23/7/23: data fácil de memorizar para Diogo Ribeiro e todos nós, pois marca o regresso de um homem português a uma final de um Campeonato do Mundo quase 37 anos depois.
Foi hoje à hora de almoço de Portugal que este bem fresco ‘sushi’ nos foi servido em direto de Fukuoka, onde o miúdo-fenómeno de Coimbra imitou o grande Alexandre Yokochi, que a 21 de agosto de 1986 (com 21 anos) obteve um inédito quinto lugar na final dos 200m bruços (2:17.99).
Com emoção assisti ao vivo a essa prova (foi o meu primeiro de seis Mundiais como jornalista); e hoje, a 11 mil quilómetros de distância, também foi com emoção e ‘receio’ que vi o atleta de Alberto Silva ser quinto na rápida e primeira meia-final de 50m mariposa…é que se quatro atletas da segunda ‘meia’ nadassem mais rápido que o jovem de 18 anos teríamos o sonho desfeito; e foi sofrer até ao fim…até termos os resultados finais: Diogo foi o 7º melhor com 23.04 (903 p. FINA/WA), escapando ao empate no 8º posto (23.05) entre Simon Bucher (Áustria) e Dylan Carter (Trinidad T.), que obrigaria ao ‘swim-off’ de desempate e a consequente desgaste (já agora, venceu Bucher com 23.10).
A marca é a sua segunda de sempre, apenas a oito centésimos de igualar o tempo que lhe deu o recorde europeu e mundial júnior (22.96) e um dos três títulos mundiais da categoria em Lima (Peru) em setembro último; será – claro – o mais jovem dos oito finalistas na segunda-feira pelas 12h46, nadando na pista um.
A anterior segunda melhor marca eram os 23.07 com que obteve o bronze no Europeu de Roma há um ano, repetindo – também – o feito de Yokochi de subir ao pódio, pois em 1985 foi prata no Europeu de Sofia (200m bruços).
Nas eliminatórias já dera um sinal muito positivo, com 23.14 (à data a quarta melhor marca de sempre), e um motivante sexto lugar.
Agora é sonhar
Não havendo até ao momento declarações disponíveis do MVP do dia, recordamos as que deu em Lisboa, à partida para o Japão: que uma medalha “é sempre um sonho para qualquer atleta; se tudo corresse cem por cento bem, acredito que seria possível…e que [caso fosse apurado, como foi] estando numa final, tudo pode acontecer”.
É, pois, acreditar em si e no processo; na equipa técnica do Centro de Alto Rendimento do Jamor e do seu clube (Benfica), sentir o apoio da família, presente em peso no Japão, e dos inúmeros admiradores anónimos que querem ver Diogo ultrapassar o quinto lugar de Yokochi (algo que o próprio quererá, estou certo).
Analisemos a concorrência com frieza: é fortíssima, óbvio, com o francês Maxime Grousset a parecer lançado para as medalhas e talvez para o ceptro mundial, depois do duplo sinal que deu, com dois recordes nacionais. Fez 22.74 de manhã e 22.72 nas ‘meias’, ele que foi prata em Roma ‘22, sendo o italiano Thomas Ceccon primeiro.
O transalpino também tem como recorde pessoal 22.79, e juntamente com a boa surpresa Dare Rose (20 anos, EUA, 22.79 nas ‘meias’) serão, na minha opinião os mais fortes candidatos à vitória.
Atenção a Ben Proud (GB) que nadou em 22.96 mas tem como melhor 22.75, e ao seu jovem compatriota Jacob Peters, que fez 22.92 à tarde, mas já nadou em 22.89 em abril último. A não esquecer também o surpreendente egípcio Abdelrahman Sameh, a nadar nos EUA e com ótima progressão esta época.
Será uma final disputadíssima, e onde os pormenores farão – mais uma vez – a diferença. Pela partida Diogo deu boas indicações: o seu tempo de reação foi 0.59, o mais rápido dos 16 semifinalistas, junto com Proud e Bucher. Quanto ao resto, percurso subaquático, técnica, estratégia e chegada, entre outros, o muito experiente ‘mister’ Alberto Silva e equipa se encarregarão de aconselhar o brilhante talento luso.
Gabriel a centésimos do seu recorde
Nos 100m bruços de hoje Gabriel Lopes (Louzan/CAR Coimbra) nadou em 1:01.69, e ficou a escassos cinco centésimos do recorde pessoal, que lhe deu o 32º posto em 69 atletas.
