam para finais olímpicas em 2016.
Mais do que foi efetivamente conseguido – foram oito finais, mas seis em provas individuais.
São eles: Bruno Fratus e Cesar Cielo nos 50m livre, Gabriel Santos nos 100m livre, Henrique Martins nos 100m borboleta, Leonardo de Deus nos 200m borboleta, Felipe Lima e João Gomes Júnior nos 100m peito e Brandonn Almeida nos 400m medley.
Tal sensação de alívio deu a impressão de que este foi um dos melhores, senão o melhor, Troféu Maria Lenk dos últimos anos.
Ao menos em termos internacionais, não foi.
É só comparar com o Troféu Maria Lenk do ano passado.
Na ocasião, foram 17 performances que terminariam o ano anterior no top 20 do ranking mundial, sendo 5 delas no top 10.
Dessa vez, foram 8 performances que terminariam 2016 no top 20 do mundo, sendo apenas 2 no top 10 (Bruno Fratus nos 50m livre e Leonardo de Deus nos 200m borboleta).
Lembremos que terminamos o Maria Lenk de 2016 com uma sensação de que havia sido uma boa competição, mas que esperávamos mais.
Agora, o sentimento foi bem diferente. Foi de uma competição melhor que esperávamos.
Apesar de, no geral, ter tido resultados menos relevantes dos que observados há um ano.
E tudo por causa daquilo que chamamos de expectativa.
Seguem alguns exemplos.
Em 1996, o Brasil conquistou três medalhas nos Jogos Olímpicos de Atlanta.
Em 2000, em Sydney, veio uma medalha de bronze.
A campanha foi considerada insatisfatória. Mesmo considerando que, em todos as Olimpíadas que o Brasil havia saído com medalhas até então na natação, somente em 1996 veio mais que um pódio.
Em todas as outras, ou era uma medalha, ou nada.
A expectativa gerada por 1996 gerou a sensação de frustração em 2000.
Em 2004, em Atenas, nenhuma medalha. Em 2008, em Pequim, três medalhas, incluindo uma medalha de ouro, e a sensação de euforia.
Em 2012, Cesar Cielo conquistou um bronze nos 50m livre e saiu frustrado. Agora esqueça o ouro de 2008 nos 50m livre. Se, em Pequim, Cesar tivesse saído apenas com o bronze nos 100m livre, muito comemorado, obviamente a alegria não teria sido tanta como a que vimos com a conquista nos 50m livre. Mas passaria longe da frustração de 2012.
De novo, a história do peso da expectativa.
Foi o que ocorreu no Troféu Maria Lenk deste ano.
Voltamos nossas mentes para o que acontecia na política no início deste ano, e ficamos um pouco sem saber o que esperar dos nadadores.
Com o desempenho abaixo do esperado nos Jogos Olímpicos em termos gerais, os resultados no Maria Lenk nos surpreenderam positivamente.
Caso exatamente os mesmos resultados tivessem sido observados há um ano, a sensação não teria sido muito boa.
Este é um dos desafios para os nadadores da seleção brasileira nos próximos anos: corresponder às expectativas no momento que mais se espera deles.
Nos Jogos Olímpicos de 2012 e 2016, à parte das medalhas conquistadas, os desempenhos das seleções foram parecidos: cerca de 70% de pioras de marcas em provas individuais.
Pela expectativa gerada após bons ciclos olímpicos, os resultados gerais não deixaram impressões tão boas quanto era esperado, em ambas as Olimpíadas.
Lembremos que nem as potências escapam.
No Mundial de 2015, os Estados Unidos tiveram resultados bem abaixo do que esperavam.
Nos Jogos Olímpicos de 2016, foi a vez da Austrália não corresponder às expectativas.
Uma observação: se, em termos internacionais, houve uma ligeira piora no Maria Lenk deste ano em comparação com o de 2016, houve uma evolução em relação à competição de 2013, a exemplo da de agora realizada também em ano pós-olímpico.
Naquela ocasião, em 5provas nadadores brasileiros teriam conquistado vagas em finais olímpicas no ano anterior.
Agora, desta vez, como já citamos, foram 8.
Em 2013, 6 performances seriam top 20 do mundo ao final do ano anterior.
Agora, como já citado, foram 8.
A natação brasileira continua viva e cheia de energia. E em evolução.
A questão é buscar um equilíbrio entre expectativa e desempenho.
O que fazer para daqui quatro, oito, doze anos, o Brasil tenha desempenhos olímpicos que leve a uma sensação de cumprimento de uma expectativa, ao contrário do sentimento geral de 2012 e 2016?
Esse é um tema para reflexão.