A Travessia do Canal de Ilhabela tem novos nomes adicionados ao seu rol de campeões! Pela primeira vez, Matheus Siniscalchi e Rafaela Monilly sagraram-se vencedores na tradicional prova de águas abertas no litoral norte paulista. Em prova disputada no percurso sul, a dupla de jovens nadadores do Time Mormaii Natação superou as adversidades, principalmente as fortes correntes laterais, para finalmente chegar ao lugar mais alto do pódio.
Entre os homens a vitória ficou com Matheus Siniscalchi. O nadador do Círculo Militar brilhou nas águas de Ilhabela, conseguindo seu primeiro título na travessia. Ano passado ele havia sido terceiro colocado, mas neste fim de semana fez uma prova muito consistente para deixar dois veteranos para trás e vencer com o tempo de 45min17s026. O vice-campeão foi Victor Colonese que nadou próximo de Matheus durante boa parte da prova e ficou com o segundo lugar com tempo de 46min49s253. A terceira colocação foi de Samir Barel, bicampeão da prova em 2014 e 2016, que nadou em 47min55s017.
O grande campeão deste ano também teve uma semana bastante agitada no feriado. Matheus teve uma jornada dupla, competindo durante a semana no Troféu José Finkel em São Paulo e embarcando para Ilhabela no sábado logo após ter nadado os 1500m livre na piscina do Pinheiros. No Finkel, Matheus nadou as provas dos 400m, 800m e 1500m livre e somou alguns pontos para o Círculo Militar. Uma semana e tanto para o novo campeão da Travessia do Canal de Ilhabela.
No feminino a sequência de vitórias de Betina Lorscheitter que vigorava desde 2017 foi interrompida por Rafaela Monilly. A jovem nadadora de Caraguatatuba havia sido vice-campeã nas últimas quatro edições da prova, mas desta vez conseguiu superar a pentacampeã e levou para casa o troféu de campeã da Travessia do Canal de Ilhabela pela primeira vez. Rafaela venceu com tempo de 51min00s473, contra 54min41s968 de Betina.
A prova foi de superação para as duas nadadoras. Para Rafaela pela perseverança de continuar tentando um título que ainda não tinha e jamais desistir do objetivo. E para Betina, pela garra demonstrada ao longo do percurso. A experiente nadadora sentiu bastante as fortes correntes durante o percurso e estava muito emocionada ao fim do percurso. O terceiro lugar ficou com Thais Xavier, repetindo o desempenho do ano passado e finalizando com 1h00min18s158 de prova.
Ao todo, a prova teve quase 700 nadadores inscrito, mostrando como a Travessia do Canal de Ilhabela já se tornou um dos principais eventos de águas abertas do país. Os resultados completos da edição 2023 da Travessia do Canal de Ilhabela podem ser acessados clicando aqui: https://polesportivo.com.br/resultado.php?id=983. A prova teve patrocínio da Mormaii Natação e da Prefeitura de Ilhabela e apoio de mídia da SWIM CHANNEL.
Foi a minha primeira vez na Travessia. A correnteza estava muito forte. A organização da prova falhou em não mudar o trajeto. Prova disso é que a maioria não conseguiu contornar a maioria das boias. Muitos abandonaram o contorno logo depois da segunda boia amarelo. No meio da água começaram a dizer que as boias tinham se soltado. Confusão total. Ao final pessoas que chegaram de barco foram classificadas enquanto outras desclassificadas mesmo com o barqueiro dizendo que ninguém seria desclassificado. Eu já enviei o meu pedido de desclassificação. Não sei o que faltou para mudar o trajeto.
Realmente Silvio Alpendre, achei que houve alguma confusão na última boia amarela, onde os apoiadores de prova pediam para abandoná-la e seguir em direção à 1ª da série de boias laranjas no que tornou-se impraticável, pois a forte correnteza naquele momento da prova, impedia a aproximação para nos posicionarmos com alguma chance de contornar as boias laranjas.
