Nesta parte II da análise Swim Channel ao comparativo Alexandre Yokochi vs. Diogo Ribeiro (ver Yokochi ou Ribeiro, quem é o melhor de sempre em Portugal? – Swimchannel) preferi deixar mais dados do que texto.
Esta parte II foi escrita ao mesmo tempo que a parte I, mas recebi – e ainda bem – inúmeras mensagens com sugestões, opiniões, a maior parte muito interessantes e pertinentes, sinal de atenção dos nossos leitores.
Este é um trabalho de análise às excecionais performances de ambos. Para tal socorri-me dos seus melhores resultados nas oito principais competições que refiro em baixo na primeira tabela.
Notas curiosas: Alexandre e Diogo têm praticamente o mesmo número de finais alcançadas nestas competições de referência (11; 10), tendo o professor universitário nos EUA oito medalhas e o jovem estudante sete.
Mas a diferença maior é esta: Alexandre conseguiu-o ao longo de nove anos de uma carreira no topo do mundo, enquanto o ex-júnior alcançou o feito em menos de 14 meses…
Yokochi: uma década no topo mundial
Também uma análise dos rankings nos permite perceber bem o nível destes dois ‘monstros’ da natação masculina nacional: já antes publiquei (penso que no semanário Expresso há uns anos) as melhores posições de Yokochi no ranking mundial, onde ao longo de uma década (!) foi o quarto melhor do mundo, quinto, oitavo, nono…Impressionante, e sem paralelo na modalidade lusitana.
Já o ‘menino’, agora sénior, de Coimbra, é mesmo o líder do ranking mundial júnior em 2022. Não importa que EUA, Austrália, Grã-Bretanha e mais alguns não tenham estado nos Mundiais da categoria em Lima (Perú), pois ele é tem, de facto, as melhores marcas nas três provas em que alcançou o ouro; e nos 50m mariposa em que obteve o primeiro recorde mundial da natação portuguesa é nada menos que o 11º mundial absoluto e 7º europeu, ainda como júnior.
É verdade que no passado já tivemos aos 100m livres um líder do ranking europeu júnior (2004), o fantástico Tiago Venâncio – medalhado em Europeus da categoria – e que em 2005 seria ainda o segundo europeu no escalão, e terceiro nos 50m livres.
Tiago é outro dos grandes da nossa modalidade e foi a três Jogos Olímpicos, mas as características físicas eram bem diferentes das de Diogo, que não dá indicações de ser um velocista nato (e sabemos que os 50m mariposa não são prova olímpica), antes vocacionado para os 100m mariposa, 100m livres e 200m livres, mais próximo de um Paulo Frischknecht p.e. que de Venâncio.
Aliás, é curioso que após as brilhantes atuações de Ribeiro no Mundial de há uma semana, o próprio medalhado olímpico nos 50m livres em Tóquio 2021, o brasileiro Bruno Fratus, tenha escrito com humor nas redes sociais que “o Diogo ‘nunca’ será um grande velocista, pois para o ser tem que ter pelo menos 1,90m.” Fratus tem 1,87, mais 3cm que o português…
E o melhor é…
Após muita análise e ponderação a minha avaliação é:
Diogo Ribeiro ainda não poderá ser considerado melhor que Alexandre Yokochi, pelo longo e inédito trajeto do atleta de ‘mister’ – pai Yokochi.
Foi melhor júnior que ele? Foi, claramente. Mas falta-lhe chegar a finais de Mundiais de Piscina Longa e, claro, de Jogos Olímpicos (JO). Ou seja, esta avaliação pode começar a mudar já nos Mundiais FINA de PL em Fukuoka – julho de 2023, onde quererá estar, claro, nas finais, e aproximar-se de medalhas.
Sublinho que os Jogos Olímpicos são um ‘mundo’ à parte; pela pressão, pela tradição, pela ‘obrigação’ de estar bem perante todo o planeta e perante os nossos ídolos – a nadar ao nosso lado e que estarão nos seus terceiros, quartos JO; e só aí se pode separar ‘o trigo do joio’, os ‘rapazes’ dos ‘homens’ (as ‘meninas’ das ‘mulheres’).
Mas Diogo vai ser o melhor
Se acho que o Diogo vai chegar ao título de melhor de sempre? Não tenho dúvidas que sim. ‘Fui’ ao futuro e vi um Diogo brilhante, desportista como poucos em Portugal, a chegar aos pódios das grandes competições planetárias.
