Beatriz Dizotti, atleta de 21 anos do Minas Tênis Clube, foi um dos principais destaques da Seletiva Olímpica, realizada no Parque Aquático Maria Lenk no Rio de Janeiro (RJ), no mês passado. A atleta nadou abaixo do índice e ainda quebrou o recorde brasileiro da prova dos 1500m livre feminino, prova estreante em Olímpiadas, e garantiu seu lugar nos Jogos Olímpicos de Tóquio neste ano. Beatriz nadou a prova em 16min22s07 e conquistou a vaga para seus primeiros Jogos na carreira. Na prova ainda tivemos Ana Marcela Cunha e Betina Lorscheitter nadando abaixo do índice.
No Minas TC desde 2019, Beatriz estava confiante para a prova dos 1500m livre e calma antes da competição. “Eu entrei na prova sem pensar muito, eu queria nadar abaixo do índice e sabia que eu tinha que bater na frente, estava extremamente tranquila e aconteceu. O objetivo era bater na frente dentro da estratégia que eu tinha organizado com o meu técnico. Na hora que eu vi o resultado fiquei desacreditada, tentando entender o que realmente tinha acontecido. Quando anunciaram que tinha sido recorde fiquei ainda mais feliz”, comentou.
A nadadora, que passou por altos e baixos na carreira, chegou na seletiva na sua melhor forma. “Depois de tudo o que eu tinha passado, vivido, realmente passou um filme na minha cabeça e aquele momento foi único. Aprendi que não são só quatro anos de preparação para um Jogos Olímpicos é minha vida inteira para chegar nesse momento. Minha vida inteira foi pensando nisso”, disse Beatriz.
Na seletiva, Beatriz foi ainda foi terceiro lugar nos 800m livre e quarto nos 400m livre. Depois dos 800m ela comentou que a prova era muito “rápida” para ela, principalmente por ser metade da sua prova principal. “Uma curiosidade é que na minha prova individual de 800m livre eu fiz exatamente o tempo que eu passei na parcial de 800 na minha prova de 1500m. Para mim é até uma dificuldade nadar essa prova mais rápida, por isso considero ela “curta”. Eu me sinto muito mais confortável nadando os 1.500m”, falou.
Mas, o fato de nadar as provas de fundo não faz com que atleta descarte provas menores e de outros estilos, como fazia nas categorias menores. “Não descarto nenhuma prova, gosto de nadar e treinar os 200m borboleta também, por exemplo”.
Beatriz começou a nadar com apenas dois anos de idade na escola de natação perto da sua casa. Depois, com três anos ela fez aulas até os seis anos na CPN Tatuapé. Depois disso se transferiu para o Corinthians, clube que teve contato com as primeiras competições de categoria e que ficou por oito anos.
“No último ano de Petiz eu medalhei no Paulista nos 800m livre e para mim foi muito importante medalhar, porque a gente não tinha Brasileiro. No ano seguinte, no infantil, já fui campeã brasileira no final do ano e tive resultados mais expressivos. Sempre tive uma característica mais resistente, 400m medley e 200m borboleta já foram minhas provas principais, mas nunca deixei de treinar fundo”, lembrou.
Após o Corinthians, Beatriz ficou um ano no SESI, em 2016, e no ano seguinte foi para o Esporte Clube Pinheiros. Foi no ensino médio que ela soube que faria da natação sua profissão, mas a jornada não foi fácil. Em 2018, decidiu que ia parar de nadar, dúvidas surgiram e os amigos que já estavam em faculdades e começando carreiras pareciam mais promissores que ela.
Uma conversa com seu irmão fez com que a chance de uma bolsa integral nos Estados Unidos reacendesse sua conexão com a natação e a fez usar a modalidade a seu favor. “Tudo foi muito rápido, no começo de 2019 já estava nos Estados Unidos”. Na Miami University ela teve a certeza de que queria nadar e mesmo com o pouco tempo de experiência fora, sabia que seus objetivos seriam alcançados se estivesse no Brasil.
