“Alea jacta est”. A sorte está lançada; diziam os gladiadores antes de entrar no circo de Roma para lutar até à morte.
Esta não será uma luta de vida ou morte entre António – o Lusitano – e Paolo – o Romano – mas o primeiro acaba de ‘lançar os dados’ num dos momentos mais importantes da inédita candidatura de um português à presidência da toda-poderosa Liga Europeia de Natação.
O ‘duelo’ acontecerá dentro de 29 dias, quando a cinco de fevereiro na cidade alemã de Frankfurt, o movimento ‘Europe 4 All Aquatics’ se apresentará de forma – tudo indica – musculada, tendo já do seu lado “38 a 40 federações da Europa (em 52)”, como me disse, confiante, o presidente da Federação Portuguesa de Natação.

António Silva acrescentou que a publicação do ambicioso programa da sua equipa “é o início de uma jornada que culminará em 5 de fevereiro em Frankfurt, onde se espera a mudança de paradigma na natação europeia, seguindo as reformas estruturais na FINA.”
Só no final deste mês será conhecida a totalidade dos países que apoiam António, que de presidente da APTN (a importante Associação Portuguesa de Técnicos de Natação, com muitas ligações ao Brasil) entre 2005 e 2009, passou a presidente da FPN desde 2013, estando no seu terceiro e último mandato.

Apoio importante de entidades nacionais
A nível interno os apoios não são necessários, mas fica sempre bem poder referir no seu manifesto de candidatura que se conta com o apoio de algumas das mais altas figuras do desporto de Portugal: o presidente do prestigiado Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Constantino, o presidente do dinâmico Comité Paralímpico de Portugal (CPP), José Manuel Lourenço, e também o presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), Vítor Pataco.
Recordo que na génese deste movimento criado em novembro de 2021 está o descontentamento para com o presidente da LEN (e da Federação Italiana) Paolo Barelli, duas vezes nadador olímpico, hoje com 67 anos, que motivou uma primeira carta, logo muito crítica. Como se sublinha no início do programa, de 14 páginas:
“A carta indicava a nossa oposição coletiva à falta de integridade, transparência, boa governança, de projetos com fins desportivos, e falta de comunicação com a FINA. Também sublinhou o nosso desejo de incluir um leque maior de opiniões e de encorajar o debate na organização, sem que este fosse visto como uma ameaça que deva ser ignorada”.

Os quatro pilares do Movimento
Assim, a Missão do presidente e movimento candidatos está assente em quatro pilares:
- Integridade – transparência e boa governança
- O nosso desporto – acessível a todos
- Disciplinas aquáticas – aprender e trabalhar com todos
- Sustentabilidade – tornar a LEN capaz para o futuro
Logo três meses após a prevista eleição e posterior tomada de posse, a nova direção (‘bureau’) da LEN compromete-se a realizar um congresso para apresentar um relatório sobre os primeiros 100 dias de mandato.
Alguns das medidas principais a implementar são – segundo o manifesto:
– reestruturação dos comités e ‘bureau’
– iniciar diálogo com a FINA por forma a alinhar os estatutos
– implementar novos estatutos e regulamentos relativamente à limitação de mandatos para todos os cargos de responsabilidade na LEN
– aumentar a diversidade, a inclusão e a igualdade de género.
– aumentar a representação dos atletas no ‘bureau’ da LEN e em fóruns técnicos de cada disciplina, referindo-se que “as prioridades dos atletas serão valorizadas e guiarão a futura direção da nossa federação”, uma forma de dar resposta aos movimentos internacionais de nadadores, preocupados com várias áreas como o retorno das elevadas receitas em prol da modalidade, e a aceitação do profissionalismo na natação (porta que a International Swimming League – ISL – veio abrir ainda mais, em fricção em muitos pontos com a FINA).
– finalmente (e para referir apenas alguns dos pontos essenciais) a transparência financeira, referindo-se que irá ser “iniciado o processo para encontrar um auditor externo e independente”, por forma a que os membros da LEN tenham uma “visão transparente dos relatórios financeiros anuais da LEN”, já que uma das críticas feitas à liderança de Paolo Barelli (presidente desde outubro de 2012) é exatamente nesta área.

Barelli, o senador de Silvio Berlusconi
Talvez algum desejo de poder e protagonismo do italiano possa estar a ser-lhe desfavorável, não conseguindo acompanhar os tempos, tendo entrado em conflito aberto com a FINA. Tem acumulado cargos sucessivos, desde presidente da Federação Italiana (pela primeira vez eleito em 2000) ao cargo de senador na câmara alta do parlamento italiano (o Senado), para o qual foi pela primeira vez eleito em 2001 (e mais tarde reeleito por duas vezes, numa região a sul de Lazio) pela mão do polémico Silvio Berlusconi, fundador do partido – considerado populista e ultra-conservador – ‘Forza Italia’.
É, pois, uma verdadeira ‘limpeza’ ao nível da transparência e valores que António Silva, Varvodic Josip (Croácia) e seus pares pretendem fazer na LEN, tendo hoje apresentado ao mundo dos desportos aquáticos um programa, sem dúvida, muito ambicioso.
Se a ’nova’ LEN – cujo nome, quem sabe, também poderá mudar; a própria FINA pondera alterar a sua designação – concretizar nem que seja uma maioria dos projetos que este manifesto hoje lançou, então a natação, o polo aquático (cujo peso na Europa é enorme), os saltos para a água, a natação artística e as águas abertas, sairão por certo mais fortes e populares entre os cerca de 750 milhões de habitantes do Velho Continente.
“Alea jacta est“.
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