“Essa é do menino de Ouro de Portugal, novo Recordista Mundial dos 50m mariposa! Parabéns Diogo por toda a alegria que você nos trouxe esta semana!”
Está tudo aqui, nessa mensagem emocionada de Alberto Pinto Silva, que na sua conta no Instagram quis agradecer os incríveis últimos dias em Lima, no 8º Campeonato do Mundo.
Mas hoje o jovem Diogo transcendeu-se e escreveu a mais bela página da história da natação portuguesa.
Nunca um português tinha antes batido um recorde do mundo em qualquer categoria da natação (apenas em natação adaptada), e o mérito é do ‘miúdo’, agora graúdo, que pul-ve-ri-zou o máximo dos 50m mariposa: estava há quase dois anos em 23.05, quando pelas 18h35 do dia 28 de outubro de 2020 (um dia depois de Diogo completar 16 anos) Andrei Minakov venceu as meias-finais da prova nos Campeonatos da Rússia (viria a ser segundo na final com 23.22).
Diogo já tinha ameaçado a marca com uns ‘enormes’ 23.07 a 12 de agosto último, que lhe deram a medalha de prata no Europeu absoluto em Roma, onde foi um dos raros juniores a subir ao pódio; e único dos seis portugueses já medalhados na competição (em piscina e águas abertas) a pertencer ainda a este escalão etário.
22º mais rápido da história
E atenção, com o ‘torpedo’ de 22.96 é ainda (segundo a FINA, quanto a ‘rankings’):
– 22º nadador mais rápido da história;
– 22º nadador de sempre a quebrar a barreira dos 23 segundos;
– 14º europeu mais rápido da história;
– primeiro júnior a baixar dos 23 segundos;
– obtém a mais alta pontuação de um português/sa com 912 pontos FINA
É também, claro: novo recorde dos campeonatos (era seu desde o dia anterior com 23.12) e recorde europeu júnior, além de recorde nacional júnior-18 anos e absoluto, que eram os referidos 23.07 em Itália.
Abdicou da ‘meia’ dos 100m livres
Horas antes da final soube-se que o português não iria nadar as meias-finais dos 100m livres, mesmo depois de nas eliminatórias ter sido o melhor (sim, à frente do recordista mundial David Popovici, ainda em ritmo de ‘treino’), com 48.67 (23.07; 25.60).
Pode passar despercebida entre tanto ouro e feitos incríveis, mas esta é uma belíssima marca, a sua segunda (e de Portugal) melhor de sempre nos 100m livres, e quinta vez que nada em menos de 49 segundos; nunca outro luso entrou ainda neste patamar.
A decisão foi técnica, conforme me confirmou o treinador Alberto Silva. O programa do Diogo tem sido muito exigente, com a sequência de provas já antes criticada; e na sessão da tarde iria voltar a ter pouco mais de 20 minutos de intervalo entre as meias-finais dos 100m livres e a final de 50m mariposa, a sua final.
Assim, entre os prós e os contras, e com o sonho do recorde mundial – não mencionado mas bem presente – optou-se por retirar o atleta do hectómetro. Decisão plenamente acertada, como se comprovou pela prova que viria a realizar, de plena explosão do início ao fim (reação à partida de 0.60), e em que na segunda metade pareceu ganhar barbatanas, tal a força da propulsão de pernas e a frequência impressionante das braçadas.
22.96. Terceira medalha de ouro neste Mundial; uma marca para a história, e um dia ‘para mais tarde recordar’ a filhos e netos. O seu primeiro recorde mundial.
Se me é permitido, também eu digo: “…menino de Ouro de Portugal, novo Recordista Mundial dos 50m mariposa! Parabéns Diogo por toda a alegria que me trouxeste e a milhões de portugueses esta semana!”
Declarações de Diogo Ribeiro à FPN
Estou sem palavras. São muitas emoções. Conquistar esta terceira medalha e logo com um recorde do mundo é um sonho. Foi um longo percurso antes e durante o mundial para conquistar estas medalhas e este recorde. Tenho de agradecer a todos que me ajudaram, a família, ao meu treinador e equipa técnica, ao clube e federação. Isto é o resultado.
Como foi gerir a participação em tantas provas?
O programa não facilitava a minha participação. Algumas das provas tinham 15 a 20 minutos entre as eliminatórias, meias-finais e finais, mas foi possível recuperar e apresentar-me num bom nível, claro com a ajuda do fisioterapeuta Daniel Moedas e com uma atitude muito focada tanto a nível competitivo como entre as competições.
O recorde do mundo de juniores foi um objetivo que levavas contigo desde Roma?
Em Roma queria muito bater este recorde. No final dos 50m mariposa no europeu de Roma olhei para o tempo e vi que não tinha sido recordem e só depois é que percebi que tinha sido terceiro e então fiquei feliz. Por isso, chegado aqui, esse objetivo estava na minha cabeça. Claro que a opção de não competir na meia-final dos 100 livres foi difícil, mas teve de ser tomada. Competi nas eliminatórias dos 100 livres para ter um estímulo. Penso que foi a melhor decisão, já que o recorde foi batido e por uma margem boa. Competi na final sem pensar muito nisso, entrei descontraído nem pensava na marca dos 22 segundos ou recorde pessoal. Até aos 25 metros senti os adversários ao meu lado. Só confirmei o recorde mesmo depois.
Foi uma opção competir no Europeu absoluto e Mundial de juniores…
O nosso plano correu bem: não competir no europeu de juniores e apostar no europeu absoluto e mundial de juniores. Sabíamos que era um risco, mas as pessoas perceberam que a nossa opção era a mais acertada.
Muita pressão desde o europeu até agora ao mundial?
Em Roma não senti a pressão. Era o mais novo e as pessoas não estavam à espera de um resultado. Aqui em Lima sim. Mas penso que eu e o meu treinador soubemos gerir bem esses factos. Viemos, mas cedo para nos aptarmo-nos aos horários e clima de prova. Nos primeiros dias não me senti bem, mas depois comecei a acreditar e a desligar de tudo. Para me poder focar tive de me desligar das redes sociais e do telemóvel, penso que todos perceberam isso. Só tenho de agradecer o apoio manifestado.