Nova jornada inédita para Portugal em Europeus, com recordes (leiam até ao fim), e cinco atletas a atuar em meias-finais; desses, três foram apurados para as finais do último dia em Roma. Gabriel Lopes foi o mais rápido nas eliminatórias e nas meias-finais dos 200m estilos, deixando-nos a todos a sonhar com o que poderá acontecer na jornada que encerra esta fantástica competição no Foro Italico.
O olímpico em Tóquio demonstrou grande tranquilidade e segurança, tanto nas eliminatórias (1:58.94), como nas meias-finais (1:58.77). Em ambas, mas especialmente de manhã, pareceu até desacelerar no último percurso (livres), com 29.75 de manhã, e 29.55 à tarde.
Gabriel: melhor tempo para a final
Gabriel Lopes ficou somente a 21 centésimos do seu recorde pessoal (1:58.56 em Tóquio), estando o recorde de Portugal em 1:58.19, de Alexis Santos (ele que já foi medalha de bronze nesta prova no Europeu de 2016). Acredito que este recorde possa estar em risco na grande final, em que o atleta da Associação Louzan terá de nadar no seu melhor de sempre se quer terminar entre os melhores do Velho Continente.
Curioso, aliás, que Portugal tenha ao longo dos últimos anos tão bons resultados nesta prova: além da medalha de Alexis (com um total de três finais na prova), também Diogo Carvalho foi finalista (5º lugar em 2016 e um 6º em 2008), sendo esta a sexta final do país nos 200m estilos.
Só nos 200m bruços em masculinos havia tantas finais, cinco: três por José Couto (uma vez 5º lugar, e duas vezes 7º), e Alexandre ‘O Grande’ Yokochi (uma medalha de prata e um 7º lugar). Em femininos a prova ‘mais finalista’ das portuguesas é, sem dúvida, os 200m mariposa: Joana Arantes (8º lugar, 1993), Sara Oliveira (7º lugar 2002), e Catarina Monteiro (5º lugar em 2018).
Amanhã Catarina (Clube Fluvial Vilacondense) nada a quarta final do país nesta prova, e torna-se uma das poucas a estar em duas finais de Europeus de piscina longa. Depois de umas eliminatórias tranquilas (2:11.40), nadou a meia em 2:10.85, arriscando um pouco o apuramento, que conseguiu com um oitavo lugar (embora quase a seis décimos da nona).
Pena ver afastadas da final campeoníssimas como a recordista da Europa Katinka Hosszu (Hungria, 13º lugar, 2:14.54) e a recordista dos campeonatos Mireia Belmonte (Espanha, 11ª, 2:14.01), que estiveram (especialmente esta última) muito aquém do seu real valor na competição romana.
João com recorde e final
João Costa foi outro dos grandes destaques do dia para a seleção lusa: nas eliminatórias dos 100m costas melhorou em um centésimo o próprio recorde nacional, que é agora de 53.87 (26.37; 27.50).
A marca deu-lhe o terceiro melhor tempo para a meia-final, onde voltou a estar muito bem, obtendo 53.90, a terceira marca nacional de sempre, e que o apurou com o sétimo tempo para a final. Bons indicadores, pois, para o atleta do Vitória de Guimarães, para aquela que será a sua primeira final em grandes competições internacionais.
Este foi o nono recorde absoluto alcançado pela ‘armada portuguesa’ em Roma, tendo o décimo sido alcançado pela experiente Ana P. Rodrigues nas eliminatórias dos 50m bruços, que nadou em 31.04 (o anterior máximo era seu, com 31.09 desde o passado dia 28 nos Nacionais no Jamor).
A boa marca deu-lhe o 10º lugar para a tarde, onde nadou um pouco menos bem, concluindo em 31.33 (11º lugar); apesar de tudo, a marca é a sua sexta melhor de sempre, e de 2022 (!), revelando que – apesar dos 28 anos – esta foi das épocas em que mais progrediu em toda a carreira.
Nos 100m costas matinais Francisco Santos terminou em 26º lugar com 55.81.
Ribeiro melhor que…Popovici
Diogo Ribeiro concluiu a sua memorável participação nestes Europeus da mesma forma que começou no dia 11, com um recorde nacional; aliás, dois: nas eliminatórias da prova mais rápida, os 50m livres, voltou a melhorar uma marca-limite nacional, esta ‘apenas’ de juniores/18 anos, com 22.20.
Subtraiu nada menos que 15 centésimos ao seu próprio recorde (de um de abril em Coimbra), e na sua quarta prova eliminatória em Roma foi apurado para uma meia-final pela…quarta vez (100% de aproveitamento), onde seria novamente o mais novo (e único júnior). Em 74 participantes foi o 11º das eliminatórias, ele que vinha inscrito apenas com o 28º tempo.
E à tarde o atleta do Benfica quis deixar a sua marca (mais uma) no Foro Italico: 22.07!
Melhor marca júnior da Europa em 2022, superando os 22.16 com que David Popovici (Roménia) se sagrou campeão europeu da categoria em casa (em Otopeni) a oito de julho, e que é mesmo o recorde pessoal do fantástico recordista mundial dos 100m livres, e terceiro de sempre aos 200m livres.
Diogo deixa a fasquia bem alta para as próximas gerações, vejam só:
– medalha de bronze nos 50m mariposa (a dois centésimos de igualar o recorde mundial júnior)
– cinco recordes absolutos de Portugal
– sete recordes de juniores/18 anos
– duas finais
– quatro meias-finais
E foi ainda – atenção, pois não teve o merecido destaque na altura – o primeiro atleta de sempre da natação portuguesa (masculino ou feminino) a atingir a incrível pontuação de 900 pontos, quando em Roma nadou os 100m livres em 48.52, a valerem 904 pontos FINA.
A anterior pontuação-recorde era de Alexis Santos aos 200m estilos, com uns ótimos 897 pontos, mas que após Roma desce ainda mais um degrau: nos 50m mariposa (com os 23.07 da final) Ribeiro vale agora 899 pontos.
Despedida em grande do primeiro Europeu absoluto por parte do atleta que treina no Centro de Alto Rendimento da FPN (no Jamor).
Os melhores Europeus para Portugal
E para Portugal estes já podem ser considerados (a um dia do fim) os melhores Europeus de sempre. A seleção de seis mulheres e quatro homens (e ainda com três finais por disputar) chega ao sétimo e último dia do Europeu com um novo recorde de nove finais alcançadas (o anterior eram cinco, em 2018), totalizando agora quarenta finais na grande competição continental desde a sua estreia em 1947.
Além dos 10 recordes absolutos referidos, foram alcançadas ainda 15 meias-finais ou equivalente (um 14º lugar nos 400m livres), a uma do recorde de 16 em Berlim 2002 (a que tive o privilégio de assistir ao vivo), mas desta vez com uma medalha como ‘toping’ de bronze.
Que o último dia também possa ser memorável é o que se deseja a atletas, técnicos e ‘staff’ da seleção.
Três portugueses nas finais (17/08/22)
100m costas (17h10)
– João Costa #1
200m mariposa (17h16)
– Ana Catarina Monteiro #8
200m estilos (17h37)
– Gabriel Lopes #4
Finais às 17h (Direto na RTP2)