A tradicional Travessia da Volta da Ilha de Manhattan completou 105 anos neste mês. A prova, conhecida por seus 45,9 km de extensão possui muita história e desafios e durante anos chegou a valer dinheiro como premiação. O desafio consiste em superar marés fortes, fluxos de três rios, tráfego de barcos e dois locais complicados chamados Hells Gate e Spuyten Duyvil (traduzido do holandês como redemoinho do Diabo). Mesmo os navios de cruzeiro que passam pela ilha não conseguem dar a volta completa devido às marés.
Muito antes das primeiras provas, a água atraiu todos os tipos de aventureiros. Um sujeito chamado Steve Brodie em 1886, por uma aposta de US$ 200, pulou da ponte do Brooklyn. Na época, o mergulho foi notícia de primeira página no New York Times e ele foi preso. No ano seguinte, Paul Boyton completou uma prova de seis dias no rio Hudson, através de blocos de gelo flutuantes em seu famoso “mergulho de imersão”. O feito chamou atenção e uma multidão ficou as margens do rio para testemunhar o fim do seu desafio. Oito anos depois, a dragagem conectou os rios Harlem e Hudson, tornando possível uma viagem marítima ao redor de Manhattan.

O primeiro atleta a completar o percurso a nado foi Robert Dowling em 1915. Após o desafio ele se tornou um rico empresário e filantropo, doando parte do dinheiro do prêmio que ganhou pela travessia para uma faculdade da cidade e liderou esforços para melhorar a vida dos afro-americanos como presidente da National Urban League e diretor do Negro College Fund.
Em 1975 a nadadora Diana Nyad, a mesma que nadou de Cuba a Flórida, estabeleceu um novo recorde do percurso com 7h57min e chamou a atenção do público, que mudou sua percepção sobre a qualidade da água em Manhattan. Na época muitos não sentiam-se seguros a nadar na ilha e novas leis ambientais começaram a ser criadas para valorizar o local.
Desde então a prova cresceu e centenas de pessoas passaram a se aventurar no local. Nasceu então o Manhattan Island Marathon Swim (MIMS), criado em 1982 pela Manhattan Island Swimming Association que passou a organizar a prova. De 1992 a 2015, o MIMS foi organizado pela NYC Swim. Hoje, a prova continua sendo uma das maratonas mais populares do mundo e, junto com as travessias do Canal da Mancha e do Canal de Catalina, formam a Tríplice Coroa da Natação em Águas Abertas que foi concluída por menos de 250 nadadores.

Alguns dos destaques da prova são Kris Rutherford e Jaimie Monahan. Rutherford completou a primeira prova no sentido horário, que leva mais do que o dobro do tempo contra o fluxo do rio Hudson e se tornou o “Rei de Manhattan” com 23 travessias concluídas. Já Monahan nadou pela primeira vez a prova em quatro percursos (duas ida e duas volta) e é a “Rainha de Manhattan” com 27 provas realizadas.
Cinco ultramaratonistas brasileiros já nadaram a prova sendo eles. Igor de Souza foi o único que chegou a vencer a prova em 2001. Ele ainda nadou as edições de 1991, 1994 e 1998. Samir Barel completou a prova em 2014 e é um dos poucos nadadores do mundo a concluir a Tríplice Coroa das águas abertas. Também realizaram a travessia em Manhattan Dailza Ribeiro em 1995, Alessandra Rossi e Luiz Pradines ambos em 2019. Para saber mais detalhes sobre a prova, clique aqui.