No último dia 10 de agosto completaram-se 60 anos de uma travessia em águas abertas histórica para a natação brasileira: Abilio Couto cruzava em 12h45min o mítico Canal da Mancha, estreito de água que separa o sul da Inglaterra do norte da França. Foi a primeira vez que um nadador da América do Sul se aventurou nas frias e gélidas águas do canal.
Na madrugada de 10 de agosto Abilio caiu nas águas do Canal na Praia de Cap Gris Nez no norte da França. A temperatura da água marcava 16°C e uma das preocupações dele era sofrer uma hipotermia. A travessia começou bem com mar calmo, porém, com quase 5 horas de prova tudo mudou. O mar ficou agitado e entrou uma neblina que limitava a visão do nadador dentro da água e do barco de apoio que o acompanhava. Para evitar acidentes o barco emitia sinais sonoros para outras embarcações e para orientar o brasileiro dentro da água.
Com a neblina desfeita e a melhora na visibilidade, Abilio mantinha um bom nível de nado. Restando aproximadamente 8 km para o fim da travessia ele já somava 7h43min de prova nadando em ritmo de recorde mundial que até então pertencia ao egípcio Hassan Abd el Rehim que em 1950 havia completado em 10h50min. Porém, entrou uma forte maré que dificultou as coisas para o nadador que perdeu tempo e energia para vencer as fortes correntezas do canal a cerca de 2,5 km da costa inglesa.
Fazendo um grande esforço, Abilio venceu heroicamente o Canal da Mancha para chegar as 16h25 na Praia de Saint Margareth´s Bay, na cidade inglesa de Dover sendo recebido com aplausos por canais de TV, jornalistas e pessoas que acompanhavam sua chegada a Inglaterra. Ao triunfar sobre os 33 km do canal Abilio se tornava o primeiro nadador do mundo a fazer a prova em 1958, colocado de vez o esporte brasileiro no topo do mundo.
A conquista de Abilio abriu as portas para a natação em águas abertas do país. Depois de seu feito, que repetiu outras duas vezes em 1959, mais de 30 nadadores brasileiros cruzaram o Canal de forma solo ou em revezamento. E desde 2015 pelo menos um brasileiro conclui a travessia nas águas do Canal da Mancha. Um legado que não só motivou seus compatriotas a buscar realizar essa prova, como também promover a natação nacional em águas abertas como um todo. Uma história que já tem 60 anos…