As notícias de rodapé na maioria dos canais de TV irão escrever “Diogo Ribeiro e Camila Rebelo falham a final no Campeonato do Mundo”…
Talvez até alguns até possam afirmar que “o vice-campeão do mundo dos 50m mariposa não conseguiu hoje melhor que um 13º lugar, tanto nos 100m mariposa como nos 50m livres…” Tudo isso é verdade; mas os números, como as estatísticas, têm de ser interpretados, explicados, contextualizados. É isso que tentamos fazer no projeto Swim Channel.
E Diogo tinha obrigação de ter feito melhor nas quatro vezes que nadou esta sexta-feira? Não. A não ser que tivesse esse compromisso com ele próprio e com a sua equipa técnica.
Não sou – nunca fui, ao longo de décadas de jornalismo, e por isso quantas vezes criticado – de desculpabilizar resultados menos bons e aquém das expectativas. Mas é importante compararmos os objetivos e expectativas iniciais versus resultados.
Então vamos a isso, analisando as quatro provas individuais do campeão luso, que ontem completou 18 anos e nove meses:
Prova Elimin. M. Final Final Lugar ‘start list’ Lugar final Paris ‘24
50m M 23.14 23.04 (8 c.) 22.80/RN 8º Prata —
100m L 48.21 48.13 (15c.) — 17º 10º 48.34
100m M 51.57 51.54 (9c.) — 15º 13º 51.67
50m L 22.05 22.03 (16c.) — 17º 13º 21.96
A conclusão parece fácil: Diogo Ribeiro melhorou as suas marcas todas as cinco vezes que se lançou à água em meias-finais ou na final, ao longo de seis dias de Mundial, algo extremamente difícil de alcançar, cumprindo ainda os mínimos olímpicos quatro vezes (a sublinhado).
É verdade que só bateu um recorde nacional, e quereria ter melhorado nas restantes vezes; ainda assim os escassos centésimos a que ficou destes máximos lusos (que são todos seus) demonstram uma taxa de sucesso muito grande (entre parêntesis os centésimos a que ficou dos recordes).
E quando lhe falta apenas nadar os 100m mariposa na estafeta nacional de 4x100m estilos (domingo, com um recorde nacional quase garantido), podemos começar a escrever as conclusões desta sua estreia em Mundiais absolutos, o que publicarei após Fukuoka 2023 terminar.
O benfiquista e atleta-estudante no CAR Jamor, conseguiu em seis dias algo que só outro gigante da modalidade em Portugal tinha conseguido: estar em quatro meias-finais (não ‘apenas’ no top 16 de provas sem meias-finais, o que não deixa de ser diferente ao nível da exigência).
José Couto teve 4 ‘meias’
Mas esse atleta, José Couto, precisou de duas edições de Mundiais de longa para atingir esse quarteto de meias-finais: uma meia-final em Perth ’98, pelo Sporting (técnico: Carlos Cruchinho), e três boas meias-finais em Fukuoka ’01, pelo CN Amadora (técnico: Filipe Coelho).
O tempo que decorreu entre as meias-finais dos exigentes 100m mariposa de Diogo e os hiper-explosivos 50m livres não ajudou, é um facto. Mas isso não era novidade, o programa era conhecido há meses. Nadou o hectómetro às 12h12 e a prova de livres às 12h43; menos de meia hora entre a saída de uma prova, alguma recuperação ativa na piscina de 50 metros adjacente ao ‘Marine Messe Hall’, a intervenção muito importante do fisioterapeuta Daniel Moedas, e presença na câmara de chamada da segunda prova.
A vida de um campeão é assim, e não mudará muito no Mundial de longa em Doha (Catar) em fevereiro próximo, a não ser que – começando a focar-se totalmente na ‘missão Paris 2024’ – até pondere abdicar dos ‘seus’ não olímpicos 50m mariposa (e das três vezes que por certo os nadaria em Doha), para se focar totalmente nos 50m livres, e em especial, acredito, nos 100m livres e 100m mariposa, as suas grandes esperanças olímpicas.
Exemplos: o 8º apurado para a final de Fukuoka a livres fez 48.06, e a mariposa 51.17.
Camila cumpriu
Camila Rebelo cumpriu bem o seu objetivo de ser apurada para a meia-final dos 200m costas, sendo a 15ª melhor das eliminatórias em 2:11.80 (6ª marca da carreira e segunda melhor do ano), uma marca arriscada, ficando o apuramento (16º = 2:11.94) longe do 16º tempo de entrada inicial, 2:10.19.
À tarde, já noite no Japão, piorou para 2:12.47, ficando mais longe do seu grande recorde nacional e mínimo olímpico de 2:09.84, sendo que a oitava e última apurada para a final fez 2:09.74.
Depois do recorde pessoal nos 50m costas, e de ficar a seis décimos do seu recorde de Portugal nos 100m costas, confesso que esperava um pouco mais da talentosa jovem da Louzan.
Miguel e Tamila abaixo do esperado
Não há outra forma de o dizer, até porque está à vista de todos: as marcas de hoje dos incríveis atletas que são Tamila Holub e Miguel Nascimento ficaram aquém do esperado, a começar pelos próprios, não tenho dúvidas. ‘Mike’ cumpriu os 50m livres em 22.38 (34º lugar), bem afastado do seu recorde pessoal e mínimo para Paris de 21.90.
Se se aproximasse do seu melhor o benfiquista entraria nas ‘meias’, talvez sacrificando Ribeiro, que foi o 16º em 22.05.
Já a bracarense Tamila nadou os 800m livres em 8:42.90, sendo que esta época já tinha como melhor a marca de 8:33.96, em maio. Acabou por ser 25ª classificada.
O ucraniano Andrii Govorov (Vitória SC) foi 25º lugar nos 50m livres em 22.18.
Francisca Martins recordista
Nas piscinas de Coimbra, onde hoje se iniciaram os Nacionais de Juvenis, Juniores e Seniores/Open de Portugal, a jovem Francisca Martins nadou e venceu os 100m livres em 56.21, um novo recorde de Portugal melhor que os 56.25 da própria a 3 de maço último, nos Nacionais no Funchal.
A sua marca lidera como a mais pontuada (778 p.), sendo os 4:23.80 de José P. Lopes (SC Braga) nos 400m estilos a melhor marca masculina (789 p.).
João Costa – 50m costas
Esta madrugada Portugal nada a sua última prova individual do Mundial, dada a ausência por lesão de Ana P. Rodrigues nos 50m livres e 50m bruços.
João Costa – 50m costas – eliminatória às 03h03; ‘meias’ às 13h06 (5ª série em 7; pista 9)
RNA: 25.28 (A. Santos ’21); MM Ano: 25.55 (30/3/23); M. Olímpico: não é prova olímpica
Na ‘start list’ inicial:
Lugar Prova Marca Atleta 16ª Marca
32º 50m C 25.51 (R.P.) João Costa (VSC) 24.93