Fernando Souza Silva pode ser muito conhecido na natação brasileira, mas era até há poucos dias conhecido apenas de alguns em Portugal.
Tudo mudou quando obteve o seu primeiro recorde nacional do país, ao nadar os 100m mariposa (borboleta) na etapa da Taça do Mundo de Budapeste (piscina curta) com um novo máximo português: 51s40 (23s68 aos 50m), que “na verdade não foi uma total surpresa, pois sabia o que vinha fazendo”, disse-me o Fernando.
O veterano de 35 anos bateu assim o anterior recorde que pertencia a outro consagrado nadador multi-olímpico, o luso Diogo Carvalho, que nadara em 51s45 a 11 de novembro de 2009, também durante uma etapa da Taça do Mundo (em Estocolmo, Suécia).
Dois dias depois Fernando voltaria a bater novo recorde lusitano na Hungria, desta vez nas duas piscinas de mariposa: 23s29, que é também (este sim, o dos 100m não) um novo recorde pessoal, pois nunca tinha nadado abaixo de 24 segundos. Bons indicadores portanto.
Curiosamente ‘afundou’ o máximo nacional (23s48) que pertencia…a outro luso-brasileiro: Luiz ‘Pepeu’ Pereira, que também nadou algumas épocas nos EUA, acabando por representar o prestigiado Sport Lisboa e Benfica onde bateu vários recordes, terminando a carreira na época passada.
Mas até chegar ‘aqui’, a estes dois recordes nacionais, e ficando apenas a 5 centésimos do mínimo (índice) para o Mundial de Curta em Abu Dhabi (16~21 de dezembro), não foi fácil.
Com bisavós portugueses, Fernando chegou ao país em janeiro de 2018, e como tantos milhares de compatriotas seus, veio à procura de vida melhor para si e a sua família: esposa Camila (modelo internacional), e as filhas Isabel e Victória, hoje com 9 e 7 anos respetivamente. Fez um pouco de tudo, mas trabalhou e lutou sempre.
Quis o destino (o Karma?) que entregasse um currículo na SFUAP, a Sociedade Filarmónica União Artística Piedense, na Cova da Piedade (do outro lado da margem do rio Tejo), onde já era treinador Gustavo Fortuna, que era “meu antigo colega e adversário das piscinas no Brasil; e temos a mesma idade e tudo”.
Depressa o aceitou e convidou para nadar, pois a SFUAP tinha ‘caído’ na 2ª divisão nacional de clubes e o ‘coach’ Guga precisava de nadadores de qualidade.
Devido à sua ascendência, requisitou cidadania portuguesa, que conseguiu há menos de um ano; está a trabalhar como técnico na SFUAP, sendo “responsável pelo grupo de treino de crianças, e assistente de Gustavo com as equipas de jovens e seniores; também dou aulas de natação, e já fiz o curso de nível I (o básico) da Federação Portuguesa de Natação”, afirma orgulhoso, mas estando já ansioso por fazer o de nível II, e “assim poder subir nos escalões de idade que posso treinar oficialmente”.
Na época passada ele e o seu treinador Filipe Falcoski (também brasileiro) ainda tentaram o acesso aos Jogos Olímpicos de Tóquio, mas a paragem provocada pela pandemia não ajudou, e o sonho de uns segundos JO (nadou em Pequim 2008 pelo Brasil, além de mais quatro Mundiais) caiu por terra.
Não desistiu, e esta época chegou com nova energia, no verdadeiro sentido da palavra: é que o planeamento do seu treino é feito por uma equipa multidisciplinar, que junta – além de Falcoski (que veio para Portugal fazer o mestrado, e dá treino a uma equipa do Centro de Alto Rendimento do Jamor) – ainda o mais prestigiado fisioterapeuta luso de natação, Daniel Moedas (em funções na FPN e também no famoso ‘team’ Energy Standard da International Swimming League), e ainda a experiente nutricionista Marcella Amar, portuguesa a trabalhar no Brasil, e que tem acompanhado atletas de elite, entre os quais o Fernando.
Aos 35 anos este emigrante-campeão voltou a ganhar ânimo e acredita em “chegar ao Mundial de Abu Dhabi”, e muito provavelmente – digo eu – já ao Europeu de Curta em Kazan (Rússia) de 2 a 7 de novembro, e em representação da seleção portuguesa, que só terá a ganhar com a chegada de um dos mais rápidos de sempre no país, e na luta pelas exigentes finais.
Se não fôr a Kazan o Meeting do Algarve (a 13 e 14 de novembro) é a última prova para obtenção dos mínimos para o Mundial, ainda não sabendo se consegue financiamento para nadar na etapa da Taça do Mundo do Catar, pois só tem tido “paitrocínio”, como afirma com humor…
Para já, esta a semana é de importantes decisões em Lisboa, pois “gostaria de poder reunir com responsáveis da Federação” para definir o futuro, que para Fernando é de luta e dedicação.
Felicidades é o que te desejamos Fernando, e muitos recordes…de Portugal!