A natação no Pan de Toronto chega ao fim.
Para se ter uma ideia do nível, foram simplesmente 38 recordes de campeonato superados (contra 16 de Guadalajara-2011).
Os Estados Unidos trouxeram sua melhor equipe desde 1995 e com um poderio muito maior do que o rótulo de “seleção B” sugere.
Tivesse sido formada este ano, a “seleção A” americana que irá ao Mundial de Kazan certamente teria muitos dos nadadores que foram ao Pan.
O Canadá enviou seus principais nadadores pela primeira vez desde 1999.
O que valoriza a performance brasileira. Os 10 ouros igualam os desempenhos de Guadalajara-2011 e Rio de Janeiro-2007. Mas em uma competição de nível mais alto.
Foram simplesmente 11 recordes sul-americanos e 3 brasileiros.
Por ser o Pan dos recordes e das marcas históricas, descrevamos então como foi esse último dia de natação em quatro recordes.
Um recorde brasileiro
O que dizer de um nadador que passa mais de 1000 metros em uma prova de 1500m entre a 6ª e a 7ª posição e conquista a medalha de bronze?
O que dizer de um nadador de 18 anos que em seu primeiro Pan consegue esquecer totalmente dos adversários e fazer sua própria prova, chegando a tirar quatro segundos de desvantagem nos últimos 500 metros graças a sua estratégia?
O que dizer de um nadador que consegue superar o recorde brasileiro da prova fazendo parciais de 5min06s, 5mins05 e 4min59s?
Duas coisas. A primeira é que pela juventude certamente ele aprenderá a dividir melhor sua prova e com isso tirar disso o melhor proveito possível para melhorar sua marca.
A segunda é que Brandonn Almeida já levou o nado de fundo do Brasil a patamares não alcançados há muito tempo.
O último resultado internacional expressivo havia sido a prata de Luiz Lima no Pan de 1999 em Winnipeg.
O tempo de Brandonn, 15min11s70, foi excelente. Mas o melhor é a perspectiva de melhora.
É cedo para pensar em um sub-15min? Lembrem-se que no final de 2014 seu melhor tempo era 15min22s46.
Naquela época, a expectativa é que ele poderia alcançar o índice olímpico.
Hoje, o panorama é outro. Ninguém duvida que ele estará no Rio-2016.
Lá, quem sabe ele pode dar sequência à longa tradição brasileira de finais e medalhas olímpicas e mundiais.
Tetsuo Okamoto, Luiz Lima e Djan Madruga agradecem.
Um recorde sul-americano
Desde que o nado peito masculino do Brasil subiu um nível e passou a figurar entre os melhores do mundo em meados da década de 2000, o costas passou a ser o patinho feio no revezamento 4x100m medley.
De fato, o estilo sempre parecia ser o entrave quando se consideravam as chances de medalhas internacionais no revezamento.
Hoje, 18 de julho de 2015, as coisas mudaram. Graças a Guilherme Guido.
Abrindo o revezamento para 53s12, supera o recorde sul-americano de 53s24 de 2009, da época de trajes tecnológicos.
O tempo lhe daria a prata no último Mundial, em Barcelona-2013. É a quarta melhor marca do mundo na temporada.
Guido não é nenhum menino. Foi a Pequim-2008 e ficou fora de Londres-2012. Parece que adquiriu maturidade para extrair o máximo de seu potencial, o qual todos sabiam que ele sempre teve.
Abrindo na frente do americano Nick Thoman, vice-campeão olímpico dos 100m costas e que o derrotou na prova individual, deu uma vantagem que o time brasileiro soube adminstrar até o final com Felipe França, Arthur Mendes e Marcelo Chierighini.
Não foi muito comentado, mas a marca de 3min32s68 ficaria somente a 40 centésimos da medalha de bronze no último Mundial.
E isso que Felipe França ficou longe de sua performance dos 100m peito: fez 59s81, contra 59s20 ontem.
Muito se fala no 4x100m livre, mas nesse Pan o revezamento que se mostrou de maior nível internacional foi o 4x100m medley masculino.
E, por mais incrível que possa parecer, em grande parte graças ao nadador de costas. Graças a Guilherme Guido.

Um recorde pan-americano
No Troféu Maria Lenk de 2013, Henrique Rodrigues surpreendeu a todos nos 200m medley.
Não exatamente por derrotar Thiago Pereira, pois a disputa dos dois já vinha se mostrando parelha. Mas por terminar em 1min57s35, terceiro tempo no ranking mundial na época e com grandes perspectivas para o Mundial de Barcelona.
Lá, saiu decepcionado ao ficar de fora da final.
No ano seguinte também não teve vida fácil. Operou o ombro e ficou fora do Pan-Pacífico. Comemorou muito a volta à seleção no Mundial de Curta, em que foi até finalista.
Hoje, finalmente voltou a ser protagonista. Com a vitória nos 200m medley, volta a nadar para 1min57s. Com 1min57s09, é o terceiro do ranking mundial.
Em uma prova equilibrada, manteva a segunda colocação atrás de Thiago Pereira até a virada do livre, quando partiu para a vitória com novo recorde de campeonato.
Não é pouca coisa superar Thiago, atual medalhista de bronze mundial, finalista olímpico por três vezes e recordista pan-americano anterior.
Mas o mais importante é a volta aos melhores dias. Não são todos os nadadores que retornam à melhor forma após uma cirurgia. Alguns não se adaptam e jamais repetem seus melhores tempos.
Já se falou há alguns anos que Henrique Rodrigues teria tido azar por nadar na mesma época de Thiago Pereira. Quando na verdade é o contrário. Talvez Henrique não nadasse tão rápido e não evoluísse tanto se não fossem as disputas com Thiago.
E o Brasil, que tem dois nadadores de nível mundial nos 200m medley como nunca antes em sua história, só tem a ganhar.
Um recorde histórico
O roteiro estava escrito: em oito provas, Thiago Pereira conquistaria medalha em pelo menos seis e bateria com folga o recorde histórico de medalhas em Pans do ginasta cubano Eric López, 22 medalhas.
Mas quis o destino que o feito fosse conquistado somente no último dia, na última prova do programa.
Cortesia de suas desistências dos 100m borboleta e 100m costas e desclassificação nos 400m medley.
Hoje, levou a prata nos 200m medley atrás de Henrique Rodrigues e o ouro no revezamento 4x100m medley, por ter nadado a eliminatória.
Com isso, chegou a 23 pódios (15 ouros, 4 pratas, 4 bronzes). E recebeu sua 23ª medalha em uma cerimônia especial, devidamente ignorada pela transmissão oficial.
(sejamos justos e lembremos que Michael Phelps também recebeu homenagem parecida em Londres-2012 e também não foi transmitido pela geração oficial do evento)
Tivemos a sorte de, em um espaço de 12 anos, ver primeiro Gustavo Borges e depois Thiago Pereira se tornarem os mais premiados atletas brasileiros em Pan-Americanos.
Talvez demorem décadas para surgirem no Brasil nadadores que ultrapassem suas conquistas.
Ou talvez não. Thiago não fala em encerrar a carreira após 2016 e pode estar no Pan de Lima, em 2019.
23 e contando…
Por Daniel Takata