A marca não preocupa, e é claramente a sua segunda melhor de sempre na prova, deixando boas indicações tanto para a grande aposta – os 200m estilos, dia 26 – como para o mesmo percurso na estafeta de estilos, do último dia (30).
Nos 50m mariposa Miguel Nascimento (SLB/CAR Jamor) deve ter sentido que poderia ter feito um pouco melhor: os seus 23.95 são a melhor marca pessoal do ano, é certo, mas já nadou por três vezes em menos de 24s., todas em 2022, tendo como recorde 23.49. Foi 42º classificado em 91 atletas (uma das provas mais concorridas).
Referência final para Andrii Govorov (Vitória SC/CAR Jamor), que não conseguiu o apuramento para a meia-final desta mesma prova, e que seria o grande objetivo. Foi 21º em 23.44, e esta época já fez 23.40; para mais, vendo que o acesso às ‘meias’ foi 23.36.
‘Leão’ Marchand histórico
Noutros artigos em Swim Channel encontrarão mais detalhes sobre um primeiro dia que foi fan-tás-ti-co; mas não quero deixar de sublinhar os três recordes do mundo: dois para a Austrália e um para França. E que recordes.
O de Ariarne Titmus aos 400m é incrível (3:55.38), deixando Katie Ledecky a mais de três segundos. Reparo que das oito finalistas só uma era europeia, e terminou em 7º lugar (a alemã Isabel Gose).
Nos 400m estilos autêntica e brilhante passagem de testemunho (que já era expectável, tanto quanto um recorde mundial pode ser), com o jovem Leon Marchand (21 anos) a nadar em 4:02.50 (!) e a pulverizar o mais antigo recorde da natação (4:03.84), e que estava na posse de Mr. Michael Phelps desde 10 de agosto de 2008 nos Jogos Olímpicos de Pequim; ou seja, mais uns dias e completaria 15 anos, sendo que o maior nadador de todos os tempos era detentor (e continuará a ser ainda) do recorde do mundo há mais tempo em vigor numa mesma prova, pois o seu primeiro máximo do planeta nos 400m estilos foi em 2002…
Phelps entregou medalha a Marchand
Na entrega de medalhas foi altamente simbólica a passagem de testemunho, com Phelps a entregar a medalha de ouro a Marchand, treinado (não por acaso) pelo mesmo técnico que Phelps teve toda a vida, o incrível Bob Bowman da Universidade do Arizona.
A Austrália alcançou novo recorde mundial nos 4x100m livres femininos, com 3:27.96, superando claramente os 3:29.69 que o mesmo país obteve nos Jogos de Tóquio 2021.
Recordo que no Mundial de Fukuoka 2001 assisti, nesta mesma piscina do complexo Marine Messe, à última vez que o país – na altura com Ian Thorpe entre outros – liderou o quadro de medalhas num Mundial de longa. Este primeiro dia dá aos ‘dolphins’ esperança de repetir a mesma proeza, 21 anos depois.
No segundo dia nadam por Portugal cinco atletas (horas de PT continental):
Camila Rebelo (CR) – 100m costas – eliminatória às 02h32; ’meias’ às 12h53;
RNA: 1:00.66 (CR, 2022); MMA: 1:01.48 (29/3/23); MO: 59.99
João Costa (JC) – 100m costas – eliminatória às 02h51; ‘meias’ às 12h17
RNA: 53.87 (JC, 2022); MMA: 54.49 (2/4/23); MO: 53.74
Ana P. Rodrigues (AR) – 100m bruços – eliminatórias às 03h09; ‘meias’ às 12h28.
RNA: 1:08.22 (AR, 2023); MMA: (a mesma); MO: 1:06.79
Diana Durães (DD) – 1500m livres – eliminatórias às 03h55; não tem meias-finais
RNA: 16:15.12 (DD, 2020); MMA: 16.59.32 (1/4/23); MO: 16:09.09
Tamila Holub (TH) – 1500m livres – eliminatórias às 03h55; não tem meias-finais
RNA: 16:15.12 (DD, 2020); MMA: 16.16.29 (23/6/23); MO: 16:09.09
Legenda: RNA – recorde nacional absoluto; MMA – melhor marca (pessoal) do ano; MO – mínimo olímpico