Redenção, volta por cima, superação. Essas palavras podem muito bem definir o significado das lágrimas de Ana Marcela após conquistar a medalha de ouro de Ana Marcela Cunha esta noite (manhã no Japão), nas águas da Marina Odaiba, em Tóquio. Uma medalha que demorou 13 anos para ser conquistada e que havia escapado em duas ocasiões. Foi uma medalha conquistada após muita luta da nadadora brasileira que finalmente escreve seu nome na galeria dos imortais olímpicos.
O ouro coroa a melhor campanha da história da natação brasileira em Jogos Olímpicos: um ouro e dois bronzes, superando a campanha de Pequim-2008 quando Cesar Cielo foi campeão nos 50m livre e bronze nos 100m livre. Pela segunda vez o Brasil volta pra casa com três medalhas, repetindo Atlanta-1996 com a prata nos 200m livre e bronze nos 100m livre de Gustavo Borges e o bronze de Fernando Scherer nos 50m livre. A diferença é que agora volta pra casa com um ouro.
Um ouro conquistado por uma mulher, que se torna a primeira mulher brasileira campeã nas modalidades aquáticas. A segunda medalha feminina, cinco anos depois do histórico bronze de Poliana Okimoto no Rio-2016. Foi ainda a 17ª medalha da natação brasileira em Jogos Olímpicos, a segunda nas águas abertas. Números que mostram o tamanho dessa conquista da brava nadadora baiana.
Ana Marcela fez a prova perfeita e foi extremamente estratégica. A brasileira sempre esteve bem colocada e no pelotão das líderes. Durante boa parte dos 10 km ela esteve na segunda colocação atrás da americana Ashley Twichell que liderou grande parte da prova. Ana se manteve atrás de americana aproveitando a esteira e economizando forças para a parte final.
Enquanto nomes tidas como favoritas como Xin Xin e Haley Anderson tentavam chegar no pelotão das líderes, Ana Marcela mantinha sua tática de evitar lançar um ataque precipitado. Controlava seu ritmo já imaginando que teria muito trabalho na reta final. Na sexta volta a alemã Leonie Beck começou seu ataque e assumiu a liderança impondo um ritmo mais forte. Isso fez com que as atletas acelerassem para evitar que a alemã escapasse. Foi nesse momento que a neerlandesa Sharon van Rouwendaal e a australiana Kareena Lee chegaram no bolo das líderes, pressionando ainda mais a brasileira.
Na abertura da reta final Ana Marcela começou a acelerar buscando abrir certa distância, para se preparar dos ataques que já previa sofrer por algumas adversárias que são tecnicamente mais rápidas do que a brasileira em momentos de explosão. Principalmente a Sharon, que buscava em Tóquio o bicampeonato olímpico e tem como característica seu forte fim de prova. Ana passou então a se impor e resistiu aos ataques da adversária, conseguindo chegar a reta final a frente para bater no pórtico de chegada em 1h59min30s8 para eternizar seu nome no rol das lendas olímpicas.
Sharon ficou com a medalha de prata muito próxima de Ana, com 1h59min31s7. A neerlandesa tentou de todas as formas pressionar sua adversária, mas Ana foi inteligente tirando qualquer chance ou espaço para ela atacá-la. Ao lado delas no pódio estava a australiana Kareena Lee, que com 1h59min32s5 foi a grande surpresa da maratona já que não estava entre as cotadas ao pódio. O bronze de Lee apenas coroou a excelente campanha da natação feminina australiana, que brilhou nas piscinas e no mar. Clique aqui e veja o resultado completo da prova.
A brasileira conseguiu a medalha que lhe faltava, a mesma que havia escapado em Pequim-2008 e no Rio-2016. Se na primeira ela era uma jovem de 15 anos que se mostrava promissora, na segunda oportunidade a prova terminou com gosto amargo de frustração. Isso se falar em Londres-2012, quando nem sequer conseguiu se classificar. A recompensa por todo o esforço e superação, tal como Bruno Fratus nas piscinas, veio agora. Justíssimo.
Entre os Jogos Rio-2016 e a medalha dourada em Tóquio-2020 a nadadora passou por muitas mudanças. Uma cirurgia para remoção do baço, o início da vitoriosa parceria com o técnico Fernando Possenti, a mudança para o Rio de Janeiro, múltiplas viagens rodando o mundo em busca da melhor preparação olímpica e as cores do cabelo que eram pintados de várias cores. O que não mudou foram as vitórias. Campeã mundial, pan-americana e de diferentes campeonatos nacionais. Só faltava o ouro olímpico. Agora não falta mais.
Ana Marcela Jesus Soares da Cunha tornou-se nas águas da Obaida Bay, em Tóquio, campeã olímpica. A única entre as 25 nadadoras que disputou a primeira edição da maratona aquática em 2008. A única entre as 25 nadadoras que soma mais de dez medalhas em Campeonatos Mundiais da FINA. A única entre as 25 nadadoras que foi eleita seis vezes a melhor nadadora de águas abertas do mundo. É, realmente, a medalha de ouro não poderia ser de outra nadadora.
Orgulho máximo. Eu tava no meio da aula da pós mas não conseguia prestar atenção em outra coisa a não ser na prova excelente dessa mulher! Consistência, estratégia e domínio absurdos! Ela ditou a prova e venceu de forma espetacular! Vibrei demais!
Obrigado pelo comentário, incrível ter uma atleta dessas no Brasil. Um honra para todos nós!