Adherbal de Oliveira foi quem abriu o revezamento campeão da Navegantes – Foto: Desafio 7 Mares/Facebook
Os revezamentos em piscinas, possivelmente estão entre as disputas mais emocionantes do cronograma de provas de natação. Seja em campeonatos das categorias de base até os super prestigiados Jogos Olímpicos.
Nas águas abertas, aos poucos, os revezamentos estão cada vez mais dentro da modalidade. A Fina (Federação Internacional de Natação) informou neste mês que no Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste-2017, haverá a prova de 10 km em revezamento. Uma notícia que pode tornar a modalidade ainda mais atrativa e também dinâmica.
Neste último fim de semana, aconteceu a 49ª edição da Travessia Caraguá-Ilhabela, e paralelamente a 6ª edição em formato de revezamento. O percurso não é fácil, com 22 km de distância entre a Prainha em Caraguatatuba e Perequê em Ilhabela. Indo de encontro ao DNA da SWIM CHANNEL, onde jornalismo e esporte se misturam, tive o prazer de participar e vencer a edição de 2002 pelo time da Fórmula Academia. Naquele ano, as correntes eram tão fortes que entre as 20 equipes participantes, apenas a da Fórmula Academia conseguiu concluir o percurso. Isso enaltece o fato de que nas águas abertas, a imprevisibilidade faz parte da competição e que não basta apenas ter bom condicionamento físico, é preciso ter estratégia.
A edição de 2016 foi marcada pela gratificante presença de duas equipes dos Estados Unidos e também pela acirrada disputa entre dois times com experientes nadadores: Atlantis, do estado de São Paulo e Navegantes, do Rio de Janeiro.
Em provas de revezamento, analisar individualmente cada atleta, não é suficiente para apontar um favorito. A equipe Atlantis era formada por Samir Barel (primeiro nadador brasileiro a completar a tríplice coroa mundial das águas abertas), Glauco Rangel (dez vezes campeão paulista absoluto), Raul Porto (atleta que já venceu a tradicional Travessia 14 bis) e Catarina Ganzeli (atleta do Unisanta e que já venceu diversas etapas do Rei & Rainha do Mar). Já a equipe Navegantes, era formado por Aderbhal de Oliveira (recordista sul-americano da Travessia do Canal da Mancha), Carlos Rosa (vice-campeão da travessia do Lago Paranoá e curiosamente atleta PNE), Andre Castelucio (campeão do circuito XTerra Swim Challenge 2015) e Patrícia Farias (primeira nadadora a completar a Travessia do Leme ao Pontal).
Em teoria a equipe Atlantis era mais rápida que a Navegantes, mas nas águas abertas para vencer não basta apenas ser o mais rápido. Mesmo não sendo a favorita, a Equipe Navegantes foi mais eficiente no quesito navegação. Em grande parte da prova, os paulistas lideravam a competição, mas cada equipe foi optando por “raias” diferentes e consequentemente condições distintas.
Renato Ribeiro, head coach da equipe Navegantes, e que cada vez mais vem se especializando em provas de extrema longa distância e é um estudioso das variações que a natureza pode apresentar. Soma-se isso ao fato dos quatro atletas treinarem todos os dias sob seu comando. Observamos o domínio do técnico perante a equipe.
Logo após a largada da prova até 50% de conclusão do percurso, a equipe Atlantis chegou a ficar cerca de 800 metros de vantagem sobre a Navegantes. Mas a partir da metade final, as equipes optaram por traçar caminhos diferentes. A equipe paulista optou por nadar sentido “aberto” longe da costa e a princípio um caminho mais curto em direção e linha de chegada. Já a equipe carioca optou por nadar mais perto da costa de Caraguatatuba.
Fato é que no momento da prova, a corrente em alto mar estava contra e nadar perto da costa, opção adotada pela equipe Navegantes, era a melhor opção. Devidos as condições mencionadas, os cariocas recuperam a distância perdida e ainda conseguiram abrir dos rivais paulistas.
Com 4 horas e 30 minutos de prova, a equipe Atlantis optou por nadar na mesma linha que a Navegantes, e chegou a encostar bastante. Novamente nos 30 minutos finais, a navegação fez a diferença e a equipe carioca escolheu por sair da costa de Caraguatatuba e nadar em direção a chegada em Ilhabela minutos antes da equipe paulista e foi estrategicamente triunfante até o pórtico de chegada.
Ao final de belíssima disputa, a Navegantes conclui em 5h26min02s e a Atlantis em 5h26min16s. Apenas 14 segundos de diferença separando uma equipe da outra num percurso de 22km! Possivelmente a chegada mais emocionante da tradicional travessia. O “clima”, sempre de respeito pelos adversários, foi o mais nobre entre todos os atletas. Em depoimento a SWIM CHANNEL, Samir Barel que competiu pela Atlantis relatou: “Estou feliz pela equipe Navegantes, pois os atletas treinam juntos sempre e sob a orientação do mesmo técnico, são realmente uma equipe exemplar”, disse Samir lembrando que os quatro atletas da Atlantis são bem próximos e amigos, mas não treinam juntos.
Já para Renato Ribeiro, a prova foi uma das mais emocionantes que participou como técnico de natação e espera voltar nos próximos anos. Para 2017, não importa quem vença, a conclusão que chego é que o evento deverá aumentar em muito o número de inscrições e se tornar uma prova cada vez mais “desejada” pelos atletas de longa distância.
Por Patrick Winkler
Excelente materia, descreveu muito bem o que ocorreu nesta linda travessia, uma travessia diferente e empolgante parabens!!!!!