Dia das mulheres brilharem no Centro Olímpico de Coimbra, e de que maneira.
Ana Rodrigues bateu o recorde absoluto de Portugal dos 50m bruços nas eliminatórias e nas finais, e na prova mais empolgante do dia, os 100m mariposa, foi a mais nova das favoritas – Carolina Fernandes – a levar a melhor.
Onze anos separam a experiente brucista Ana, olímpica em Londres 2012, da jovem mariposista Carolina, mas ambas estiveram em muito bom nível ao terceiro dia de Campeonatos de Portugal.
A atleta da Escola Desportiva de Viana bateu nas eliminatórias o seu próprio recorde de Portugal (31.35), que obteve há exatamente cinco anos e um dia (1/4/17) nesta mesma cidade. Cumpria assim também o mínimo para o 36º Campeonato da Europa em Roma (31.46), e ficava apenas a dois centésimos do mínimo para o Mundial de Budapeste (31.22). Por isso a expectativa era grande para a final…Ana acabou por melhorar o recorde nacional em um centésimo, mas ficou a igual diferença do mínimo ‘mundialista’.

No final do dia disse: “este recorde e mínimos para o Europeu eram o objetivo para esta competição. Sabia que podia melhorar porque temos trabalhado todos os pormenores. De manhã arrisquei para não desperdiçar a oportunidade; e de tarde, na final, correu bem e fiquei a um centésimo dos mínimos para o Mundial, que irei continuar a tentar.”
Quanto a objetivos futuros demonstrou ambição: “estamos a trabalhar para baixar a barreira dos 31 segundos. Fiz algumas alterações há um ano e isso fez a diferença com um trabalho específico a apostar em todos os pormenores,” concluiu a atleta, treinada pelo seu companheiro, Rafael Ribas.
Carolina dominadora na final de 100m mariposa
Os 100m mariposa femininos eram uma das provas mais aguardadas destes Campeonatos de Portugal, e não defraudaram as expectativas.
Duas gerações na água para lutar pelo título de campeã absoluta: a semifinalista em Tóquio 2021 nos 200m mariposa, Catarina Monteiro (nascida em 1993) vs. a sénior de primeiro ano Mariana Cunha (2004, e finalista no Europeu Júnior de 2021) vs. a júnior Carolina Fernandes (2005).
Aliás, esta final caracterizou-se pela juventude da maioria das dez finalistas, em especial as três juniores e duas seniores de primeiro ano.
Carolina e Mariana deram o mote, passando aos 50m em primeiro, com 28.06 e 28.07, respetivamente. Catarina era apenas quinta em 28.94. Mas as suas características de nadadora de 200m vieram ao de cima na segunda metade, em que atacou e efetuou a melhor segunda parte das finalistas, 31.56, acabando a atleta do Fluvial Vilacondense em 1:00.50.

