Por Thiago Medeiros Rodriguez *
Desde o dia em que o ex-nadador americano Michael Phelps apareceu com o corpo marcado por ventosas nas Olimpíadas do Rio em 2016 a natação nunca mais foi a mesma. Esta semana, quase 8 anos depois, enquanto assistia o Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos em Doha, observei que alguns nadadores ainda são adeptos das ventosas. E por isso escolhi o assunto para a coluna desta semana.
As ventosas são originalmente parte da medicina tradicional chinesa. Segundo a medicina oriental elas são aplicadas sobre pontos dolorosos ou pontos de acupuntura para mover toxinas acumuladas nestes pontos. De acordo com essa teoria, quanto mais escuro o hematoma formado pela ventosa, maior a concentração de toxinas no local.
Na visão ocidental funciona um pouco diferente. As ventosas geram inicialmente um bloqueio do fluxo sanguíneo local e lesões de pequenos vasos superficiais. Quando são retiradas promovem um aumento da irrigação sanguínea e um processo inflamatório controlado melhorando o metabolismo local pela chegada de mais oxigênio e nutrientes, gerando assim um relaxamento das fibras musculares e uma sensação de bem estar.
A grande questão é que cientificamente não conseguimos provar nenhuma das duas hipóteses, muito menos os mecanismos fisiológicos envolvidos. Por fim, os pesquisadores não conseguem ter boas evidências de que as ventosas realmente funcionam, ou se teriam um efeito meramente placebo.
Dentro de mim habitam dois seres. Um é fisioterapeuta, ele busca basear sua prática diária nas melhores evidências científicas disponíveis. O outro é nadador, esse só busca se sentir bem para poder nadar mais e melhor. O primeiro desconfia da ação das ventosas. Mas o segundo adora e tem certeza que elas funcionam, principalmente próximo às competições.
Brincadeiras à parte, acho importante educar o grande público sobre o fato de nem sempre o que os grandes atletas fazem ou mostram é algo que funciona, tem uma explicação científica fundamentada e nem se aplica a todo mundo.
* Thiago Medeiros Rodriguez é fisioterapeuta, nadador e treina atualmente com a equipe Samir Barel Assessoria Aquática