Depois de bater tantas vezes na trave Marcelo Chierighini finalmente conquistou sua primeira medalha em um Campeonato Mundial de piscina longa este ano em Budapeste. Finalista em Barcelona-2013 e Kazan-2015, além de também ter chego a finalíssima nos Jogos Olímpicos do Rio-2016, o velocista novamente terminou fora do pódio na prova individual na capital húngara, mas voltou para a casa com uma medalha: uma histórica prata com o revezamento 4x100m livre. Numa das finais mais emocionantes de todos os tempos, a equipe brasileira que ainda tinha Gabriel Santos, Cesar Cielo e Bruno Fratus, brilhou e ficou a apenas 28 centésimos da medalha de ouro.
Chierighini teve uma participação monstruosa, fazendo um parcial de 46s85, o melhor de todos os 32 atletas que caíram na água naquele dia na Duna Arena. A medalha só confirmou a boa fase da qual vive o atleta que a partir deste mês passará a dividir seus treinamentos entre Auburn, nos Estados Unidos, e o Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo. O nadador esteve presente na IHRSA, maior feira fitness da América Latina no stand da Arena, marca da qual é patrocinado e conversou com a SWIM CHANNEL sobre Budapeste-2017, Tóquio-2020, treinamentos e a nova gestão da CDBA. Confira a entrevista abaixo:
SWIM CHANNEL: Primeiramente, parabéns pela medalha no Mundial. Conte pra gente como foi a preparação para Budapeste e também fale mais sobre a performance do rezamento 4x100m livre.
Marcelo Chierighini: Nos Jogos Olímpicos estávamos com uma equipe do 4x100m livre muito forte no papel. Muita gente nos colocava como candidatos a pódio, mas infelizmente não conseguimos a medalha. Para Budapeste foi a mesma coisa, muita gente nos colocando como favoritos. Porém, depois da final olímpica não vou dizer que não acreditava, mas fiquei com uma sensação de insegurança, sabe. Aquela coisa de que será que não vai dar de novo? Mas em Budapeste foi diferente, porque a presença do Cesão (Cesar Cielo) no time de certa forma nos tranquilizou um pouco e passou energia positiva após tudo que aconteceu no Rio. Mesmo sabendo que ele não estava em sua melhor fase, com ele no time o espírito foi diferente.
SC: Pois é, muito se falou disso na época. No Rio-2016 a ausência dele na equipe foi um fator que fez falta ao revezamento na sua opinião?
Chierighini: Acho que sim porque ele é o mais experiente da seleção e passou por muita coisa que só ele vivenciou. Ele sabe como deve se portar em determinados momentos e tem uma mentalidade vencedora. Ai você cai para nadar e sabe que no seu revezamento tem um campeão olímpico, um gigante da natação. É outra coisa. Te dá uma segurança maior e tira um pouco do peso nos ombros. E lá em Budapeste estávamos em um clima perfeito.
SC: O fato de todos vocês terem nadado bem na temporada individualmente antes do Mundial, somada a presença do Cielo ajudou a tirar um pouco da pressão para fazer uma boa prova?
Chierighini: Antes do Mundial fizemos um cálculo dos nossos tempos e vimos que tínhamos grandes chances de ganhar uma medalha. Passamos a acreditar e caso cada um melhorasse um pouquinho poderíamos ter um resultado histórico. Porém, depois que passamos para a final com o melhor tempo (3min12s34) e todos nadaram bem, nossa confiança só cresceu. Após a eliminatória já tínhamos a certeza de que conseguiríamos ganhar uma medalha. Eu mesmo não tinha um pingo de dúvida que conseguiríamos fazer isso. Toda essa soma de fatores influenciou, mas foi algo muito natural.
SC: Na final vocês entraram com tudo, com sangue nos olhos e nadaram forte em todas as parciais, inclusive seu resultado foi incrível. Como estava a cabeça de vocês naquele dia?
Chierighini: Sabíamos que tínhamos muita chance. Quando você vai bem na eliminatória sabe que pode ir melhor na final. Entramos com esse espírito para decidir a medalha, com a confiança lá no alto. Na eliminatória tivemos a Austrália, que estava sem Kyle Chalmers e James Magnussen, na raia do nosso lado e nossa mentalidade ali foi “vamos atropelá-los”. Essa mentalidade vencedora ajudou muito para quando fomos encarar a final do 4x100m livre e lá eu simplesmente dei tudo de mim para conseguir fazer uma parcial incrível que realmente me deixou muito impressionado.
SC: Depois da medalha logo no primeiro dia você ficou alguns dias treinando para a prova individual dos 100m livre. Como foi administrar o resultado positivo, principalmente de sua parcial, e a pressão por entrar na prova como um dos favoritos ao pódio?