Mas Mariana (Colégio Efanor) e Carolina (Galitos) não quebraram, e fecharam em 32.31 e 32.14 para a mais nova, que acabou por se sagrar campeã de Portugal em 1:00.20, cumprindo novamente (já tinha) o mínimo (1:01.69) para os Europeus de Juniores em Bucareste (Roménia), mas também para os Mundiais(1:00.48), que estavam agendados para Kazan (Rússia), e a quem a FINA retirou a organização na sequência da invasão da Ucrânia.
Mariana foi vice-campeã absoluta em 1:00.38, obtendo apesar de tudo a sua melhor marca da época e terceira pessoal de sempre.
Perguntei à jovem dos Galitos de Aveiro se este era o resultado previsto, ou se até superou, e disse-me: “estou a cumprir com os objetivos que eu e o meu treinador (Élio Terrível) delineamos para esta época, como os mínimos para os europeus e para o mundial.”
A ambição continua (é o ‘motor’ de qualquer atleta), e por isso acrescentou: “, agora um dos objetivos é chegar a uma final no europeu e representar bem Portugal e o meu clube.” E a quem agradece Carolina? “Os agradecimentos vão para os meus pais, para os meus treinadores, para o clube e para os meus colegas de equipa que me motivam todos os dias.”
Fechado o ciclo do tri-olímpico Diogo Carvalho (que se despediu no final de 2021 de uma carreira de 20 anos) já Élio Terrível encontrou novo tesouro, agora no feminino (ver progressão em baixo).
Aliás, também outra jovem do Galitos, Maria Carolina Almeida, foi a segunda melhor júnior na final, e as marcas mais pontuadas em juniores femininos até ao momento pertencem a estas duas Carolinas de Aveiro.
Progressão dos recordes pessoais de Carolina | |||
Marca | Pontos | Data | Local |
1:00.20 | 782 | 02/04/2022 | Coimbra |
1:01.41 | 737 | 12/03/2022 | Coimbra |
1:02.28 | 706 | 01/08/2021 | Oeiras (2º ano de confinamento) |
1:03.65 | 662 | 01/02/2020 | Póvoa de Varzim (1º ano de confinamento) |
1:02.99 | 683 | 24/07/2019 | Baku (Azerbeijão) |
1:03.83 | 656 | 21/07/2018 | São João da Madeira |
1:07.00 | 567 | 15/06/2017 | São João da Madeira |
Miguel, Gabriel e Diogo
E em homens nada a destacar? Menos recordes, é certo, mas Diogo Ribeiro e Miguel Nascimento (essa dupla…) voltaram a destacar-se, assim como Gabriel Lopes. O olímpico da Louzan nadou ‘sozinho’ e venceu os 200m estilos, e com uma boa marca: 2:00.88, bem próximo do mínimo Europeu (2:00.30), ele que já está apurado para Roma e para o Mundial de Budapeste com a marca de 23 de dezembro último (1:59.34, a sua terceira melhor de sempre).
Na eliminatória dos 100m mariposa Diogo melhorou o próprio recorde nacional júnior/18 anos (53.07), com 52.85, uma belíssima marca, sendo agora o único júnior europeu do ano em menos de 53 segundos. Cumpriu tranquilamente os mínimos para as competições juniores: Europeu (55.25) e Mundial (54.16).
Ainda na jornada matinal a ‘máquina’ de produzir recordes e mínimos nadou os 200m livres e…mínimo para o Europeu da categoria com 1:52.53 (era 1:53.68).

Para a tarde a expectativa era de uma final disputada, e não defraudou, embora Diogo não tenha estado bem. Tendo nadado meia hora antes a final de 100m mariposa (e com nova marca de registo) o jovem de 17 anos – talvez também entusiasmado com os três últimos dias alucinantes – quis começar muito rápido, realizando 52.34 aos 100m (!) contra os 54.24 da eliminatória. Acabou por acusar o esforço e quebrar, terminando em 10º e último da final em 1:56.20.
Na luta por um lugar na estafeta que os possa levar ao Campeonato Europeu, Tiago Costa (Sporting) venceu a animada final em 1:51.17, com Bruno Ramos (Belenenses) a ser segundo em 1:51.61, e Tomás Lopes (Vitória de Guimarães) em 1:51.81 a ser terceiro.
O júnior do Sporting Bernardo Almeida foi 8º em 1:53.76, apenas a oito centésimos de segundo do mínimo para o europeu da categoria.
Na tal final de 100m mariposa em que Diogo cumpriu novamente os mínimos para o Europeu e Mundial da categoria (com uns bons 53.23), o colega do Benfica e do CAR Jamor, Miguel Nascimento alcançou novo recorde pessoal, vencendo em 53.06 (tinha 53.24 já desde 2017).
Fernando Silva (Naval do Funchal) foi bronze em 53.62. o mínimo para o Europeu em Itália é 52.28.
A concluir, referência para os bons 400m livres de Tamila Holub (SC Braga), em 4:14.23. Não muito longe ficou a colega olímpica Diana Durães (SL Benfica) com 4:15.70; Francisca Martins (FOCA – Felgueiras) foi terceira em 4:20.31.