Foi um sucesso a participação da natação portuguesa nos XIX Jogos do Mediterrâneo que hoje terminaram em Oran, Argélia.
Com Alberto Silva no comando Portugal alcançou nove medalhas, cinco recordes nacionais (os únicos de toda a comitiva de 159 atletas, segundo o Comité Olímpico de Portugal) e um recorde da competição, superando largamente as quatro subidas ao pódio em Tarragona 2018, na primeira presença lusa no evento.
Relevante é o facto de a natação portuguesa ter conquistado mais medalhas que os colegas do atletismo (8), tendo-me um destacado membro da seleção nacional dito que esta era “a primeira vez na história que tal sucedeu”. Naturalmente que o ‘rei’ atletismo luso está num patamar de medalhas e finais olímpicas bem acima da ‘rainha’ natação, e não levou à Argélia a maioria dos seus grandes nomes; mas não deixa de ser um bom indicador o sucesso da equipa portuguesa (5º lugar em 11 países nas medalhas), e que deu o maior número de medalhas à comitiva do Comité Olímpico de Portugal em Oran (total de 25, um 9º lugar em 24 países).
Destaque natural para Camila Rebelo, a nova ‘princesa’ do setor feminino (que tem várias ‘imperadoras’ como Catarina Monteiro, Diana Durães ou Tamila Holub), que aos 19 anos começa a tornar-se um caso sério, mesmo nível europeu.
Mesmo afetada com uma amigdalite em vésperas de competir, a atleta da Louzan (Coimbra) venceu o ouro nos 100m e 200m costas, e nesta obteve mais um recorde de Portugal de grande nível, primeira mulher em menos de 2.11: 2:10.41! a marca é a sexta melhor a Europa à data, o que cinco semanas dos Europeus de Roma só pode ser um ótimo indicador quanto às suas legítimas ambições de chegar à final.
Nos 100m costas ameaçou o seu próprio recorde nacional de 1:01.10, vencendo a final em 1:01.34, a sua segunda melhor marca de sempre.
Evolução do Recorde de Portugal aos 200m costas
Camila Rebelo 2:10.41 2/7/22 Oran (Arg.)
Camila Rebelo 2:11.18 3/4/22 Coimbra
Camila Rebelo 2:15.00 3/4/22 Coimbra
Rita B. Frischknecht 2:15.02 9/2/20 Lisboa (EUL)
Em masculinos destaco dois atletas: Diogo Ribeiro e Miguel Nascimento. O primeiro foi, a par de Camila, o maior contribuinte para as nove medalhas de Portugal, com duas medalhas, uma de ouro e uma de prata.
Ainda júnior, o atleta do SLB e Centro de Alto Rendimento do Jamor (CAR) venceu os 50m mariposa em 23.38, um novo recorde da competição, e apenas a 10 centésimos o seu recorde absoluto de Portugal.
A prata foi obtida nos 100m livres com 49:02, escassos dois centésimos do vencedor, o italiano Fillipo Megli.
O seu colega de treinos Miguel Nascimento melhorou – finalmente, dirá – o seu próprio duplo máximo na prova olímpica mais curta, os 50m livres, sendo prata em 22.01, novo recorde de Portugal, o segundo individual na fantástica piscina coberta de Oran.
Nascimento (nascido em 1996), já tinha nadado em 22.16 por duas vezes (ver quadro em baixo), e esta marca dá-lhe motivação ainda maior para o grande desafio do Europeu.
Para já é o 17º melhor europeu do ano, numa tabela que inclui dois russos, que não competirão – como se sabe – em Itália de 11 a 17 de agosto (competição de natação) devido às sanções internacionais.
Evolução do Recorde de Portugal aos 50m livres
Miguel Nascimento 22.01 4/7/22 Oran (Arg.)
Miguel Nascimento 22.16 1/4/22 Coimbra
Miguel Nascimento 22.16 19/12/20 Jamor
Miguel Nascimento 22.17 5/4/19 Coimbra
Alexandre Agostinho 22.36 30/5/09 Coimbra
Mulheres em destaque
O setor feminino foi claramente superior ao masculino, onde alguns nomes grandes ficaram aquém do que se esperaria.
Catarina Monteiro, Ana P. Rodrigues, Rafaela Azevedo e Raquel G. Pereira foram as outras medalhadas para além de Camila, arrecadando um total de seis dos nove pódios lusos (2 medalhas de cada cor). Os homens obtiveram um ouro e duas pratas.

Catarina Monteiro foi a única – e notável – repetente no pódio dos Jogos do Mediterrâneo. Em Tarragona (Espanha) há quatro anos a natação alcançara medalhas por intermédia desta nossa semifinalista olímpica (também prata, nos 200m mariposa), por Diana Durães (bronze nos 400m livres) e por Alexis Santos (200m estilos) e João Vital (400m estilos), ambos com bronze.
Diana esteve no Mundial e não competiu na Argélia; Vital foi um talento grande da natação portuguesa que terminou a carreira ainda com muito para dar; e Alexis nadou apenas os 50m costas e 50m bruços, não chegando às meias-finais.
Para a experiente Catarina a marca dos 200m mariposa é a 8ª melhor da Europa deste ano, e também a oitava melhor da sua recheada carreira; deixa, igualmente, indicadores muito bons nesta fase pré-Roma, pois não nadava tão rápido desde 2019.
Os restantes medalhados que ainda não referi foram:
Ana P. Rodrigues, prata, 50m bruços, 31.31;
Rafaela Azevedo, bronze, 50m costas, 28.86;
Raquel G. Pereira, bronze, 200m bruços, 2:28.35.
A concluir os não menos importantes recordes de Portugal alcançados (além dos de Camila e Miguel, atrás referidos):
4x100m estilos femininos, 4:07.57 (4º lugar a 26 centésimos do pódio) com Camila Rebelo (1:02.02), Ana Rodrigues (1:09.38), Mariana Cunha (59.60) e Francisca Martins (56.57).
4x100m estilos masculinos, 3:37.50 (5º lugar) com João Costa (54.45), Gabriel Lopes (1:01.45), Diogo Ribeiro (52.80) e Miguel Nascimento (48.80).
4x100m livres femininos, 3:31.23 (7º lugar), com Francisca (58.01), Ana (57.55), Mariana (56.88) e Camila (58.79).
Os Jogos do Mediterrâneo regressam apenas em 2026 (de 12 a 21 de junho) na cidade italiana de Taranto, mas a principal competição da época está a aproximar-se.
A 35 dias do 36º Europeu de Roma a grande maioria dos 15 atletas nacionais pode regressar a casa satisfeito e com vontade de fazer ainda melhor na principal competição da época.