A nadadora Gertrude Ederle – Foto: United States Library of Congress
No último domingo completou-se 91 anos de um grande feito da natação em águas abertas. As 21h30 do dia 6 de agosto de 1926 a americana Gertrude Ederle tocava o solo inglês na cidade de Kent e entrava para a história do esporte ao tornar-se a primeira mulher a completar a Travessia do Canal da Mancha, o mítico estreito de água que separa a França da Inglaterra e tem aproximadamente 34 km de distância.
Filha de descendentes alemães, Ederle nasceu na cidade de Nova York em 1906 e aprendeu a nadar aos nove anos de idade. Aos 15 já fazia parte da seleção americana e em 1923 bateu o recorde mundial nos 100m livre com o tempo de 1min12s8. No ano seguinte disputou pela primeira e única vez em sua vida os Jogos Olímpicos. Em Paris conquistou três medalhas, sendo um ouro com recorde mundial com o revezamento 4x100m livre e outros dois bronzes nos 100m e 400m livre.
Após a campanha olímpica, Ederle teve que tomar uma decisão. Continuar sua carreira amadora e podendo disputar outras Olimpíadas ou tornar-se nadadora profissional e ganhar prêmios pelas suas vitórias. Pensando no futuro e já realizada por ter sido campeã olímpica, ela optou pela profissionalização. Na época a realidade era diferente da dos dias de hoje, quando os atletas profissionais eram impedidos de disputar os Jogos Olímpicos. Como não havia muito espaço para atletas profissionais nas piscinas passou a se dedicar aos eventos em águas abertas.
Já em 1925 ela nadou uma prova partindo do Battery Park em Nova York até a Praia de Sandy Hook em Nova Jersey levando 7h11min para completar os 35 km. O resultado foi bastante expressivo e celebrado por Ederle que passou então a focar suas atenções a Travessia do Canal da Mancha. No ano seguinte ela passou a treinar com o experiente inglês Bill Burgess que havia completado a travessia em 1911. Ederle decidiu repetir a estratégia de Burgess e utilizou óculos de motociclista para nadar a travessia. A diferença é que ela utilizou parafina para deixá-los mais fixos ao rosto.
A americana deixou a costa francesa por volta das 7h da manhã e realizou uma prova com poucos sustos ou contratempos. Ela nadou o tempo todo de crawl, diferentemente de Burgess que na época optou pelo nado peito. Após 14h34min de prova a nadadora americana chegou a Praia de Kingsdown, em Kent sendo recepcionada por um oficial britânico que antes de a saudar pelo feito lhe pediu o passaporte. O tempo inclusive era também o recorde absoluto, pois antes dela seis homens já haviam cruzado o Canal em mais de 15 horas de nado. Ederle tornou-se a primeira mulher a concluir com sucesso a travessia do Canal da Mancha e ganhou um bom dinheiro com a conquista. Ao chegar em Nova York depois da epopeia ela desfilou em carro aberto pelas ruas de Nova York.
Após a travessia Ederle virou uma celebridade nos Estados Unidos, atuando de filmes, tendo músicas gravadas em sua homenagem e participando de campanhas publicitárias. Devido a uma infecção de sarampo que contraiu na infância ela acabou perdendo a audição na década de 1940 e durante muitos anos trabalhou como professora de natação para crianças com deficiência auditiva. Ederle faleceu em 2003, aos 98 anos em Nova Jersey.
Por Guilherme Freitas