Você já deve ter ouvido a frase de algum nadador que “natação é mais do que um esporte, é um estilo de vida”. Pode parecer um clichê, mas a frase torna-se uma realidade quando observamos que muitas vezes ela se concretiza através de algumas histórias. Essa afirmação também se reflete por meio de eventos esportivos, principalmente aqueles de águas abertas onde a conexão do nadador com a natureza é ainda mais forte e real. Um desses eventos onde transparece esta relação é o Circuito Mares.
Disputado há a mais de uma década nos mares do litoral paulista, o evento nasceu com o intuito de proporcionar uma relação mais próxima entre o atleta e a natureza, visando fortalecer esta conexão através da natação em águas abertas e assim, transformar esta experiência em um estilo de vida.
Ao longo de uma minissérie de três partes, contaremos um pouco mais sobre a história e essência do Circuito Mares. Falaremos sobre seu início, suas características, seus parceiros e seus atletas, muitos deles de nível olímpico. Uma bela história de pouco mais de dez anos, de um evento que segue em franco crescimento promovendo o esporte como uma filosofia de vida. Nesta primeira parte você confere a origem desta jornada e seu estabelecimento no calendário nacional.

Origem: como nasceu o Circuito Mares
O Circuito Mares foi disputado pela primeira vez no dia 31 de agosto de 2014, na Praia da Mococa, em Caraguatatuba, no litoral norte paulista. Por ser um circuito, ele teria etapas a serem realizadas e premiaria ao fim das disputas os melhores atletas de cada categoria. Nesta primeira edição aconteceram apenas provas de natação em águas abertas, com as modalidades de corrida e aquathlon sendo adicionadas nos anos seguintes ao programa de provas do evento.
O grande idealizador da disputa foi Fabricio Vieira, profissional de educação física e gestor de eventos esportivos. Durante quase duas décadas ele foi técnico de equipes e assessorias de natação e triatlo, além de ter tido uma experiência de 16 anos trabalhando com natação de alto rendimento paralímpica. Toda essa vivência no esporte lhe geraram a vontade de criar um evento esportivo para também ajudar a desenvolver o esporte no país.

“Amante da natação por natureza, tinha em mim uma grande vontade de desenvolver algo inovador e relevante para a natação em águas abertas, que naquele momento tinha um cenário bem “precário”. Comecei a desenvolver o projeto em 2010, quatro anos antes de realmente iniciarmos. Fiz alguns eventos pilotos antes de lançar o Mares, que foi bem bacana também para aperfeiçoar o plano. Em 2014, com a ideia do projeto mais madura, a agenda de eventos mais tranquila e a colaboração de um grande parceiro, Diego Noronha, um dos idealizadores do evento, em horas de conversa nas cafeterias de São Paulo, saímos do papel para os mares”, recorda Fabricio, que é também o criador da Interativa Esportes, empresa que organiza e coordena todo o Circuito Mares.
Sobre o nome do evento, Fabricio afirma que a escolha está relacionada ao segmento do circuito. “O nome surgiu em uma dessas longas conversas sobre o evento, tem a ver com nosso foco em provas no mar, e sem dúvida tem bastante força e se destacou de cara. Não me lembro de uma segunda opção do nome, veio de forma definitiva”, disse.

Além de toda essa ligação do atleta com a natureza e o foco em falar sobre o mar, a competição também trouxe muitas inovações a natação em águas abertas. Muitas novidades foram autoria do Circuito Mares, que ditou tendências para outros eventos. Entre esses aperfeiçoamentos podemos citar o Aquachip, a Tatuagem Numeral, a Programação extra prova, o Guia Atleta, o Congresso Técnico dias antes da prova, o Tema da Temporada, a personalização do Kit atleta e os avanços no sistema de segurança de prova. Fabricio aponta que essas novidades ajudaram também a conectar ainda mais o nadador com o evento e os locais de disputa.
“O Mares surgiu com um propósito muito forte de proporcionar uma experiência esportiva ímpar para o atleta. Tendo ou não uma ótima performance o atleta passou a experimentar no Mares o ambiente e o profissionalismo de competições oficiais. Unimos isso a seleção especial dos locais das competições, que passaram a ser um atrativo turístico para o atleta e acompanhantes por se tratar das mais belas praias do litoral de São Paulo. A partir disso, o atleta amador passou a ter sua representatividade, e passou a compreender e explorar mais o turismo esportivo. Claro que esse conceito não foi criado por nós, mas certamente, ao entendermos tudo isso e focar o projeto nessa linha de trabalho, as águas abertas passaram a ocupar um espaço diferente e em franca ascensão entre os esportes outdoor”, afirma Fabricio.

