A Venezuela passa por um dos momentos mais conturbados de sua história. Uma crise política, econômica e social que parece longe de uma solução. De um lado o presidente Nicolas Maduro se agarra ao poder e enfrenta grandes protestos populares. Do outro Juan Guaidó, principal nome da oposição e líder da Assembleia Nacional, se auto-proclamou presidente do país e foi reconhecido por alguns Estados, entre eles o Brasil. Uma crise que respinga em diferentes áreas, entre elas o esporte. Especialmente a natação.
A modalidade no país não tem tantos títulos internacionais ao longo da história, mas num passado não tão distante foi a segunda maior força da natação sul-americana atrás apenas do Brasil. Na década passada o esporte do país recebeu farto investimento estatal do chavismo e da indústria petroleira. Muitos atletas tiveram ainda a oportunidade de nadar e treinar no exterior, especialmente nos Estados Unidos. O resultado dentro d’água veio através de medalhas, recordes e conquistas. Com isso a natação venezuelana superou a Argentina na piscina e conseguiu feitos relevantes no cenário internacional.

Tradicionalmente a Venezuela é um país de poucas medalhas, mas sempre produziu grandes atletas ao longo da história. Ao todo o país tem 33 medalhas em Jogos Pan-Americanos, sete em Campeonatos Mundiais de piscina curta, uma em Mundiais de longa e apenas uma medalha olímpica. Foi a partir de década de 1980 é que o país começa a crescer gradativamente nas piscinas com destaque para dois nomes: Alberto Mestre e Rafael Vidal.
Mestre defendeu a Venezuela em duas Olimpíadas tendo sido finalista em Los Angeles-1984 nos 100m e 200m livre. Também conquistou cinco medalhas nos Jogos Pan-Americanos de Caracas em 1983 em um dos maiores feitos do esporte venezuelano. E vale destacar que nesta época os Estados Unidos disputavam o evento com sua seleção principal.

Já Vidal é o responsável pelo maior feito da natação venezuelana. Em 1984 conquistou a única medalha olímpica do país ao terminar os 200m borboleta em terceiro lugar com 1min57s51, novo recorde das Américas. Vidal ainda teve conquistas na natação universitária americana e ganhou outras cinco medalhas no Pan de Caracas, assim como seu compatriota Mestre. Porém, o destino foi cruel com Vidal. Em 2005 seu carro foi atingido por um veículo que disputava um “racha” em alta velocidade. Ele faleceu aos 41 anos de idade.
Na década de 1990 o país continuou produzindo excelentes atletas e dois deles destacaram-se internacionalmente. Francisco Sánchez foi um dos principais velocistas da América do Sul nesta época, rivalizando e muitas vezes superando Fernando Scherer e Gustavo Borges nos 50m e 100m livre. Sánchez foi o primeiro venezuelano a ser campeão mundial ao vencer os 50m livre na Praia de Copacabana no Mundial de curta em 1995. Ao todo conquistou quatro medalhas em Mundiais de curta e mais três em Pan-Americanos, com um título nos 100m borboleta em Winnipeg-1999.

Quem também brilhou nesta década foi Ricardo Monastério. Fundista e muito técnico, dominou o cenário sul-americano batendo em diversas ocasiões Luiz Lima, melhor atleta do fundo brasileiro e sido por muitos anos o recordista da América do Sul nos 1500m livre. O maior feito de Monastério aconteceu nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo em 2003 quando faturou dois ouros nos 400m e 1500m livre. Ele também é o único nadador do país a ir ao pódio em quatro edições diferentes do Pan.
Confira amanhã a segunda parte desta história com destaque para a geração venezuelana do século 21 que colocou o país como segunda maior força da natação sul-americana e viveu os melhores momentos econômicos do país.