De que vive o desporto? De que vive a natação? Do sonho, da emoção…da superação de marcas que – até determinado momento – parecem quase imbatíveis, intangíveis.
É por isso que vibramos tantos – penso que todos, sem exceção – quando um recorde é batido, e se tiver cotação planetária ainda mais.
Foi a isso (outra vez) que assistiram as largas centenas de espectadores e mais de 700 atletas hoje no Complexo de Piscinas Olímpicas do Funchal, quando Diogo Ribeiro superou por duas vezes o recorde de Portugal, que apimentou com mais dois-mínimos olímpicos-dois para Paris 2024.
Nas eliminatórias nadou os 100m livres em 48.01 (o recorde era seu, claro, com 48.52 – 9º lugar no Europeu de 2022; para Paris precisava de 48.34), e na final em…47.98 (22.85/25.13, RT: 0.62), segunda melhor marca mundial de 2023 (a primeira foi na China, por Wang Haoyu, 47.89), e à frente p.e. ‘só’ de Kyle Chalmers (o campeoníssimo australiano).
Mais importante, esta marca-torpedo fez do ‘menino’ de Coimbra o primeiro luso de sempre a nadar a prova em menos de 48 segundos, e 68º de sempre na história mundial.
Permite também a entrada do nosso país no restrito ‘clube dos 47s.’, onde só estão 20 países.
Esta é a marca de mais valia de sempre na natação lusitana, pelo menos de acordo com a tabela de pontos da World Aquatics: 931 pontos é quanto valem os 47.98 do atleta benfiquista de Alberto Silva.
D. Camila de Portugal & Espanha
Quase à mesma hora, e a menos de 2000 quilómetros de distância, na prova homóloga a decorrer em Palma de Maiorca (o Open de Espanha), a talentosa Camila Rebelo também fazia das suas, tornando-se na primeira mulher a fazer mínimos na natação para os Jogos de 2024, e presumo que a primeira em qualquer modalidade no país.
A jovem, que completou há quase dois meses 20 anos, sagrou-se campeã de Espanha com um novo máximo de Portugal aos 200m costas: 2:09.84, primeira portuguesa em menos de 2:10, ela que já tinha sido a primeira a nadar abaixo de 2:14, 2:13, 2:12, 2:11…
Recordo que nos Nacionais de 2022 Camila batia, a três de abril, o seu primeiro recorde nacional na prova com 2:15.00…que evolução incrível a de Camila em menos de um ano.
Atleta de Gonçalo Neves, e também de Vítor Ferreira (na Louzan Efapel), logrou igualmente feito múltiplo, qual versão feminina de Diogo Ribeiro: mínimo olímpico (é 2:10.39), recorde de Portugal, que já era seu: 2:10.41, a dois de julho de 2022 quando foi medalha de ouro nos Jogos do Mediterrâneo, à frente da mesma Africa Zamorano, que hoje se voltou a contentar com a prata na principal competição espanhola.
Aliás, realço que a opção de nadar no Open vizinho se revelou excelente, pois em Portugal nadaria ‘sozinha’, e nas Baleares teve em Zamorano um fortíssima adversária, que dominou do início quase até ao fim, chegando a portuguesa à frente com apenas 13 centésimos de vantagem, graças a uns últimos metros de raça.
Os parciais de ambas:
Camila: 31.08/33.31/33.06/32.39 – 2:09.84, 1º lugar
Africa: 30.47/33.13/33.67/32.70 – 2:09.97, 2º lugar
E, referido o mínimo, o recorde nacional a quebrar barreira, e o título de campeã, o que falta? O lugar mais alto no ‘ranking’ europeu do ano, feito notável, a que junta posição confortável no top 5 mundial!
No sábado a jovem de Coimbra (sim, também de Coimbra) já estará na Madeira, onde voltará a nadar esta sua prova no domingo, e ainda a estafeta de 4x100m estilos…(recorde nos 100m costas à vista?).
Quarto recorde de Portugal do dia para a também jovem Francisca Martins, que nos 100m livres venceu a final em 56.25, ultrapassando um recorde com quase 4 anos, que pertencia a Ana P. Rodrigues (ED Viana) com 56.39.