Em agosto de 2014 foi a vez de colocar a ideia em prática. E essa primeira experiência foi uma grande missão para toda a equipe envolvida. Fabricio recorda que aconteceram inúmeros desafios pré-evento, como a compra de insumos, a contratação de staff, o relacionamento com as cidades sedes, a forma de divulgação para atrair atletas, etc. Era algo novo que ele e sua equipe estão lidando pela primeira vez, mas entre erros e acertos, tudo deu certo para que a primeira edição fosse disputada.
A etapa inaugural do circuito estava longe dos números que ostenta atualmente. Cerca de 250 atletas participaram do evento, sendo que a maioria era composta por amigos treinadores de Fabrício e suas respectivas equipes. Os organizadores encararam o resultado de forma positiva e com esperança de atingir um grande público no futuro. Lições foram aprendidas e estavam prontas para serem colocadas em prática. Sobre aquele dia, Fabricio lembra perfeitamente do esforço feito pela sua equipe para colocar o projeto em pé.

“Sem dúvida, foi uma grande experiência para mim e para equipe. A complexidade da produção de um evento com essas características é muito grande, a atenção e a energia vão ao limite, em especial em uma estreia sem muita experiência. Me lembro que após o evento não conseguia guiar o carro de volta para São Paulo. Estava exausto e com muito sono, dirigindo a 40 km/h na rodovia. Tive que passar o carro para uma amiga que estava no carro, que mesmo sem experiência no volante, trouxe a gente de volta em segurança, lembra, comparando que executar aquela prova na época era bem mais complexo de que organizar o Circuito Mares nos dias de hoje.
Pouco mais de dois meses depois, em 16 de novembro, o time do Mares já se preparava para a segunda etapa, na Praia do Perequê, na cidade de Ilhabela. O que o leitor mais atento deve ter percebido é que as duas primeiras etapas aconteceram no segundo semestre de 2014, que nos leva a supor que apenas duas etapas seriam realizadas na primeira temporada, correto? Errado. Ao todo seriam quatro etapas, com as outras duas sendo disputadas no primeiro semestre de 2015: no dia 1º de março Ubatuba, na Praia da Enseada, e no dia 12 de abril em São Sebastião, na Praia do Toque-Toque Grande. Em 31 de maio aconteceu em Ilhabela, uma prova especial em revezamento para premiar os atletas da temporada 2014/2015.

A inusitada escolha de datas fazia do Circuito Mares o único do país a ser realizado uma parte em um ano e a outra no ano seguinte, formato conhecido por aqui graças a temporada do futebol europeu ou da NBA, a liga de basquete dos Estados Unidos. Mas qual o motivo para fazer um formato inovador de calendário? Fabrício explica:
Do lançamento até a pandemia o Circuito tinha seu início na primavera e o final no outono do ano seguinte. Isso surgiu da ideia de acompanharmos a temporada europeia, aproveitarmos mais as estações de calor e diferenciar o evento no mercado. Foi bem interessante. O público demorou um pouco para entender a dinâmica, mas sempre chamou bastante atenção. Com a pandemia e todo o tempo que ficamos parados, acabamos por voltar logo que foram liberadas as atividades, assim nos enquadramos nas temporadas dentro do ano vigente”, conta.
Além desse calendário peculiar, das provas serem realizadas no prestigiado litoral de São Paulo e premiar atletas no fim da temporada através de um ranking de pontos, o Circuito Mares tornou-se com o tempo um dos mais procurados e desejados pelos nadadores de águas abertas, se consolidando como um dos principais do Brasil.

