“Queremos plantar a semente das estafetas!” É assim que o ‘head coach’ de Portugal, Alberto Silva, me explica a iniciativa de realizar entre quinta-feira e sábado a sua primeira ‘clínica’ de estafetas no país.
Vinte atletas, quatro treinadores oficiais (dois para cada sexo), e outros que pediram para ser observadores, estarão desde as 8h da manhã desta quinta-feira na piscina olímpica do Centro de Alto Rendimento do Jamor (Oeiras) para aprender com ‘mister’ Albertinho e os ‘suspeitos’ do costume. “Eu, o Samie (Elias, biomecânico) e o Igor (Silveira, preparador físico) iniciámos uma metodologia no Brasil nas estafetas (já não diz revezamento…), e queremos plantar a semente aqui”, explica-me.
A “ ideia não é dividir mas acrescentar, somar, ao que já é feito, até porque em Portugal os atletas são super bem treinados”, elogia. Mas o ‘objetivo estafetas’ foi, exatamente, uma das razões para a contratação pela Federação Portuguesa de Natação de um dos mais prestigiados treinadores mundiais, o ‘José Mourinho da natação brasileira’, que iniciou funções em Portugal a um de setembro último.
“Uma das coisas que eu falei com o António (Silva, presidente da FPN) e o Zé Machado (diretor desportivo) quando apresentei o projeto foram as estafetas; eu nunca vi estafeta de Portugal em nenhum evento…e a ideia é criar essa cultura da estafeta com um trabalho a médio prazo até 2024; e se queremos começar algo no ano que vem (2023) temos de começar já”, afirma.
Portugal apenas teve sete estafetas olímpicas, a última em 2004
E muito trabalho há a fazer, pois Portugal apenas participou por sete vezes em estafetas olímpicas, seis em masculinos e apenas uma em femininos (1996).
As melhores classificações foram em homens: três vezes o 14º lugar, em Montreal 1976, Seul 1988 e Atenas 2004, última vez em que Portugal teve estafeta olímpica. Ou seja, se os, ou as jovens nacionais se apurarem para Paris, terão passado 20 anos sobre a última presença olímpica, quando a maioria nem era ainda nascido…
Acompanhado da equipa técnica que trouxe para Portugal, e ainda do imprescindível Daniel Moedas (fisioterapeuta da FPN e da equipa da ISL, Energy Standard), Alberto terá como treinadores convidados os atentos ‘aprendizes de feiticeiro’ (e também eles jovens) Gonçalo Neves (Associação Louzan Natação), Rafael Ribas (Escola Desportiva de Viana), Rui Costa (Vitória Sport Clube), e Vasco Lopes (Clube de Natação do Colégio Efanor), por terem atletas seus entre os convocados (ver foto).
As nadadoras e nadadores selecionados são essencialmente jovens, alguns ainda juniores (como Diogo Ribeiro e Carolina Fernandes, já apurados para o Europeu da categoria na Roménia).
E haverá uma novidade: “iremos ter a presença na concentração da psicóloga Cláudia Dias, do Porto, que vai estar connosco desde o primeiro dia, e conhecer todos; no sábado faremos uma dinâmica de grupo, algo de que sou também adepto. Os atletas irão, ainda, ter acesso a trabalho individualizado”, declarou-me em primeira mão o treinador da FPN.
Ana Rodrigues e Miguel Nascimento serão ‘capitães’
Além do olímpico em Tóquio Francisco Santos (não está na convocatória mas também irá, segundo me disse o treinador da FPN) a exceção à juventude são os veteranos e multi-recordistas nacionais Ana Pinho Rodrigues (olímpica em 2012) e Miguel Nascimento.
Aos dois experientes atletas Alberto atribuirá o cargo de ‘capitães’, pela sua experiência “e para poderem ajudar os mais novos; mas também estarão outros atletas como o Xico Santos e o Quintas, ou a Rita Frischknecht, que pode ser um elemento interessante em diferentes estafetas”, afirma.
Além do que refere o comunicado da FPN, o técnico brasileiro, agora já também com nacionalidade portuguesa, reforça: “a ideia é começar do zero; vamos gravar em vídeo tudo para depois mostrar aos técnicos e analisarmos com os atletas; como a saída agarrada do bloco, saída em movimento, qual a posição [a ordem] do atleta na estafeta, pois uns podem ter mais características de abrir a prova, outros de a fechar…; por isso temos de trabalhar as suas estratégias, o que se espera de cada um [em cada lugar no quarteto], e também as rendições, etc”.
Em equipa os atletas transcendem-se
A questão psicológica e volitiva (de ‘vontade’) de cada atleta numa estafeta é dos aspetos mais importantes, e sabemos como muitos se conseguem transcender quando lutam por algo que é coletivo, o seu país ou o seu clube.
Albertinho, com décadas de experiência ao mais alto nível recorda-me: “por exemplo, quando treinei o Nicholas Santos [no Pinheiros; é o recordista mundial dos 50m mariposa desde 2018] ele bateu o recorde sul-americano nos 50m livres, e conseguiu-o na estafeta, não na prova individual…”, reforçando como um atleta se supera quando em equipa.
E o futuro? O Plano de Alto Rendimento (PAR) de 2022 da FPN, para o ciclo 2022-2024, refere claramente como um dos objetivos “a participação de uma equipa de estafeta nos Jogos Olímpicos de 2024”, por isso, muito trabalho há a fazer por forma a “preparar e qualificar equipas masculinas e femininas para o Europeu de Roma” de agosto próximo, conforme se lê na convocatória da Federação, pois, além das raras aparições olímpicas, muito poucas têm também sido as presenças lusitanas em Mundiais ou Europeus.
Para já, “se tudo correr bem iremos consolidar [o trabalho] no ciclo olímpico seguinte; mas se correr excecionalmente bem, pode ser já para 2023 e 2024”, afirma, confiante mas cauteloso Alberto Silva, sabendo-se que para os Jogos Olímpicos apenas se apuram as 16 melhores seleções do mundo.
Veja a lista dos selecionados abaixo: