Thaís Sant’Ana, aos 32 anos, pretende atravessar nadando o Canal da Mancha em 2024, tornando-se a primeira mulher do Espírito Santo e a oitava brasileira a realizar o feito. Conforme dados da CSA (Channel Swimming Association), a prova indica uma taxa de sucesso de apenas 8% entre mais de duzentas tentativas anuais.
Os principais desafios da travessia incluem baixa temperatura da água, correnteza, ventos fortes, largada de madrugada e a presença de embarcações. Thaís compartilhou detalhes de sua preparação, que começou quase um ano antes da tentativa prevista para entre 9 e 16 de agosto de 2024, dependendo das condições climáticas. Sua rotina envolve 15 horas de natação em piscina (cerca de 42 km por semana), 4 horas de preparação física e treinamento funcional, além de uma alimentação balanceada e bons hábitos de sono.
Mas, um dos grandes diferenciais deste período preparatório está no trabalho de fortalecimento mental. Além do tradicional acompanhamento psicológico, que ajuda a controlar o lado emocional, a nadadora realiza uma preparação físico-cognitiva, ampliando a capacidade do cérebro de reagir ao estresse.
“Nesse momento, estamos trabalhando bastante a atenção seletiva, que seria a capacidade do cérebro de absorver tudo que é relevante e descartar o que é desnecessário; a atenção sustentada, para que ela mantenha o foco no que for preciso; e o controle de impulsividade. Como se trata de uma prova de endurance, com 10, 12 horas de atividade física, todas as decisões tomadas acabam impactando no desempenho do atleta”, explica Larissa Zink, treinadora mental e fundadora da NeuroEsporte, especializada em potencializar o desempenho de atletas amadores e profissionais por meio da neurociência.
Durante esse treinamento mental, a nadadora faz uso de equipamentos de alta tecnologia, como óculos de realidade virtual e jogos de luzes LED. Outro recurso importante que a nadadora incluiu no seu planejamento foi a simulação das condições reais de prova, principalmente no que diz respeito ao frio.
Vale lembrar que a organização responsável por homologar o nado (CSA) proíbe o uso de traje de neoprene para realizar a prova. Além do simulado noturno e de um treino longo de 8 horas em piscina, Thaís optou por realizar sessões semanais de imersão no gelo e meditação. A crioterapia vem se popularizando, especialmente no que diz respeito à aceleração do processo de reabilitação muscular e redução das inflamações. Todavia, a exposição ao frio gera uma série de outros benefícios para os atletas.
“Não se trata apenas de uma adaptação metabólica, tal procedimento permite que a atleta treine e aprimore a sua capacidade de planejamento, de automonitoramento e de gerenciamento da atenção. Ou seja, além de auxiliar uma atleta que irá se expor ao frio durante muito tempo, temos também o exercício da resiliência mental quanto às eventuais imprevisibilidades que ela pode enfrentar no dia da prova”, ressalta Renato Cameirão, instrutor de Yoga, que reforça a necessidade de se realizar o procedimento sob a orientação de um profissional capacitado.
Para o desafio do Canal da Mancha, Thaís Sant`Ana tem o suporte de uma equipe multidisciplinar, composta pelos profissionais da Samir Barel Natação, Meu Doc, Neuroesporte, Cia Athlética de Campinas e Instituto Recovery. A nadadora também é apoiada e patrocinada por Swimhaus, Rosa dos Ventos Cosméticos, Mania de Castanha, Z2 Foods, Shark Rebelion, Açaí Conexão Amazônia, Mana Poke, Kpaloa e Yopp.
Thaís concluiu algumas provas de longa distância curiosas e desafiadoras, como a Morocco Swim Trek, travessia de 33 quilômetros pelo Rio Nilo (Egito), os 20k do Swim Challenge Portugal que vai de Lisboa até Cascais, e o Desafio do Lago Bodensee, 35k passando por 3 países (Alemanha, Suíça e Áustria). No Brasil, sagrou-se tetracampeã da 14 Bis, a mais tradicional ultramaratona aquática do país (24k), e é a atual recordista da Ultramaratona Aquática da Ilha do Mel (23k).