Estabelecimento: se firmando como um dos maiores circuitos do país
Os anos seguintes apenas confirmaram o crescimento do Circuito Mares em termos de procura de atletas e popularidade. Mesmo enfrentando uma forte concorrência de outros eventos, alguns mais tradicionais e frequentados pelos nadadores, o torneio foi ganhando terreno e conquistado seu espaço. Mantendo a média de quatro a cinco provas por temporada e a filosofia de definir o esporte como um estilo de vida e conexão com a natureza, o Mares tornou-se uma competição que já estava na “boca do povo”.
“Na primeira temporada, 2014/2015, terminamos com média de 400 atletas participantes. Na segunda temporada, 2015/2016, a média foi de 650 atletas, o que já nos colocava entre os maiores eventos de águas abertas na época. Na terceira temporada, 2016/2017, passamos a fazer o circuito em cinco etapas válidas para o ranking, terminamos com média de 850 atletas. E nesta época tivemos uma prova em Ubatuba com a participação de mais de mil atletas pela primeira vez. Foi um marco para nossa equipe”, recorda Fabricio.

Colaborou para o crescimento de popularidade do Circuito Mares, a ideia de promoção da maratona aquática, a distância olímpica de 10 km. Nas palavras de Fabricio, essa imponente distância também ajudou a atrair atletas. “Nos dois primeiros anos a quinta etapa do evento era uma etapa festiva, com um modelo de prova diferente. Tínhamos a ideia de promover a distância da maratona que é de 10 km e nesse último evento da temporada tinha uma prova de 10 km solo, em dupla, ou em revezamento 4x2500m”, afirma relembrando que era uma prova interessante, mas difícil de se executar.
Ao atingir casa de mil atletas, o Circuito Mares se consolidou de vez como um dos principais eventos da natação em águas abertas do Brasil. Além de conquistar o público caseiro, do estado de São Paulo, atletas de outras regiões do Brasil passaram a viajar ao litoral norte paulista para disputar a competição. E juntamente com o sucesso da natação, a equipe do evento resolveu adicionar mais duas modalidades: o aquathlon e a corrida de rua.

O aquathlon é uma modalidade que sempre esteve presente em diversos eventos de águas abertas no Brasil, principalmente pela sua dinâmica e pelo fato de muitos atletas gostarem de correr, além de ser uma porta de entrada para o mundo do triathlon.
Já a corrida de rua sempre foi uma das modalidades mais praticadas e procuradas pelos brasileiros. É praticamente impossível não haver pelo menos um evento de corrida de rua nas grandes cidades do país aos fins de semana. Por ser um esporte acessível e democrático, tornou-se uma opção ao Circuito Mares que oferecia algo que alguns eventos em São Paulo não eram capazes de oferecer: a vista da praia. Afinal, quem não gosta de correr de frente para o mar?
Ambas as modalidades entraram no circuito na segunda temporada (2015/2016), com o aquathlon tendo percurso de 1 km de natação e 5 km de corrida e a corrida tendo percurso de 5 km. Em 2019 o Circuito Mares passou a realizar provas de stand up paddle e em 2025 de paddleboard, duas competições de prancha que além de trazer um público novo ao evento, também atraem nadadores para realizarem novos desafios.

Para Fabrício, a inclusão destas modalidades foi importante para consolidar ainda mais o evento. “Com o tempo ficou ainda mais claro para mim o conceito de atleta, que difere bastante da ideia convencional da palavra. Eu mesmo parti da natação para a corrida e o ciclismo, em pouco tempo estava no triathlon e me interessava em todos os esportes outdoor, surf, montanhismo, paraquedas, caiaque, sup, enfim, passei a entender que ser atleta é um estilo de vida, um propósito a qual você se conecta e não se desprende mais. Isso não tem a ver com a modalidade que você prática. Agregar o aquahlon, a corrida, o SUP e mais recentemente o paddleboard, é um movimento natural para mim. Mesmo que essa “tribo” não seja exatamente a minha, me sinto à vontade em praticar e tenho certeza que o esporte se favorece com esse pensamento. Algumas modalidades precisam de um olhar diferente ainda para se desenvolver em sua plenitude. E pode vir mais novidade ainda pela frente”, afirma.
A fama do Circuito Mares não se deu apenas devido aos locais escolhidos para disputa, belas e tradicionais praias acostumadas a receber eventos de águas abertas e a adição das novas modalidades. Outros pontos foram essenciais pelo sucesso do Circuito Mares: sua organização, as características e provas do evento e a participação de referências das águas abertas em suas etapas.

