Ontem publicamos aqui na SWIM CHANNEL uma entrevista que a campeã olímpica Ariarne Titmus concedeu ao site do Prêmio Laureus. Na conversa ela fala sobre a Olimpíada de Tóquio e o futuro, inclusive o Mundial de Budapeste. Quem não esta ansioso para ver novamente ela duelar contra Katie Ledecky não é mesmo? Pois é, mas esse duelo vai ter que esperar mais um tempo. Tudo isso porque Titmus não deverá disputar a competição na Hungria para focar em um outro evento: os Jogos do Commonwealth de Birmingham. Mas porque abrir mão de um Mundial em prol de um evento menor? A resposta é a tradição.
A primeira edição do Commonwealth ocorreu em 1930, há quase cem anos, em Hamilton, no Canadá. Ela foi realizada após um evento-teste esportivo bem sucedido em 1911, durante o Festival do Império Britânico em Londres para celebrar a coroação do Rei George V. Naquela ocasião atletas de Austrália, Canadá, África do Sul e Reino Unido competiram em quatro modalidades (boxe, lutas, natação e atletismo) para mostrar a força e poderio do Império, que era até então maior potência do mundo.
Após a primeira edição em 1930, a competição tornou-se popular, adotou novas modalidades e foi sendo realizada sempre de quatro em quatro anos, nos anos pares alternando com os Jogos Olímpicos. O campeonato só não aconteceu em 1942 e 1946 devido a II Guerra Mundial. Inicialmente apenas países membros do Império e que tinham a realeza britânica como chefe de Estado podiam disputar a competição, mas com o passar dos anos ela foi se expandindo até adotar o nome e formato atual.
Atualmente os Jogos da Commonwealth reúnem todos os membros da Commonwealth of Nations, (Comunidade de Nações em português), que é uma organização intergovernamental composta por 54 países-membros independentes que já fizeram parte do Império Britânico em algum momento da história. As exceções são Moçambique e Ruanda, ex-colônias de Portugal e Bélgica, respectivamente, que foram aceitas no grupo nos últimos 30 anos.
Por ser disputado há quase um século e ter prestígio entre a comunidade esportiva do país, os australianos dão muito valor a competição. Inclusive, a Austrália é o país que mais vezes sediou o evento ao lado do Canadá: cinco edições cada um. O país é também o maior medalhista da história dos Jogos com 2415 medalhas conquistadas, sendo 932 de ouro, 774 de prata e 709 de bronze. Inclusive, desde a edição de Manchester-2002 a natação paralímpica passou a fazer parte do programa de provas e a Austrália, que conta muitos bons paraatletas, também costuma dominar as disputas.
Todos os grandes ídolos da natação australiana disputaram e têm marcas históricas no evento. Dawn Fraser, oito vezes medalhista olímpica, ganhou quatro medalhas de ouro na edição de Perth-1962. Grant Hackett, um dos maiores fundistas de todos os tempos, foi oito vezes medalhistas. E Ian Thorpe bateu o recorde mundial dos 400m livre na edição de Manchester-2002 com o incrível tempo de 3min40s08 (assista abaixo). O Thorpedo ainda subiu ao pódio 11 vezes na história dos Jogos.
Além de Titmus outras estrelas da natação australiana não vão competir em Budapeste esse ano para nadar em Birmingham. Emma Mckeon, maior medalhista dos Jogos Olímpicos de Tóquio com sete medalhas, e Kyle Chalmers, campeão olímpíco dos 100m livre no Rio-2016 e vice em Tóquio-2020, já disseram que não irão a Budapeste. Já Kaylee Mckeown, campeã olímpica dos 100m e 200m costas, deve nadar as duas competições,
Tanta tradição e conquistas marcantes fazem com que os australianos muitas vezes coloquem os Jogos do Commonwealth à frente de outros eventos internacionais e no mesmo patamar do Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos da FINA, que foi realizado pela primeira vez apenas em 1973. E devido ao caótico calendário de evento, bagunçado pela pandemia e mudança de datas, os Jogos serão realizados quatro semanas após o Mundial. Nadar as duas competições é possível, mas se os australianos tiverem que privilegiar um evento esse serão os Jogos do Commonwealth.