O adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio para o ano que vem devido a pandemia do COVID-19 mexeu com os planos de muitos atletas. Nos meses de isolamento social muitos tiveram que dar um jeito para conseguir continuar treinando e depois calcular os prejuízos financeiros e emocionais que a pandemia lhes causou. Alguns decidiram colocar um ponto final na carreira competitiva. Esse foi o motivo que encerrou a trajetória do atual vice-campeão olímpico dos 100m livre Pieter Timmers que não quiseram esticar suas carreiras por mais um ano. Uma decisão semelhante tomada por uma nadadora brasileira: Manuella Lyrio.
Presente nas convocações da seleção brasileira principal desde 2007, Manuella decidiu encerrar sua trajetória nas piscinas. Mesmo que tivesse chances de conseguir se classificar para nadar outra Olimpíada, ela afirmou que seu destino já estava traçado e que não planejaria esticar ainda mais a carreira. “Já tinha colocado que esse seria meu último ano nadando. A pandemia só adiantou minha aposentadoria, que aconteceria em dezembro, para setembro”, disse Manuella fez parte do time olímpico brasileiro nos Jogos do Rio-2016.

Naqueles Jogos, Manuella foi uma dos poucos membros do time olímpico a conseguir baixar seus tempos pessoais, com destaque para sua performance nos 200m livre quando chegou a semifinal e estabeleceu um novo recorde sul-americano em vigor até hoje: 1min57s28. Mesmo com a boa campanha olímpica na memória e as medalhas conquistadas nos Jogos Pan-Americanos de Lima ano passado ela fez questão de seguir à risca seu projeto inicial.
“Tinha uma vontade muito grande de estar em Tóquio, mas essa pausa me fez refletir nas coisas. Mas para concretizar isso teria que abrir mão novamente de tudo para realizar um sonho, fora toda dedicação, exaustão, coisas normais de um atleta de alto rendimento. Na minha opinião, você precisa se dedicar 110% ou não vale a pena. Por tudo isso me senti tranquila e em paz em parar”, revela a atleta que poderia tentar vaga em três provas: 200m livre e com os revezamentos 4x100m e 4x200m livre.

Manuella teve uma carreira longeva e participou de diversos eventos internacionais com a seleção brasileira. Teve uma participação olímpica no Rio-2016, quatro em Jogos Pan-Americanos (Rio-2007, Guadajalara-2011, Toronto-2015 e Lima-2019), três Campeonatos Mundiais de longa (Barcelona-2013, Kazan-2015 e Budapeste-2017), três Mundiais de curta (Doha-2014, Windsor-2016 e Hangzhou-2018) e uma no Mundial Júnior no Rio-2006. Inclusive, Manuella esta empatada com Etiene Medeiros como segunda maior medalhista da natação feminina do Brasil em Pan-Americanos com nove pódios, apenas uma medalha a menos do que a recordista Larissa Oliveira.
Com uma carreira tão longa e cheia de conquistas, ela até tem dificuldades em recordar seu maior momento no esporte. “Lembro até hoje quando era infantil 1 e ganhei pela primeira vez um Centro-Oeste na prova de 200m medley de uma menina chamada Gabriela Barros, que sempre ganhava de mim. Naquele momento fiquei me achando. E também minha primeira medalha individual de Brasileiro Absoluto, quando era juvenil e nadei a final de 400m livre na raia 1”, recorda Manuella que é natural de Brasília e começou a nadar na infância por recomendação médica após sofrer um atropelamento.

E claro, entre os momentos inesquecíveis de Manuella também estão conquistas de quando já era uma atleta de ponta no cenário nacional. “Me recordo de quando me classifiquei pro Pan-Americano de 2007 nos 400m livre nadando pra 4min15s00 fazendo uma prova super negativa, nem acreditei quando bati no placar. E também de quando fiz 4min09s48 na seletiva olímpica para o Rio-2016 passando para 2min01s. Meu técnico, o Amendoim, falou pra eu arriscar. De fato arrisquei e passei os primeiros 100 metros pra 58s alto e depois os 200 metros para 2min01s”, conta a nadadora que recentemente participou do lançamento da coleção Braçadas da Fabiola Molina Store e obviamente tem uma prova bastante especial na memória.
“Lembro de cada detalhe, antes, durante e depois dos 200m livre dos Jogos Olímpicos do Rio-2016 quando bati o recorde sul-americano e fui para semifinal. Naquele dia estava muito confiante, sabendo exatamente o que faria em cada trecho da minha prova. Foi incrível”, finaliza Manuella que naqueles Jogos tornou-se a primeira nadadora brasileira a chegar a uma semifinal nesta distância, deixando um belo legado a natação feminina brasileira.