Referente a organização, Fabricio afirma que é necessário oferecer uma grande estrutura aos participantes, pensando na segurança e conforto dos mesmos. “A segurança é fundamental em um evento desse porte. Além do investimento direto em equipe e equipamentos para prover essa segurança acredito que a prevenção é fundamental. Para isso é preciso seguir um longo protocolo de ações e treinamento de equipe. Muitas coisas podem acontecer e muitos fatores externos influenciam, portanto é preciso realmente levar a séria a preparação para um evento a fim de mitigar os riscos”, conta.
Ele ainda lembra que eventos já foram cancelados pensando no bem-estar dos atletas e que uma das missões do Circuito Mares é educar o público sobre os riscos de se praticar uma modalidade outdoor. “Segurança é um fator que nós levamos a sério, e muito! Já cancelamos eventos, adiamos largadas, alteramos metragens de modalidade, tudo com o foco de preservar o atleta. Um dos fatores que eles mais valorizam no Mares é a nossa capacidade de operar grandes massas de atletas com total segurança, gerando confiança e tranquilidade nos treinadores, familiares e atletas participantes. Antes de tudo, somos humanos e sabemos que segurança é imprescindível para a prática de eventos a céu aberto”, pontua o idealizador do evento.

Fabricio define ainda o Circuito Mares não como mais um evento, mas sim como um ecossistema. “É um espaço onde treinadores, equipes, famílias, negócios turísticos locais, cidades sedes e equipe, fazem a roda girar, economia local ser positivamente impactada e milhares de atletas realizarem o objetivo de realizar uma travessia em alto mar com total segurança e qualidade no atendimento”, finaliza.
No próximo capítulo trazemos a segunda parte desta minissérie, contando mais detalhes sobre as particularidades, características e a credibilidade forjada pelo Circuito Mares ao longo do tempo. Aguarde!
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Como atleta, fiz parte da inauguração do Circuito Mares! Já fazia parte da Assessoria Interativa do Fabrício . Realmente a realização deste sonho, foi um marco para este grande nadador, técnico e grande amigo de longa data!
Sinto muito orgulho de vê-lo crescer cada vez mais, nos oferecendo lazer, esporte e união da família num fim de semana com muitas atividades e o mais importante,
com muita responsabilidade !
Vida longa ao CIRCUITO MARES!
Acompanho o evento desde o início.
Acredito que poderiam fazer mais e melhor.
A inclusão dos atletas longevos está sendo comprometida pelo fato de não respeitarem TODAS as faixas etárias definidas pelas próprias modalidades esportivas. Ao deixar de respeitar as faixas etárias, ou seja, ao NÃO incluir os 65+, 70+, 75+ e assim por diante, não só desrespeitam os critérios da própria natação, como excluem a possiblidade de tais atletas provarem sua performance dentro da respectiva faixa. Assim sendo, Mares pratica o IDADISMO, preconceito tão combatido atualmente, pois impossibilita tais atletas de serem considerados, respeitados e admirados pelos mais jovens que, um dia, também serão esses longevos. Esses atletas quebram paradigmas e resgatam o longevo para dentro da sociedade atual provando que são o exemplo da longevidade saudável. Ao excluí-los Mares reforça o preconceito.
Meu primeiro Circuito Mares foi em março de 2017 em Ilhabela. Estreei na equipe Edu Modenez Águas Abertas nadando o combo de provas, Marathon e Short. E não parei mais… agora nado a prova de 5k Challenge. Sem dúvida, nenhuma, o melhor circuito de águas abertas!