Espero que esse relato ajude de alguma maneira a entender o que aconteceu e contribua de alguma forma para o próximo ano .
Boa noite.
Tanto nós atletas como a administração do evento, devemos levantar as mãos para o céu e agradecer muito a Deus por não ter acontecido nenhuma fatalidade.
Eu Tb fui levado pela correnteza e tive q ser resgatado depois de 5 km e 2 hs no mar muito esgotado..
Nossas vidas foram colocadas a risco, por falta de organização e estrutura adequada em água.
Lamentável. Experiência q jamais espero passar de novo.
Foi assustador.
E aí administradores.
Como ficamos.?
05/11/23 – Travessia do Canal de São Sebastião.
Algumas vezes topamos desafios que nos parecem demasiadamente difíceis…E na prática fica a confirmação de que de fato são na verdade bem mais complexos e inesperados do que imaginamos.
Nadar provas de águas abertas, ou atualmente mais conhecidas como maratonas aquáticas, sempre foram e sempre serão eventos, que muito mais que eventos para a sua capacidade física, que de fato deve estar impecável, mas são com certeza, uma senhora batalha mental.
Especialmente se as condições forem muito adversas. Na 6afeira, dia 03/11 todo o Estado de SP foi atingido por severas tempestades, e o litoral tbm sofreu esse baque. E até domingo as ondas, ventos e correntes deram as cartas de forma predominante, e somada à mudança de maré, a coisa toda ganhou uma dinâmica avassaladora.
Aqueles minutos que separaram o 1o grupo de nadadores super preparados da maioria dos competidores foi crucial, pois a maioria dos participantes já começou a sentir a puxada antes da 1a perna da prova (1/3 inicial) que se pode dizer que era até a ponta do pier de oleodutos de São Sebastião.
Ali, com a última bóia amarela desse trecho se soltando, tudo começou a tomar um novo ritmo. Eu mesmo nadei um bom tempo atrás dessa maluca que rodou feito peão em direção ao navio ancorado no pier…até que um dos apoiadores da prova, num caiaque, confirmou que ela estava solta.
Para mim, o tempo que perdi “perseguindo” essa boia, de alguma maneira me deu um novo posicionamento, que para o próximo 1/3 da prova foi essencial para o que viria a seguir: a travessia do canal na sua parte mais aberta e profunda.
Sem querer, ou um fator sorte diria, eu estava numa posição que após sair da popa do navio gigante ali ancorado, entrei no canal, e dei de cara com uma corrente animal que vinha da direção sul para norte.
Essa corrente estava com uma força bem intensa e a água ficou pesada, foram minutos sem fim dando braçadas para tentar atravessar o canal…A escolha do ângulo e forma de enfrentar a corrente para alcançar a boia laranja adiante foi determinante para conseguir fazer esse trecho de forma a não me distanciar tanto da próxima boia laranja. Aqui acredito que os diversos anos de surfe, de natação e de fotógrafo profissional dentro d’água, moldaram, com outras experiências da vida, a minha mente para um momento tão punk como esse. Lembrei até de Waimea, quando enfrentei aquela massa d’água no peito e as correntes de Sunset no olho do tigre (tubo)…ajustar a respiração, o ritmo das braçadas, abrir contagem e a cada 10 respiradas (cerca de 30 braçadas), olhar para corrigir a direção. Vale comentar que o meu óculos de natação tava “melado” de vaselina, que não consegui limpar, pois minha mão e corpo tinham sido por mim mesmo totalmente besutadas, ao espalhar o creme para tentar dar certo conforto térmico, pois optei nadar só com a sunga. Muitos entraram na água com roupas de neoprene especiais para prova em águas geladas, que era o caso desse dia.