Chierighini: Foi outra prova, totalmente diferente do revezamento. Eu acho que de certa forma o meu corpo acabou relaxando e a adrenalina do 4x100m baixou. Nas três provas individuais que nadei não consegui me colocar no mesmo estado mental do revezamento. Mas não posso reclamar do resultado, afinal igualei meu melhor tempo pessoal (48s11), porém, dessa vez eu estava esperando mais. Honestamente não gostei, principalmente porque foi logo depois da parcial do revezamento e queria muito ter nadado abaixo dos 48 segundos, na casa dos 47s8. Tinha certeza que poderia ter feito esse resultado na final, mas acho que não soube administrar bem a situação. Talvez se fosse um evento menor ou um Mundial onde não tivesse nadado tão bem antes, teria ficado mais satisfeito com este tempo.
SC: Como você imagina que será este próximo ciclo olímpico? Teremos ano que vem o Pan-Pacífico, onde o Brasil novamente terá um bom duelo no 4x100m livre contra os Estados Unidos e a Austrália. E depois Jogos Pan-Americanos, Mundiais de longa e curta até chegar a Tóquio-2020. Como esta sua cabeça para todos esses compromissos.
Chierighini: Imagino que o Pan-Pacífico será uma competição mais fraca do que o Mundial, mas ao mesmo tempo competitiva e um torneio que temos que levar a sério em nossa preparação olímpica. Talvez não tenha muita pressão, mas será um bom teste para todos já que estaremos nadando contra atletas que poderão ser nossos adversários no próximo Mundial em 2019 e em Tóquio.
SC: Como era sua rotina de treinamentos lá em Auburn durante a preparação para o Mundial?
Chierighini: Lá em Auburn treinei com o Sergio Lopez e não tinha muito contato com o pessoal da equipe universitária que treinava separadamente com Brett Hawke. Meu grupo era menor e com treinamentos mais específicos para os atletas. Na equipe também tinha o Chico (o técnico brasileiro Francisco Martins) que era um dos assistentes técnicos do Sergio lá em Auburn. Ele é um cara que me ajudou muito a crescer e a quem devo bastante essa medalha.
SC: E agora como será essa experiência de treinar em dois períodos, passando uma parte do ano em Auburn e outra parte aqui no Brasil, mais especificamente no Pinheiros?
Chierighini: Minha agenda será praticamente meio ano em cada país. De janeiro até o principal evento da temporada (Olimpíada, Mundial e Pan-Pacífico) estarei em Auburn e o restante da temporada trabalharei no Pinheiros com o Albertinho (Alberto Pinto). Vai ser uma experiência interessante.
SC: E agora com exceção do Bruno Fratus, que continua em Auburn, você estará constantemente treinando com o Cielo e o Gabriel, além do Pedro Spajari que vem tendo bons resultados recentemente nos 100m livre…
Chierighini: Pois é, estou muito animado para treinar com o pessoal porque será um ambiente muito bom e acho que todos sairão ganhando com essa experiência e convivência.
SC: Os 100m livre também é uma prova bem concorrida. Além de vocês quatro, há outros nomes que podem integrar a equipe como Pedro Spajari, João de Lucca, Nicolas Nilo, Felipe Ribeiro, Matheus Santana. E essa concorrência ajudará cada um a melhorar para não perder espaço na equipe…
Chierighini: Sem dúvida, uma concorrência sadia que vai nos forçar a não se acomodar e buscar melhorar cada vez mais. Depois da medalha todo mundo vai querer nadar o 4x100m livre e isso vai deixar nosso time mais forte para ganhar novas medalhas. Sem dúvidas o Brasil estará bem representado em Tóquio.
SC: Seu principal objetivo será mesmo os 100m livre ou tem em mente abrir o leque e investir em outras provas como os 50m livre?
Chierighini: Os 100m livre serão a minha principal prova e eu sempre nadei os 50m livre, onde tenho uma oscilação, nadando bem as vezes e mal em outras ocasiões. Nadando agora no Pinheiros e treinando com o Albertinho talvez eu invista mais nos 50m livre e também nos 50m borboleta, uma prova onde o Brasil vem brilhando no cenário internacional. Meu objetivo nesta prova seria para dar uma variada também, porque não quero nadar só crawl e gosto do estilo borboleta.
SC: E como você avalia estes primeiros meses de trabalho da nova CBDA? Tem esperanças de que a situação da natação brasileira vai melhorar?
Chierighini: Acho que a situação só tende a melhorar, ou melhor, só vai melhorar. Esta nova gestão da CBDA já começou a trabalhar e tem muitas pessoas novas capacitadas, com boas ideias e que vão ajudar a modalidade a se desenvolver. Acredito que até Tóquio teremos uma nova natação, com uma outra cara e mudando muita coisa que precisa de fato melhorar.
Por Guilherme Freitas