Aos 16 anos, Ye Shiwen chocou o mundo e tornou-se a mais jovem nadadora chinesa a conquistar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Em Londres-2012 ela quebrou o recorde mundial nos 400m medley e surpreendeu o mundo com uma última parcial fortíssima. Ainda naquela Olimpíada ela viria a sagrar-se campeã também nos 200m medley. Depois de Londres a chinesa sofreu com as dores do crescimento e com a pressão. Agora, aos 24 anos, Ye está de volta.
Em uma entrevista para o site da Federação Internacional de Natação (FINA), ela contou sobre sua volta ao alto nível depois de conquistar duas medalhas de prata no Campeonato Mundial de Gwangju-2019. “Meus primeiros anos foram muito tranquilos para ganhar esses títulos antes de 2013. Depois, sofri com a forte pressão mental e dores de crescimento. Estava em baixa, embora meu treinamento tenha sido muito bom. Porém, sempre que competia ficava com medo. Queria ganhar tanto que temia perder por muito tempo. Estava deprimida por não poder atender às altas expectativas de mim mesmo e dos outros. Não sabia como me expressar”, comentou a chinesa.
A nadadora comentou também que seu momento mais difícil foi quando não conseguiu dormir bem e chorou muito ainda na água. “Ninguém podia ver minhas lágrimas e reclamações. Quase desmaiei por causa da pressão. Felizmente, meus pais, treinadores e companheiros de equipe me apoiaram. Eles esperaram por mim e não me forçaram a vencer ou nadar. Eles apenas me pediram para relaxar e me incentivaram a resolver os problemas detalhados. Eles me deixaram tomar a decisão de nadar ou não nadar”, comentou.
Ye deixou de nadar por um tempo e passou a estudar integralmente na Faculdade de Direito da Universidade de Tsinghua durante os anos 2017 e 2018. Com muita saudade de nadar, decidiu voltar no final de 2018. “Levei muito tempo para ignorar as dores do crescimento e os altos e baixos. Depois de tirar um ano de folga da piscina para viver uma vida sem nadar, percebi que ainda sou louco por nadar. Mas não tenho mais fome de vitória e não tenho mais medo da derrota”, continuou.
A nadadora ainda tem o sonho de ganhar mais medalhas de ouro em Olimpíadas. “A natação ainda é minha prioridade na vida. Agora me sinto mais relaxada e confiante em mim mesmo. A piscina é como um playground e me divirto muito na água. Quero mostrar o meu melhor nos Jogos de Tóquio e estou curiosa para saber até onde posso chegar na piscina. É como um enigma esperando que eu abra”, disse.
Perguntada sobre Katinka Hosszu, atual campeã olímpica e mundial dos 400m medley, sobre ser sua maior rival, a chinesa confirmou. “Ela é um modelo para mim e a respeito muito. Ela ganhou sua reputação como a Dama de Ferro e acho que merece. Katinka nunca desistiu de sua carreira e também superou as dificuldades em seus momentos difíceis. Conversei com ela e foi legal por ter me encorajado a não desistir. Somos rivais, mas competimos contra nós mesmos, sem os outros. Sempre há muitos nadadores excelentes nas provas de medley e todos têm a chance de vencer”, comentou.
Durante a quarentena a chinesa fez mais exercícios fora d’água. “O vírus mudou nossas vidas nos últimos meses e talvez por mais tempo do que esperávamos. Mas se todos nós enfrentarmos a situação com proteção total, poderemos finalmente vencer a batalha contra ele. Por outro lado, acho que posso ter uma preparação mais longa e melhor para meus terceiros Jogos Olímpicos. Posso fazer muitas coisas durante o adiamento de um ano. Desta vez, quero aproveitar e fazer o meu melhor”, finalizou.