“Foi um congresso muito difícil!” disse a SWIM CHANNEL António Silva no final do congresso extraordinário da LEN, que ontem o elegeu novo presidente em Frankurt (Alemanha), com 96% dos votos de 47 países presentes mais três via online.
O presidente da Federação Portuguesa de Natação torna-se no primeiro português a chegar à presidência da importante organização aquática europeia (no futuro, provável ‘European Aquatics’), responsável por milhões de praticantes nos 52 países membros, nas disciplinas de natação, polo aquático, saltos para a água e saltos de grande altura, natação artística, águas abertas, e masters.
Antes, este pequeno-grande país europeu, e com apenas duas medalhas nos Campeonatos continentais absolutos, já tinha tido Victor Nogueira como membro do ‘bureau’ (2004~2012) e Paulo Frischknecht (entre 2012~2013, e depois seu diretor executivo por mais 4 anos).
Barelli faz ataques duros a Silva na despedida
O congresso extraordinário fora pedido pelo movimento ‘Europeu for all aquatics’ (E4AA), formado a partir de setembro último em protesto contra a presidência do italiano Paolo Barelli, 67 anos, duas vezes nadador olímpico, desde 2012 na liderança da Liga Europeia de Natação; vai já, também, no 6º mandato à frente da Federação Italiana (FIN), que curiosamente – segundo Silva – se absteve na votação final de eleição, a par de Malta e Luxemburgo, sendo a Ucrânia o único país a votar contra.
“Foi um congresso muito difícil e houve muitas acusações por parte de Barelli” no seu discurso final, disse-me António Silva, tendo o presidente cessante manifestado preocupação quanto ao caminho que levará a reformas e à prometida transparência pelo movimento ‘E4AA’.
Num discurso de 2 páginas Barelli culpou a FINA e a nova presidência (desde junho) por “tentar controlar as organizações continentais – e neste caso a LEN – através de ‘yes-men’ que nada fizeram até ao momento pelos desportos aquáticos europeus”, referiu num tom duro e entre outras acusações de foro pessoal.
Sem dúvida que o programa do novo elenco diretivo é bastante ambicioso, e os restantes países não deixarão de estar atentos e de ‘cobrar’ as promessas eleitorais; para já ficou prometido um congresso para apresentação dos resultados dos primeiros 100 dias de gestão da nova equipa, que terá pela primeira vez na história da LEN (fundada em 1927) uma mulher como secretária geral, a ex-nadadora artística Andida Bouma (ver elenco completo no final).
Presidente da FINA apadrinha eleição
Uma das críticas feitas à LEN de Barelli pelo movimento agora eleito era o afastamento e progressivo isolamento da FINA e do caminho que o novo presidente está a traçar para a futura ‘World Aquatics’ (a mudança de nome está mesmo em cima da mesa).
Assim, Silva, de 52 anos (membro recente do ‘bureau’ da FINA, desde 2021) será o ‘braço’ do organismo mundial no Velho Continente, sendo apadrinhado ontem pelo presidente Husain al-Musallam, que por via online se dirigiu aos membros do congresso da LEN.
“Gostaria de dar os parabéns à família LEN pela conclusão bem sucedida neste importante congresso, que é importante para o futuro da LEN e de todos os desportos aquáticos pelo mundo fora”.
O líder mundial acrescentou, não deixando dúvidas sobre a sua mensagem: “é tempo de trabalharmos como uma família; o nosso objetivo deve ser apoiar o movimento aquático e os nossos atletas em todas as medidas que tomemos. Todos podem ter diferentes opiniões, mas devemos estar unidos para apoiar o desenvolvimento dos desportos aquáticos”.
A concluir o capitão do exército do Kuweit, sr. Husain al-Musallam, declarou aos presentes: “a Europa é muito importante para o mundo, e o mundo precisa da ajuda da Europa. Com o novo presidente [da LEN] e a sua equipa, a FINA conta com a Europa para apoiar o desenvolvimento dos desportos aquáticos”.
‘Santo’ António, amado e odiado
É relativamente comum que muitos líderes sejam amados pelos seus seguidores, mas também odiados por aqueles que – supostamente – o conhecem bem e com ele trabalharam e privaram, desiludindo-se.
Mas poucos casos conheço no desporto português em que as diferenças sejam tão radicais, quase inacreditáveis, como se de duas pessoas estivéssemos a falar.
Com frequência me chegam relatos do que será o ‘pior’ de António Silva, de um “homem sem palavra, e com quem trabalhar foi uma pura desilusão”, dizem-me. E nas redes sociais as críticas não são menos ferozes.
No extremo oposto da barricada temos os seus fiéis seguidores, por vezes de forma quase religiosa, ‘santificando’ um homem que operou ‘milagres’ na natação portuguesa.
Faltam, naturalmente, os tão desejados resultados desportivos de topo, de uma federação que o presidente se orgulha de dizer ser a segunda com mais atletas filiados em Portugal (logo a seguir ao futebol): mais de 140 mil, número fantástico num país com hábitos desportivos que são dos piores da Europa, e com 10,4 milhões de habitantes. Para a natação o presidente da FPN quis “mudar o paradigma” e foi buscar um dos melhores do mundo, o luso-brasileiro Alberto Silva, em funções como ‘head coach’ desde 1 de setembro último.
Entre os acólitos de Silva estão, naturalmente, membros da sua direção na FPN; e um deles dizia-me mesmo, há poucos dias (e com alguma pouca modéstia) que esta direção da “FPN tem uma obra ímpar, e não me restam anos de vida suficientes para ver alguém fazer tanto e tão bem como nós…” E o dirigente não é propriamente velho…
Da ex-colónia portuguesa Moçambique, onde nasceu, para a mais distante região de Portugal continental, Trás-os-Montes, o ex-nadador e ex-técnico António Silva chega agora ao mais alto cargo da sua vida.
No final do direto (‘live’) exclusivo que com ele fizemos há uma semana, perguntei onde se via dentro de 10 anos, e quais as suas ambições; chegar à presidência da FINA, cargos políticos no seu país? Disse-me que se via tranquilamente a “bater uma bolas” no seu outro desporto favorito, o golfe. Algo me diz que isso está longe de ser verdade.
Novo elenco diretivo da LEN
Presidente: António José da Silva (Portugal)
Secretária-geral: Andida Bouma (Países Baixos)
Tesoureiro: Tomas Kucinskas (Lituânia)
Vice-Presidentes:
Kyriakos Giannopoulos (Grécia), Christer Magnusson (Suécia), Gilles Sezionale (França), Marco Troll (Alemanha) e Josip Varvodic (Croácia)
Membros:
Jack Buckner (Grã-Bretanha), Ewen A. Cameron (Suíça), Fernando Carpena (Espanha), Rokur i Jakupsstovu (Faroé), Pia Johansen (Dinamarca), Milos Mracevic (Montenegro), Petr Ryska (R. Checa), Erkan Yalcin (Turquia) e Noam Zwi (Israel)
Membros indicados pela LEN para o ‘Bureau’ da FINA (a ratificar por esta):
Kyriakos Giannopoulos (Grécia), Otylia Jedzrejczak (Polónia), Josip Varvodic (Croácia) e Sami Wahlman (Finlândia)