Bons indicadores para as principais provas da atleta de Simão Marinho no Foca (Felgueiras), os 200m e 400m livres, onde quer tentar mínimos para o Mundial do Japão, ou confirmar o seu valor para o Europeu sub-23 da Irlanda.
Recordes do segundo dia de Open de Portugal ainda para:
Tiago Neves (CF Belenenses), 100m bruços, 1:11.50, RN absoluto classe S15
Diogo Cancela (Louzan), 50m costas, 34.08, RN absoluto classe S8
Diogo Cancela (Louzan), 100m costas, 1:12.09, RN absoluto classe S8
Pedro Bonniz (SL Benfica), 100m bruços, 1:04.35, RN Júnior 17 anos
ATLETAS MAIS PONTUADOS – MASCULINOS (após o 2º dia)
- Diogo Matos RIBEIRO, 04, Sport Lisboa e Benfica, 100m Livres, 47.98 (RNSA) 931p
- Miguel Duarte NASCIMENTO, 95, Sport Lisboa e Benfica, 50m Livres, 21.97, 862p
- Andrii GOVOROV, 92, Vitoria Sport Clube, 50m Livres, 21.98, 860p
- João Nogueira COSTA, 01, Vitória Sport Clube, 100m Costas, 54.50, 848p
- Gabriel José LOPES, 97, Associação Louzan Natação, 100m Costas, 55.01, 825p
- Tiago Cunha COSTA, 99, Sporting Clube de Portugal, 100m Livres, 50.17, 814p
ATLETAS MAIS PONTUADAS – FEMININOS (após o 2º dia)
- Rafaela Gomes AZEVEDO, 02, Sport Alges e Dafundo, 50m Costas, 28.56, 843p
- Ana Pinho RODRIGUES, 94, Escola Desportiva de Viana, 50m Livres, 25.25 (RNSA), 823p
- Ana Catarina MONTEIRO, 93, Clube Fluvial Vilacondense, 200m Mariposa, 2:10.87, 806p
- Inês Jacinto HENRIQUES, 00, Associação Louzan Natação, 200m Mariposa, 2:12.13, 783p
- Francisca Soares MARTINS, 03, Foca Quinta da Lixa, 100m Livres, 56.25 (RNSA), 776p
- Maria Luiza PESSANHA, 00, Clube Naval do Funchal, 100m Costas, 1:02.60, 772p
RESULTADOS COMPLETOS EM: Campeonato Nacional Juvenis e Absolutos de Portugal OPEN – SPLASH Meet Manager 11 (fpnatacao.pt)
Declarações à FPN no final das provas:
Diogo Ribeiro: «Na final dos 100 livres com menos 3 centésimos apenas, de 48,01 segundos nas eliminatórias para 47,58 mas a felicidade é enorme. É o tempo que penso que estaria a fazer no Mundial do ano passado de juniores e ter confirmado agora o que eu pensava é espetacular. Neste momento o fundamental é estar a nadar bem, como tecnicamente como com muita força. Este ambiente na Madeira é especial eles sentem mais a natação. Estamos a tentar mudar a mentalidade e à medida que o tempo avança sinto que estamos a mudar aos poucos e este apoio, este barulho, é fantástico. Da eliminatória para a final de tarde a única coisa que alterei foi mesmo a chegada, os últimos 10 metros sem respirar e em braçada de 50 metros com braço esticado e isso penso que fez a diferença para a tarde. Agora tenho os 100 mariposa e os 50 mariposa, onde nesta última não há mínimo olímpico, é para melhorar o tempo. No 100 mariposa gostava também de melhorar o tempo.»
Francisca Martins: «era o meu objetivo. Nadei os 50 metros no primeiro dia senti-me muito bem, senti que estava rápida e era bom indicador agora para os 100 metros. Não é a minha melhor prova, mas estou a tentar melhorar e penso que é uma prova que posso apostar e acreditei muito que era possível. De manhã nas eliminatórias fiquei muito perto e agora na final foi espetacular. Amanha tenho os 400 e os 200 no último dia, as minhas melhores provas.»