“Shosholoza” é o nome de uma canção Nguni que é cantada por diferentes tribos combinando termos de idiomas locais da África do Sul. Cantada por trabalhadores que atuavam nas minas de ouro, a música ganhou popularidade no país e hoje é considerado como o “segundo hino nacional”. A expressão basicamente representa de “mover mais rápido, cada vez mais rápido”.
A tradicional música explodiu no país com a conquista da Copa do Mundo de Rugby em 1995 e ganhando um espaço de destaque no filme Invictus. Pois foi ao som de “Shosholoza” que a nadadora Tatjana Schoenmaker foi recebida na Vila Olímpica em Tóquio após a sua campanha fantástica de duas medalhas, ouro nos 200m peito com recorde mundial e prata nos 100m peito.
O resultado da África do Sul em Tóquio foi a pior campanha desde Beijing-2008. Duas mulheres, Tatjana Schoenmaker e suas duas medalhas mais a prata da surfista Bianca Buitendag foram as únicas conquistas do país. Bem distante das dez medalhas do Rio-2016: dois ouros, seis pratas e dois bronzes.
O ouro de Schoenmaker foi bastante simbólico. A natação feminina da África do Sul não ganhava um ouro desde os Jogos de Atlanta em 1996. E depois de 25 anos veio na mesma prova, os 200m peito que havia sido vencido por Penny Heins e agora repetido com Schoenmaker.
Natural de Johannesburgo, Tatjana Schoenmaker completou 24 anos poucos dias antes da sua primeira Olimpíada. O currículo já era positivo e o crescimento foi exponencial desde o Commonwealth Games de 2018 quando venceu as duas provas, os 100m e 200m peito.
No seu primeiro Mundial, em Gwangju, no ano seguinte, Schoenmaker foi medalha de prata perdendo a final para a russa Yulia Efimova. Semanas depois, Schoenmaker estava na Universíades de Nápoli vencendo as provas de 100m e 200m peito.
Rocco Meiring é o treinador por trás do trabalho de Schoenmaker. Conhecido e reconhecido técnico local que foi o responsável pelo trabalho com Terence Parkin, nadador surdo e mudo que levou a prata nos 200m peito dos Jogos de Sydney-2000. Também foi com Meiring que Cameron van der Burgh começou a sua carreira de nadador reforçando ainda mais a sua reputação de um dos melhores treinadores de peito do mundo.
O crescimento de Tatjana Schoenmaker é exponencial. Na Olimpíada do Rio, que ela aos 18 anos assistiu pela TV, sua melhor marca (2min26s50), não era nem índice olímpico nem o suficiente para passar das eliminatórias. Em cinco anos, Schoenmaker baixou mais de sete segundos, conquistou títulos internacionais e fez história em Tóquio.
Primeiro nos 100m peito, bateu o recorde olímpico logo nas eliminatórias mas terminou com a medalha de prata. Se tivesse repetido a marca (1min04s82) na final levaria o ouro, mas não era a sua prova principal, servia apenas como uma motivação e principalmente tranquilidade para atingir o seu melhor resultado nos 200m peito, o seu objetivo nestes Jogos.
E assim foi, novo recorde olímpico nas eliminatórias (2min19s16) ficando a cinco centésimos do recorde mundial. Na semifinal, voltou a nadar forte (2min19s33) e entrou para a final como favorita e na raia 4.
A americana Lilly King nadava em busca de redenção. De favorita, campeã olímpica e bimundial ficou com bronze nos 100m peito. Foi para os 200m disposta a mudar esta imagem imprimindo um ritmo mais forte desde o início.
Schoenmaker passou os primeiros 50 metros atrás, mas já na virada dos 100 metros tinha a liderança. Em ritmo constante e controlado foi abrindo a partir do terceiro 50 metros. No final, medalha de ouro e novo recorde mundial com 2min18s95.
Conquista histórica e que ganhou simpatia de todos. Na piscina, suas adversárias de prova saíram de suas raias para um abraço que ganhou uma das imagens mais bonitas da Olimpíada. Fora dela, Schoenmaker foi recebida com carinho pelos seus compatriotas na Vila dos Atletas onde o Shosholoza foi cantado e celebrado.
Um país em crise, política, econômica, com problemas de corrupção e dificuldades que até colocaram em dúvida se ela iria ou não receber a premiação prometida para os medalhistas olímpicos. A celebração de Shosholoza para Tatjana Schoenmaker é simbólica, onde as dificuldades deixaram sua conquista ainda mais especial e histórica.
Shosholoza Tatjana!