No último dia 11 de setembro, João de Lucca anunciou em suas redes sociais o fim de sua longeva carreira, surpreendendo a muita gente. O atleta de 31 anos estava conciliando os treinos com a nova rotina familiar em busca de uma vaga para disputar sua terceira Olimpíada. Pai da pequena Kira, que nasceu em fevereiro deste ano, João tentou dividir seu tempo com as atividades dentro e fora da piscina, mas teve que fazer uma escolha.
A opção foi deixar a natação profissional em prol da vida familiar como ele conta nesta entrevista a SWIM CHANNEL. “Os motivos que me fizeram deixar a natação competitiva foram familiares. Minha filha Kira nasceu há sete meses e logo após o nascimento dela veio a pandemia. Além disso, as piscinas fecharam e minha prioridade como homem mudou. Senti que precisava ficar com a minha família e para aproveitar e curtir esse momento. A vida mudou totalmente pra mim. O sonho olímpico era algo muito meu, mas o nascimento da Kira é agora minha prioridade. Faltava pouco pra Tóquio é verdade, mas estou feliz com a decisão tomada e não me arrependo”, conta João que já havia sido olímpico em Londres-2012 e no Rio-2016.
Sem a cansativa rotina de viagens, treinamentos e competições, João consegue passar mais tempo com sua esposa Carol e a pequena Kira. Uma mudança que ele confessa estar curtindo. “Essa nova rotina com filha pequena esta sendo maravilhosa e estou adorando esse momento. Estou vivendo a época mais feliz da minha vida em poder estar junto com ela, poder vê-la crescer. Estou super completo de estar junto com minha família, algo que prezo muito”, revela João que vive com a família nos Estados Unidos.
Mas engana-se quem acha que com isso ele se afastou das piscinas. O João nadador não dará mais as caras nos parques aquáticos pelo mundo, mas o João treinador sim. Além da família outro motivo que levou João a deixar as competições foi o convite que recebeu do Cardinal Aquatics, nos Estados Unidos, para que se tornasse técnico da base da equipe.
“Esta sendo muito legal essa nova fase como treinador aqui em Louisville. Já havia desempenhado funções semelhantes antes como assistente-técnico deste mesmo clube em que estou trabalhando. Agora estou na função de head coach da base principalmente atuando com nadadores adolescentes que estão na fase do high school. É muito legal ver como eles estão evoluindo e melhorando ainda mais nesse momento sem competição. Alguns inclusive já estão sendo sondados por universidades e estou muito motivado em ajudá-los neste projeto”, diz o brasileiro que estudou e competiu durante anos pela Universidade de Louisville sob as ordens do compatriota Arthur Albiero.
Na nova função João busca ser um tutor e servir como inspiração para estes jovens. “Quero passar para eles tudo que aprendi como atleta de alto nível e de certa forma torná-los não só excelentes nadadores, mas também bons cidadãos para o mundo e ajudá-los na escolha das universidades”, conta o agora técnico.
Olhando para trás João diz que se sente realizado como atleta. Ao longo de sua carreira foram duas participações olímpicas, com uma final com o revezamento 4x100m livre no Rio-2016, cinco medalhas em Jogos Pan-Americanos, dois pódios em Mundiais Júnior e um título mundial em piscina curta integrando o revezamento 4x50m medley em Doha-2014. Mas além de todos esses momentos João destaca que muitas vezes são situações difíceis que o fizeram crescer para chegar até essas glórias.
“É difícil escolher um momento marcante da minha carreira. Se for falar de vitória não tem como não recordar dos Jogos Pan-Americanos em Toronto-2015 e os títulos do NCAA. Porém, não são apenas as vitórias que são marcantes na minha vida. Em muitos momentos difíceis onde passei por perrengues, pressão por resultados e dificuldades e consegui dar a volta por cima, também são muito marcantes e valiosos para mim”, revela o nadador. Vale ressaltar que mesmo aposentado, João continua sendo embaixador da consagrada marca esportiva Kpaloa.
Preste a começar um novo ciclo em sua vida profissional e curtindo a nova fase familiar e pessoal, João afirma que tudo que viveu no mundo do esporte não tem preço e que levará todas essas lições para sempre. “Tive o privilégio de poder viajar pelo mundo, conhecer novas culturas, pessoas e ter acesso a esta educação que só o esporte é capaz de nos ensinar. Vendo de fora tudo isso agora que não sou mais um atleta profissional, vejo que foi um grande aprendizado para minha vida e tudo valeu a pena”, finaliza.