Algo que nesses momentos é exigido de todos ali, sem dúvidas, é muita calma, muita concentração, muita resistência e, se sobrar, oxigênio no cérebro, algum ajuste no planejamento da prova, para tentar evitar que o cérebro perca para as célebres perguntas que pipocam nessas horas: O que eu tô fazendo? O que eu faço? Porra! Correnteza do K…
Uma boa parte dos competidores foram arrastados nesse trecho da prova, mas não foi pouco não…foram muitos e foram carregados literalmente no colo de Netuno, para bem longe canal à frente. A direção da prova demorou para entender o tamanho do problema que ocorreu nesse momento. Talvez a comunicação entre as equipes de apoio e a base não tenham sido ideais…mas, é fato que muita gente não conseguiu atravessar o canal e se alinhar para passar as boias do outro lado pelo lado esquerdo do ombro, como era a regra da prova.
Os que conseguiram essa proeza de atravessar o canal, onde consegui me incluir, seguiram a prova da forma possível naquele momento, e atingiram a linha da chegada dentro do programado.
Eu mesmo, após conseguir fazer essa travessia, no 1/3 final, tentei poupar o esforço, diminui o ritmo das braçadas e como a direção para o cais de chegada era no sentido da correnteza, fui mais suave. Mas, por descuido e por relaxamento, mais a visão embaçada do óculos, no trecho final, faltando cerca de uns 300 metros (última boia), nadei sem quase perceber que a correnteza também me pegou de novo pesado.
Quando olhei de novo tinha passado o funil de chegada cerca de uns 100-150-200 metros…para uma prova dessas..nessa hora…O frio subiu pela espinha…
Como nadar contra a correnteza ao final da prova onde você sabe que o seu corpo e suas energias já estão bem no limite? Opção? Sim, nadar em direção à ilha máximo possível, e buscar sair da corrente o mais rápido que puder e chegar próximo a costa e nadar de volta para o funil de chegada onde a corrente seria mais fraca…mas, o esforço não seria desprezível…E assim foi feito, e é muito estranho fazer isso é novamente ver outros nadadores passando na frente, por terem feito outro roteiro ou traçado, mas nessa altura o objetivo maior era claro: chegar e completar a prova inteira, e de forma limpa.
O que estava previsto ser 3.8k virou quase 4.7k, feitos literalmente na palma da mão das braçadas e nas pernadas do sprint final…que quando fui por o corpo na vertical, ao pisar na areia na beira da ilha na prainha onde era a chegada, o cérebro perguntou numa fração de segundo: cadê suas pernas?…rsrs…caraca…quase que levei um tombo…O reflexo e um último esforço me poupou de uma queda, que arranquei em gritos que tirei de um pulmão exausto e que transformei em exaltação pelos passos até a marca de chegada e completar a prova ….
Impressionante, inebriado e eufórico, partilhando com outros que ali também tinham conseguido fazer a prova, comemoravamos um feito individualmente e coletivamente.
E, agora, a atenção voltava para os parceiros que haviam sido arrastados pela correnteza e tentavam completar a prova.
Infelizmente para eles tornou-se impossível o retorno.
Passado aquele ponto do funil e em certo distanciamento, após mais de 1:40 nadando, não havia como ter condições de retornar para o ponto de chegada da prova. A direção da prova determinou, corretamente, que os barcos de apoio tirassem os nobres e bravos nadadores do meio do canal, alguns até quase 1km além do ponto de chegada.
Para mim, todos foram excepcionais. Pois, independente da regra da prova, a maior regra que o mar nos ensina é que não há como enfrentá-lo de forma inconsequente ou irresponsável. E, na medida que a força do mar, em determinado momento da prova, foi infinitamente superior a qualquer competidor, permanecer nadando e tentando chegar já foi uma vitória.
Saber que todos estavam bem foi o melhor prêmio do dia.
Agora, é esperar as próximas provas, e sem nunca esquecer o aprendizado: somos frágeis em nossas arrogantes visões de super-homens.
Ser campeão é muito mais do que vencer uma prova. Ser campeão é sermos humanos naquilo de mais importante e de maior valor que existe: a vida! A nossa e a do próximo.
Agradeço a Deus por ter permitido que eu tivesse a honra de nadar ao lado de todos esses senhores das águas e destas sereias dos mares.
Aloha!
Até a próxima.