O nadador paralímpico francês Philippe Croizon foi o primeiro amputado de todos os quatro membros a atravessar o Canal da Mancha, a travessia mais desafiadora das águas abertas do mundo. Croizon concluiu a prova de 34 km de extensão em 13 horas e meia no dia 19 de setembro de 2010.
Aos 42 anos na época, ele enfrentou a travessia com a ajuda de nadadeiras e pensou antes de entrar na água que completaria a prova em mais de 24 horas. O francês não possui as pernas e os braços que tiveram de ser amputadas após um acidente de trabalho.
O ano era 1994 e Croizon trabalhava como metalúrgico. Ao subir em uma escada para desmontar uma antena de televisão ele tocou em uma linha de energia e levou um choque de quase 20.000 volts. A descarga elétrica quase o matou e causou ferimentos gravíssimo em seu corpo que culminaram na remoção de seus braços e pernas.
No hospital, ele assistiu a um documentário de TV sobre nadar no Canal da Mancha e transformou isso em seu objetivo de vida. Passou dois anos aprimorando sua técnica de natação ficando cerca de 30 horas por semana na piscina, treinando na costa atlântica da França.
“Fiz isso por mim, pela minha família e por todos aqueles que sofreram tragédias e perderam o gosto pela vida. Eu fiz isso! É uma loucura!”, comentou eufórico após a prova em 2010.
Croizon nadou usando nadadeiras compridas presas aos cotovelos das pernas, com acessórios nos braços que o ajudaram a controlar uma máscara e um snorkel para respirar. O método que ele usa para nadar permite que ele calcule a média de duas milhas por hora (cerca de 3,2 km/h). No dia de sua travessia, o vento estava favorável e o nadador foi acompanhado por golfinhos ao longo do trajeto. “Levamos isso como um sinal de boa sorte”, disse na época.
Ao chegar na França ele recebeu um telefonema da ministra francesa do Trabalho, Nadine Morano, que elogiou sua coragem exemplar e desempenho esportivo. “Foi demonstrado que é possível superar suas deficiências e ter a determinação de realizar seus sonhos. Philippe Croizon é um exemplo brilhante que fornece uma mensagem de esperança e bravura para todos os franceses e jovens do nosso país”, comentou a ministra na época.
Em abril de 2012, Croizon anunciou um novo projeto: nadar quatro estreitos que separam cinco continentes acompanhado pelo nadador de ultramaratonas e compatriota Arnaud Chassery. Porém, a dupla só nadou três trechos.
Croizon completou a primeira prova, ligando a Austrália e a Ásia em maio de 2012 quando nadou 20 km entre Papua Nova Guiné e a Indonésia em sete horas e meia. Em junho do meso ano atravessou o Mar Vermelho do Egito à Jordânia que totalizou uma distância de 19 km em cerca de 5 horas.
Em seguida veio a Travessia do Estreito de Gibraltar em julho. Os dois franceses completaram o percurso de 14 km entre a cidade espanhola de Tarifa, Espanha e Tânger no Marrocos em pouco mais de cinco horas.
Croizon e Chassery realizaram ainda a travessia no Estreito de Bering, na Ilha Little Diomede até Russian Big Diomede em agosto de 2012. Eles completaram o desafio de 4,3 km em 1 hora e 20 minutos. A névoa densa e correntes fortes adicionaram tempo e distância à viagem com a água beirando 4ºC de temperatura.
Hoje Croizon é tido como um grande exemplo de superação, tendo escrito uma autobiografia, sendo palestrante motivacional e participando de diversos eventos na França. Em 2017 ele disputou o famoso Rali Dakar (antigo Paris-Dakar) em um carro adaptado e concluiu a prova na 48ª colocação.
Mais detalhes sobre Croizon podem ser encontrados neste artigo do “The Guardian”.