Saiba ele continuar com disciplina em corpo e mente, e com o excelente apoio da cada vez mais multidisciplinar equipa que o acompanha no Centro de Alto Rendimento da FPN no Jamor, sendo apoiado com generosidade pelo seu clube, SL Benfica, que deve perceber que tem um dos melhores do mundo na equipa.
Com a garra, confiança e força mental que tem demonstrado pode chegar onde quiser, e superar e muito o grande Alexandre. Bom presságio é que Diogo terá em Paris 2024 praticamente a mesma idade (20 anos) que Alexandre tinha em Los Angeles 1984 quando foi finalista (19 anos); mas será claramente em Los Angeles 2028 que com 24 anos atingirá a maturidade plena, podendo continuar em níveis muito elevados pelo menos até Brisbane 2032.
Pode chegar a medalhas em Mundiais e nos JO – com as quais já disse sonhar – pode bater recordes europeus e mundiais…Pode. Já faltou mais, e estamos todos a torcer por ele, e tem de ser ele o primeiro a querer e a fazer por isso.
Diogo, força para o futuro!
Alexandre, obrigado pelo passado!
PRINCIPAIS RESULTADOS DE YOKOCHI & RIBEIRO
(por importância da competição; pódios a sublinhado)
Alexandre Yokochi (DN: 13.2.65) Diogo Ribeiro (DN: 27.10.04)
(sempre 200m bruços, exceto uma vez)
Jogos Olímpicos 7º lugar, 2:20.69 (2:19.76 eli.) – 1984 (n.a.)
Jogos Olímpicos 9º lugar, 2:18.01 (2:17.87 eli.) – 1988
Mundial FINA PL 5º lugar, 2:17.99 – 1986 (n.a.)
Mundial FINA PL 12º lugar, 2:24.10 – 1982
Europeu PL 2º lugar, 2:19.63 – 1985 3º lugar, 50m M, 23.07 – 2022
Europeu PL 7º lugar, 2:17.91 – 1987 8º lugar, 100m M, 52.28 – 2022
Mundial Júnior (não havia) 1º lugar, 50m M, 22.96 – 2022
Mundial Júnior 1º lugar, 50m L, 21.92 – 2022
Mundial Júnior 1º lugar, 100m M, 52.03 – 2022
Europeu Júnior 2º lugar, 2:28.28 – 1980 2º lugar, 100m M, 52.54 – 2021
Europeu Júnior 5º lugar, 100m L, 49.52 – 2021
Europeu Júnior 6º lugar, 50m M, 24.09 – 2021
Mundial Universitário 1º lugar, 2.18.24 – 1987 (n.a.)
Mundial Universitário 2º lugar, 2.18.92 – 1985
Taça Latina (a) 1º lugar em 1981 (tempo não disponível) (n.a.)
Taça Latina (a) 1º lugar em 1982 (tempo não disponível)
Taça Latina (a) 1º lugar, 2:22.97 – 1983
Taça Latina (a) 2º lugar, 100m B, 1:07.14 – 1983
Jogos do Mediterrâneo (b) (n.a.) 1º lugar, 50m M, 23.38 – 2022
Jogos do Mediterrâneo (b) 2º lugar, 100m L, 49.02 – 2022
Em 6 competições Em 4 competições
Total de finais: 11 10
Total de medalhas: 8 7
Período de anos: 1980~1988 (9 anos) 2021~2022 (14 meses)
Legenda: PL: piscina longa; n.a.: não aplicável; RMJ: recorde mundial júnior
- A Taça Latina disputou-se entre as décadas de ‘80 e ‘10 deste século, e reunia os países de língua latina: Portugal, Espanha, Itália, França, Roménia, Brasil, e vários outros países latino-americanos;
- Portugal apenas iniciou a participação nos Jogos do Mediterrâneo em 2018
Yokochi: 10 anos no top mundial Ribeiro: Ouros = Líder Ranking Júnior 2022
Ano Mundo/Eur. Prova Mundo (Júnior) Europa 1982 12º (7º) 200m B 50m M 11º (1º) RMJ 7º
1983 top 15 200m B 100m M 22º (1º) 12º
1984 9º (4º) 200m B 50m L 26º (1º) 15º
1985 4º (2º) 200m B 100m L 40º (4º) 21º
1986 5º (3º) 200m B
1987 8º (7º) 200m B
1988 12º (8º) 200m B
1989+1990 — —
1991 39º (16º) 200m B
1992 25º (14º) 200m B
(Fontes para as várias tabelas: arquivo pessoal, FINA, Swimrankings, SL Benfica)