A situação a seguir trata-se de um problema de lógica muito conhecido.
Um caracol resolve escalar uma parede de 12 metros. A cada dia ele sobe 3 metros e escorrega 2. Quantos dias ele vai demorar para chegar ao topo?
A intuição diz que, nessas condições, o caracol sobe um metro por dia. E levaria 12 dias para chegar lá.
Só que, no 9º dia, ele teria subido 9 metros. E, no 10º dia, subiria mais 3 e alcançaria o topo. Sem a escorregada que muitos contabilizariam.
Será coincidência a semelhança com a trajetória de Bruno Fratus?

A cada ano, o nadador galga degraus em sua caminhada.
Na maioria dos casos, subindo a escadaria rumo ao paraíso. Mas com alguns obstáculos essenciais que fizeram com que ele tenha se transformado no nadador que se tornou.
Em 2011, em sua primeira final de nível mundial, terminou os 50m livre em 5º no Mundial de Xangai, e em segundo no ranking mundial do ano, com o tempo de 21s76.
Em 2012, quarto lugar na final olímpica em Londres com o tempo de 21s61.

Em 2013, após dois anos de crescente na elite mundial, uma temporada sem evolução. Por causa de uma cirurgia no ombro, não houve melhora de marca. Uma estagnação necessária.
Em 2014, a retomada do crescimento: vitória no Pan-Pacífico com 21s44 e encerramento do ano com 21s41.
Em 2015, mais uma evolução na casa dos décimos de segundo, com 21s37 no Open em dezembro.
Após dois anos evoluindo, outra temporada para interromper a trajetória ascendente em 2016. Por causa de uma lesão na lombar, não passou de 21s71.
Assim como o caracol do início do texto, depois de uma descida, a retomada da ascensão era o que poderia se esperar de Bruno.
Pelos obstáculos que a vida traz, 2016 representou um recuo para pegar impulso. Assim como 2013, mas de uma maneira bem diferente
Pois não foi do jeito que ele queria. Uma lesão, um desempenho frustrante na Olimpíada em casa, um resto de temporada para se esquecer.
Mas ele não quis esquecer. E, sim, usar o que se passou como lição e combustível para o futuro.
Foi o que fez hoje.

Após 21s7 em 2011, 21s6 em 2012, 21s4 em 2014, 21s3 em 2015…
Em 2017, mais uma melhora na casa dos décimos de segundo, agora para 21s27. Vice-campeão mundial, terceira melhor marca da história sem trajes tecnológicos.
Nada mal para quem até pensou em deixar o esporte no início do ano.
E agora a trajetória ascendente está retomada.

Na escadaria para o paraíso, pode haver ainda alguns percalços na caminhada rumo a Tóquio, em 2020.
Mas o caracol do referido problema chegou ao topo justamente quando todos esperavam que ele caísse.
Por tudo que se passou, não há porque pensar que será diferente com Bruno Fratus.
Por Daniel Takata