Essa é uma história de dois nadadores que tinham tudo para não se bicarem.
Na noite de 26 de abril de 2012, João Gomes Júnior não deve ter tido bons sonhos com Felipe Lima. Pelo contrário.
Naquele dia, João chegou ao Troféu Maria Lenk com o segundo tempo dos 100m peito, 1min00s40, obtido no Open no final de 2011. O melhor tempo era de Felipe França, com 1min00s01. Se ninguém melhorasse as marcas, seriam os dois os representantes brasileiros na prova nos Jogos Olímpicos de Londres.
Mas Felipe Lima, que vinha de 1min00s46, melhorou. E, com 1min00s11, garantiu sua vaga olímpica.
Por causa daquele tempo de Felipe, João teve que assistir à Olimpíada pela televisão.
Exatos quatro anos depois, no dia 15 de abril de 2016, o cenário era parecido.
João chegava ao Troféu Maria Lenk balizado com o segundo tempo, 1min00s00, atrás do 59s56 de Felipe França, e à frente do 1min00s09 de Felipe Lima.
Caso se mantivessem os tempos, França e João se classificariam para a Olimpíada do Rio de Janeiro.
Mas Felipe Lima havia feito 59s78 no Maria Lenk de 2015 e havia sido medalhista de bronze na prova no Mundial de 2013. Feitos que muitos o faziam ser considerado o favorito à vaga olímpica.
Afinal, João nunca havia nadado abaixo de 1min00s.
Mas João conseguiu. Nadou para 59s06 no Maria Lenk e carimbou a vaga, ao lado de França.
Naquela noite, foi Felipe Lima quem teve pesadelos com João Gomes.
Ou seja, os dois jamais representaram o Brasil em uma mesma Olimpíada.
Como o mundo dá voltas, se encontraram nadando as mesmas provas no Mundial de Budapeste.
Isso já havia ocorrido no Mundial de 2013. Na ocasião, quem se consagrou foi Felipe Lima, com um bronze nos 100m peito.
Agora, foi a vez de João. Prata nos 50m peito, sua primeira medalha individual em nível mundial com recorde das Américas.
Felipe passou perto. Quarto lugar, 18 centésimos da medalha de bronze.
Ao final da prova, trocaram um abraço apertado.
Fora da piscina, eram só sorrisos. João enaltecia Felipe por ser uma inspiração, e Felipe nem parecia chateado por ficar fora do pódio tamanha a alegria com a conquista de João.
Se pudesse, João levaria Felipe ao pódio e dividiria com ele a medalha de prata.
Essa é a história de dois nadadores do mesmo país que duelam no mais alto nível internacional.
Um já teve o sonho de disputar o maior evento esportivo do mundo alijado pelo outro.
E, ao contrário de todos os prognósticos, continuam amigos e torcendo pelo outro, mesmo quando nadam a mesma prova.
Movidos pela rivalidade e pela amizade, não param de evoluir e, com mais de 30 anos, nadam mais rápido do que jamais fizeram.
Quem disse que natação precisa ser um esporte individual?
Por Daniel Takata