Fernando Possenti, técnico da maratonista aquática Ana Marcela Cunha, foi eleito pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) o melhor técnico do ano de 2018. O prêmio, divulgado nesta semana pela entidade, também homenageia o técnico da seleção masculina de voleibol, Renan Dal Zotto.
Possenti e Dal Zotto serão homenageados na cerimônia de premiação do Prêmio Brasil Olímpico, principal prêmio do esporte olímpico nacional, no dia 18 deste mês. O jovem técnico de 39 anos de idade concedeu a SWIM CHANNEL uma entrevista onde fala sobre sua carreira e o recebimento do prêmio. Confira abaixo:
SWIM CHANNEL: Como você analisa a temporada 2018 da Ana Marcela? Saiu tudo conforme o planejado? Na sua opinião qual foi o ponto alto dela este ano?
FERNANDO POSSENTI: Nesta temporada de 2018 ela conseguiu superar as mudanças pelas quais passou. As coisas não aconteceram como planejado. O retorno da África do Sul foi precoce e aí ela teve que se adaptar a São Paulo e depois se adaptar a boa mudança para o Rio de Janeiro. Todas essas mudanças causam uma certa incerteza no atleta e gera uma inquietude. Mas ela conseguiu no meio dessa turbulência que rodeou nosso trabalho, manter o foco no objetivo dela que era ganhar o circuito mundial.
SWIM CHANNEL: Qual foi o ponto alto da temporada dela ?
POSSENTI: O ponto alto foi a prova da Hungria. Ela estava vindo de um resultado não tão bom em Setúbal em Portugal, um sétimo lugar, não tinha se adaptado a roupa de neoprene, tinha perdido a liderança e a diferença de pontos podia ser perigosa. Ai ela foi muito competente de chegar na Hungria, fazer a prova perfeita (como o combinado) e sair de lá com um resultado positivo, retomando a liderança e não a perdendo mais,. Acredito que esse tenha sido o alto da temporada.
SWIM CHANNEL: O que representa para você depois de tantos anos de estrada receber uma premiação dessas do COB? Já em algum discurso preparado para a premiação?
POSSENTI: Apesar de ter bastante tempo de estrada, comecei a trabalhar com 17 anos. Tenho pelo menos 21 anos de carreira, mas comecei a trabalhar com o alto nível recentemente. Sempre treinei as equipes de base e só a partir de 2009 passei a trabalhar com o alto rendimento e em 2013 com a Ana Marcela. Receber esse prêmio é uma honra imensurável. Já tinha recebido alguns outros prêmios como o da FINA, mas receber um prêmio no Brasil é completamente diferente, é receber um reconhecimento ainda mais marcante. Quanto ao discurso não tenho um preparado mas basicamente é um discurso de agradecimento ao COB, a equipe multidisciplinar, as minhas filhas, a minha família, a própria Ana Marcela e a família dela. Vai ser um discurso de agradecimento, já que sem esse entorno ninguém chega lá.
SWIM CHANNEL: Imagino que em 2019 a grande meta da Ana Marcela será garantir uma vaga nos Jogos de Tóquio no Mundial de Gwangju. Como será o calendário dela ano que vem? Há previsão de nadar também as etapas da FINA Marathon Swim World Series?
POSSENTI: 2019 será um ano completamente focado em Gwangju. O calendário da FINA ainda não está 100% fechado, mas ela vai nadar algumas etapas da FINA Marathon Swim World Series sim. Ela vai usar essas etapas como treino ou avaliação de final de período de treinamento. Provavelmente não vamos fazer o circuito inteiro, até porque tem provas que vão coincidir com os Jogos Pan-Americanos, mas ela vai fazer algumas provas como preparação para Gwangju.
SWIM CHANNEL: Você já faz algumas palestras para quem quer se especializar em maratona aquática e para fãs do esporte. Com é para você essas palestras? Quer continuar fazendo?
