Quis o universo que o primeiro recorde nacional absoluto (RNA) do júnior Diogo Ribeiro fosse alcançado na sua cidade de Coimbra, onde viria a alcançar quatro dos seis RNA que rubricou apenas entre 31 de março e 19 de abril.
E quando no passado dia três escrevi aqui na Swim Channel Diogo Ribeiro começou em Coimbra a mudar a face da natação portuguesa – Swimchannel estava bem ciente do que acontecera naqueles quatro dias fantásticos que foram os Campeonatos de Portugal.
Já sabíamos o enorme potencial do menino que veio da ‘cidade dos estudantes’ – pois é lá que se situa uma das mais antigas universidades do mundo, fundada a um de março de 1290 – e que fora formado no Clube União 1912, primeiro por André Vaz, e nos últimos meses da época passada por Vítor Raposo, e que o levaram a uma medalha de prata no Europeu Júnior.
Mas foi com a vinda para Portugal, a convite da FPN, de um dos mestres da natação mundial, Alberto Pinto Silva (acompanhado do biomecânico Samie Elias e do preparador físico Igor Silveira), que começou a mudar a vida daquele que já é um dos mais surpreendentes juniores do mundo esta época, a merecer atenção, inclusive, dos media internacionais da especialidade.

Seis dos oito recordes masculinos são seus
O texto não precisa de ser longo, pois o quadro em baixo diz (quase) tudo:
– que seis dos 14 recordes nacionais absolutos alcançados por atletas portugueses nesta época têm a assinatura de DMR – aka ‘o torpedo de Coimbra’ (e bem mais de seis são também dele, na sua categoria ‘júnior/18 anos’);
– que Diogo tem seis dos oito RNA masculinos, ou seja nada menos que 75%!
– é dele a melhor classificação (à data de 25 de abril) no ranking europeu absoluto (um ótimo quarto lugar);
– são dele também o recorde mais valioso pela tabela FINA (892 p.) e três dos quatro recordes mais pontuados; destaque ainda para a belíssima marca de João Costa, outro grande valor jovem a ter em conta, que tem a melhor posição no ranking em provas olímpicas (6º lugar nos 100m costas!);

– oito dos 14 RNA são em masculinos (Diogo, João e o rejuvenescido Miguel Nascimento), um valor quase equilibrado com o setor feminino;
– dos seis recordes em femininos o mais pontuado é o de Rafaela Azevedo na prova (ainda) não olímpica de 50m costas (com uma considerável diferença para a segunda mais pontuada);
– em provas olímpicas é Camila Rebelo quem tem vantagem, com um belíssimo oitavo lugar na Europa, graças ao surpreendente recorde nos 200m costas;
– aliás, três dos recordes femininos são dela (50%), demonstrando toda a sua evolução nos últimos meses (Ana P. Rodrigues obteve os restantes dois);

Diogo tem 12 mínimos para quatro grandes competições
No quadro decidi incluir também uma coluna com as principais competições para as quais os atletas realizaram mínimos: Campeonato do Mundo de Budapeste (CM), Campeonato da Europa de Roma (CE), e Campeonato do Mundo de Juniores de Lima.
E se consultarem o meu artigo “Diogo Ribeiro não irá ao Europeu Júnior e ao Mundial” – Swimchannel podem ver as datas e as competições em que Diogo poderá – ou não – participar… (ainda não está definido, ou pelo menos, anunciado publicamente).
Isto porque ao cumprir nada menos que 12 mínimos (!) para o Europeu e Mundial Júnior, e Europeu e Mundial absoluto, e estando também previsto nadar os Jogos do Mediterrâneo, Diogo arrisca-se (sem culpa própria) a perder o foco e a não estar verdadeiramente em forma na competição-alvo que seria – segundo Alberto Silva – o Europeu de Roma, embora também o Mundial Júnior, abdicando do Mundial de Budapeste e, claro, do Europeu Júnior nos arredores de Bucareste.

Percebe-se que a importância de um Mundial FINA é enorme (para mais na Europa); por isso a Federação Portuguesa de Natação poderá voltar atrás numa decisão que parecia final (a não presença de Diogo).
Alguns treinadores já manifestaram a sua intenção inicial de não estar presentes na Duna Arena na capital húngara (para a qual Portugal tem cinco apurados), apostando numa forte participação no Europeu em Itália (o qual também agradaria – deduz-se – ao presidente da Liga Europeia de Natação e da FPN, o português António Silva).
A natação lusa tem dez atletas (cinco de cada sexo) com mínimos para Roma nas provas de piscina, mais nas águas abertas e natação artística.

Longo prazo tem de se sobrepor ao curto prazo
A verdade é simples: Diogo Ribeiro está ainda em formação (só a 27 de outubro completa 18 anos), e a visão de longo prazo tem, claramente, que prevalecer sobre o curto prazo, sobre os resultados imediatos e a vontade de o levar a todas – ou pelo menos, a demasiadas – competições, em diferentes países e continentes, com inúmeras viagens e alguma diferença horária (especialmente para o Peru, onde são -6h que em Lisboa).
O atleta antes de tudo; é que, embora em níveis de excelência diferentes, já vimos demasiados juniores em Portugal com potencialidades extraordinárias ficarem pelo caminho; com muitos recordes é verdade, alguns Europeus ou Mundiais, talvez até uns Jogos Olímpicos, mas sem verdadeiramente fazerem história. E Diogo pode, sem dúvida alguma, fazer história na natação portuguesa. É o que todos desejamos.
Os 14 Recordes Absolutos de Portugal 2021/2022 (piscina longa)
(e o que valem pela tabela de pontuação FINA 2022)