O ano de 2017 vem sendo mágico para Ana Marcela Cunha. Depois de se recuperar de uma delicada cirurgia para retirada do baço, a nadadora teve uma exibição de gala no Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos em Budapeste, conquistando três medalhas e sagrando-se tricampeã mundial na prova dos 25 km. Depois ganhou a etapa de Lac Mégantic e foi segunda colocada em Lac St-Jean pela Copa do Mundo de Águas Abertas e ontem adicionou mais uma glória para seu vitorioso currículo: o bicampeonato da tradicional Travessia Capri-Napoli.
Disputada pela primeira vez em em 1949, quando os amigos italianos Aldo Fioravanti e Cesare Alfieri decidiram nadar a distância que liga a cidade de Nápoles até a ilha de Capri, a prova foi se consolidando no calendário internacional até tornar-se oficial em 1954. A partir de 2003 passou a ser chancelada pela Fina fazer parte do Grand Prix, o circuito mundial de ultramaratonas da entidade. Em 2014 Ana Marcela nadou com uma touca estilizada nas cores do capacete de Ayrton Senna e foi campeã da prova estabelecendo um novo recorde vigente até hoje.
A brasileira venceu a prova entre as mulheres com larga vantagem: 3h58min43s contra 4h09min16s da segunda colocada, a experiente italiana Alice Franco. Outra italiana, Illaria Raimondi, terminou em terceiro lugar com 4h13min31s. No ranking geral a brasileira foi a sexta melhor classificada. Já na prova masculina dobradinha italiana com vitória do medalhista de prata nos 25 km em Budapeste Matteo Furlan que completou o percurso em 3h53min37s. A prata foi de Andrea Bianchi com 3h53min43s e o bronze para o argentino Guillermo Bertola que fechou a travessia com 3h54min02s.
Outros dois brasileiros nadaram a prova. Catarina Ganzeli terminou a prova feminina em oitavo lugar e Matheus Evangelista foi o 10º colocado no masculino. Esta foi a última etapa do Grand Prix da Fina, o circuito de ultramaratona da Fina. Porém, a temporada 2017 de águas abertas da Fina ainda conta com mais duas etapas da Copa do Mundo de 10 km em Chun’An e Hong Kong. Mais duas oportunidades para Ana Marcela continuar fazendo história nas águas abertas.
PROVA CAÓTICA
Desta vez a histórica travessia não pode ser realizada no formato original devido as más condições climáticas que atingiram a Itália. Com o mar muito revolto e fortes correntes a organização não autorizou que os atletas se arriscassem para completar o tradicional percurso de aproximadamente 36 km. A saída encontrada foi realizar uma prova no formato de circuito com um total de oito voltas de 2 km totalizando 16 km a serem nadados na costa de Nápoles.
A decisão de alterar o percurso foi definida no Congresso Técnico, na véspera da prova no hotel onde os nadadores estavam hospedados. A adoção da prova em formato de circuito era um plano B da organização. As condições do mar estavam tão críticas que até uma prova de sprint que os atletas iriam fazer no sábado, totalizando 800m, foi cancelada. Ainda no sábado houve um desencontro de informações, já que muitos nadadores não receberam uma posição oficial da organização da prova e da Fina e muitos imaginaram que o percurso original seria mantido.
“O mar no dia da prova estava muito mexido. Para se ter uma ideia da situação, embarcamos em Nápoles em um catamarã grande para ir até o ponto de largada na ilha de Capri e ele balançou demais. O mar estava tão forte que o barco literalmente ia vencendo as ondas. Muitos nadadores vomitaram e passaram mal. O trajeto que normalmente é feito em cerca de 40 minutos demorou mais de 1 hora”, disse Catarina Ganzeli.
O horário de largada da travessia foi alterado diversas vezes devido as condições do mar, já que os barcos que iriam acompanhar os nadadores tinham dificuldades para permanecer em seus postos. Após muitas conversas, os organizadores resolveram levar os atletas de volta a Nápoles onde foi montado o circuito. Inicialmente seriam 20 km, mas a distância foi encurtada em 4 km. Nesse período, que durou muitas horas, os atletas tiveram sua alimentação e descanso prejudicados. A falta de organização foi tamanha que o total geral do percurso e a definição se homens e mulheres nadariam juntos só foram resolvidos apenas na hora da largada.
“Com quatro horas a prova foi interrompida por falta de luz natural. A organização não tinha estrutura necessária para continuar e estava muito escuro. Passaram então a tirar os atletas da água. Como ninguém estourou o tempo limite todos foram classificados no ranking geral, mas sem tempo de classificação. Eu fui retirada da água quando faltavam cerca de 800 metros para terminar”, contou Catarina que foi retirada da água, assim como outros atletas, durante a última volta e acabou ficando sem tempo final.
Por Guilherme Freitas
* Colaborou com informações, Catarina Ganzeli.