POSSENTI: As palestras foram uma grata surpresa pra mim. Comecei a dar palestras estimulado por alguns amigos. Eu gosto muito, tenho me realizado muito e tem sido uma grata surpresa perceber que algumas pessoas não tem acesso ao conhecimento e são ávidas por ele. É muito bom poder dividir com elas o conhecimento da maratona aquática. Pretendo continuar sim, talvez aumentar o número de palestras, sempre respeitando o calendário da Ana que é meu foco e sempre fazendo também palestras a convite das entidades, como foi o caso da FINA que já me chamou para palestrar três vezes e deve continuar me chamando e continuar prestigiando nosso trabalho.
SWIM CHANNEL: Você quando atleta era treinado pelo Albertinho. Ele foi sua referência e te influenciou bastante em sua carreira de técnico? Tem outras referências também na sua carreira?
POSSENTI: Sim fui treinado pelo Albertinho e ele foi a pessoa que passou o maior período me treinando. Foram cinco anos. Ele me influenciou muito positivamente em dois aspectos: o primeiro na escolha profissional. Eu era um jovem que não sabia se iria ser médico ou fazer outra coisa, mas fui muito inspirado no Albertinho resolvi fazer educação física e me tornar treinador de natação. A outra inspiração foi nas relações interpessoais com os atletas. Ele consegue deixar amigos por onde passa porque é uma pessoa muito querida. A relação dele com os atletas e ex-atletas é fantástica e isso me inspirou muito. Já na questão mais técnica, maneira de trabalhar, tenho uma outra inspiração que é um grande amigo meu, o Fred Vergnoux, técnico francês que trabalha na Espanha com a Mireia Belmonte e que tive o prazer de conhecer. Ele é um técnico que me inspira muito. Estuda muito e o meu tipo de trabalho é muito parecido com o dele em termos de volume, seriedade e tipo de treino.
SWIM CHANNEL: O que você acha que deve melhorar na preparação dos técnicos brasileiros? Comparado com os técnicos estrangeiros, você vê alguma diferença em termos de especialização ou oportunidades.
POSSENTI: Quanto a oportunidade acredito que quem quer mesmo corre atrás. Você cria seu espaço. Em relação a especialização, o técnico brasileiro até pouco tempo atrás era uma referência mundial na maratona aquática, especificamente, mas pararam no tempo. Porque precisa se atualizar, estudar. Precisa ter a mente e o coração aberto. As vezes um técnico estrangeiro estudou mais que você e isso é bom, você vai absorver isso e usar da melhor maneira para o seu trabalho. A diferença do treinador estrangeiro é que ele estuda muito, lê muito, procura se atualizar a todo momento. É isso que pretendo passar nas palestras, sempre pergunto quantos artigos científicos os técnicos leram no mês porque o Fred e eu, por exemplo, lemos pelo menos dois por semana. Aquilo vai te ajudar no seu trabalho. O treinador brasileiro tem uma qualidade inegável, ele consegue se adaptar a situações difíceis, é criativo, trabalhador e precisa com tudo isso ser estudioso e ter a mente aberta para receber esse tipo de informação.
Ana Marcela teve um ano e tanto. Eleita a melhor maratonista aquática do Brasil, ela é mais uma vez finalista do principal prêmio do esporte olímpico nacional oferecido pelo Comitê Olímpicos do Brasil (COB). Ela disputa a premiação na categoria feminina contra a jogadora de futebol e eleita a melhor do mundo pela FIFA Marta e contra a canoísta Ana Sátila.
A baiana conquistou pela quarta vez na carreira o título do FINA Marathon Swim World Series com duas vitórias e outras três medalhas ao longo das oito etapas. Em agosto conquistou o bronze no Campeonato Pan-Pacífico de Tóquio e em novembro mais três medalhas de ouro no Campeonato Sul-Americano de Lima. Na disputa masculina concorrem ao prêmio o surfista Gabriel Medina, o skatista Pedro Barros e o canoísta e campeão mundial Isaquias Queiroz. O troféu de melhor técnico individual se chamará Troféu Jesus Morlán e será entregue a Fernando Possenti. Já o troféu de melhor técnico de esportes coletivos levará o nome de Bebeto de Freitas e será dado a Dal Zotto.