“Não estava feliz lá, não conseguia treinar e nem estudar direito. Não sei fazer alguma coisa e não me entregar 100%, quando voltei para o Brasil para nadar o Maria Lenk sabia que era aqui que minha natação seria melhor e aqui que eu teria condições de realizar meu sonho. Foram seis meses de aprendizado lá, mas minha decisão de voltar foi a melhor que poderia ter feito”, falou.
Voltando ao Brasil ela já encontrava uma nova casa: o Minas Tênis Clube. Antes da pandemia, ela se mudou para Belo Horizonte e morando sozinha pela segunda vez encontrava no Minas sua nova família. “O Minas inteiro é muito caloroso, muito receptivo, quando eu não estava tão bem meus colegas de time me puxavam muito, nos primeiros seis meses em Minas Gerais, eu sentia que tinha uma família no clube e é o que eu sinto até hoje”.
Logo depois, veio a pandemia. Durante o período de lockdown, ela não parou. Focada em buscar a marca olímpica, de 16m32s04, voltou para São Paulo e ficou apenas três dias sem movimentar o corpo de alguma forma. Depois fez aulas com um personal e fazia dos treinos que o Minas mandava. Em meio a pandemia, ela conseguiu um abaixo assinado dos moradores de seu condomínio para usar a piscina, o que a ajudou a manter a movimentação na piscina. Em julho voltou para Belo Horizonte e conseguiu treinar mais periodicamente na água.
“Antes da pandemia eu não estava bem, estava melhorando mas longe do meu 100%. Eu me senti em casa, quando voltei. Consegui colocar minha cabeça do lugar, voltei dos Estados Unidos fora de forma e na pandemia consegui voltar, apesar de ser um momento deliciado para o mundo, foi um momento em que eu coloquei a cabeça no lugar, foi uma virada de chave, e consegui me focar para meu principal objetivo, que era a seletiva”, comentou.
Na volta aos treinos, com o psicológico ainda melhor, o tempo veio. Em uma tomada de tempo no clube ela fez 16min24s, tempo abaixo do índice e foi confiante para a prova em abril. “Foi um processo leve, e natural com os treinos. Na tomada de tempo eu eu chorei tudo o que eu não chorei na seletiva, foi especial”, comentou.
A caminho de sua primeira Olímpiada, ela não sente a pressão e continua com o trabalho mental de ter pensamentos tranquilos e não pensar tanto no futuro. “Não estou ficando ansiosa, pensando muito. Estou muito tranquila, estou tentando deixar tudo muito leve, treinar cada vez melhor que coisas boas vão vim. Meu objetivo é treinar melhor do que eu estava treinando, então meu resultado vai ser ainda melhor. Não estou pensando muito no futuro, estou pensando um dia de cada vez”, finalizou a nadadora.
Aos 21 anos, Bia já é inspiração para muitas jovens nadadoras e tem como ídolos próximos Ana Marcela Cunha, Poliana Okimoto, Joanna Maranhão, Natalia de Luccas e Bruna Primatti. “A Nathália e a Bruna viveram muito próximo a mim e foram muito importantes na minha carreira. Tiveram um papel muito grande, a Nathalia cuidava muito de mim quando eu era do infantil e a Bru Primatti, me ajudou muito quando fui treinar no SESI. Elas fizeram parte do meu processo e sempre me espelhei muito nelas”.
“Eu fico muito feliz de saber que sirvo de inspiração para a categoria mais nova, isso é muito importante. Fico super feliz, tive essa imagem próxima em quem me inspirar, sonhando todos os dias em ser como elas. O apoio é o essencial e ter as inspirações também, para que a natação feminina cresça”, contou.
Para o futuro a nadadora não descarta uma aproximação com as provas de maratona aquática, mas ainda têm as provas de piscina como principal foco. “Pela minha característica posso me dar bem. Nadei uma vez e peguei Campeonato Mundial Júnior, o Brasil não levou a Seleção naquele ano, mas tenho a convocação. Talvez em um futuro, quem sabe, não é uma prova a se descartar, o único problema seria o medo, o que da para superar. Mas ainda quero nadar muito na piscina, por muitos anos”, finalizou.