Mais um dia histórico para a natação portuguesa, e não é exagero.
O feito desta segunda-feira de manhã já não é do ‘miúdo José Paulo Lopes, mas de alguém que entra na fase ‘adulta’ da sua carreira, com uma marca para mais tarde contar aos netos.
O nadador do Sporting de Braga acaba de entrar no ranking dos 100 melhores de sempre. Em Portugal? Não, da Europa!
Com o fantástico recorde nacional de 14:39.82 na prova mais longa de 1500m livres, o Zé torna-se no terceiro melhor nadador ibérico de todos os tempos (ver quadro) e 70º europeu da história!
No ranking europeu da época irá ocupar, por certo, um lugar no top 10, mesmo considerando as marcas deste Mundial de Piscina Curta em Abu Dhabi.
Zé Lopes retirou mais de nove segundos ao seu próprio recorde nacional de 14:48.89 (a 22/12/19 nos Nacionais em Felgueiras), obtendo também, segundo o seu treinador Luís Cameira, “a terceira melhor pontuação de sempre da natação portuguesa (895 pontos pela tabela da FINA), só batida pelos 200m estilos do Diogo em piscina curta, e do Alexis Santos em longa”, detalhou.

Ou seja, estamos perante um feito para a história, que Luís Cameira comentou para a SWIM CHANNEL: foi uma prova muito bem disputada, numa série fortíssima! (foi 6º na série). O Zé controlou muito bem os ritmos e melhorou muito as viragens! Na sua estreia num mundial, não podia pedir mais: dois recordes em duas provas, e este por larguíssima margem.”
Aos 800m o português, de 21 anos, passou nuns super-rápidos 7:46.81…a quatro segundos e algumas décimas do recorde nacional dos 800m…
A concluir o técnico nacional ainda acrescentou: “foi uma ótima classificação, a seis centésimas do top 10 mundial, numa prova onde estavam praticamente todos os melhores do mundo”.

Mas o Zé está “um pouco triste…”?
Com a sua habitual simplicidade o Zé Lopes disse-me: “o meu objetivo era bater o recorde pessoal, e por isso estou muito feliz!”
No entanto, modesto mas sempre ambicioso, ainda acrescentou: “ainda assim estou um pouco triste porque pensava que se fizesse este tempo conseguiria um melhor resultado na classificação geral”, onde foi 11º, a pouco mais de três segundos do oitavo e último apurado para a final.
Mas estamos num CAMPEONATO DO MUNDO, e também nesta prova de 1500m livres estiveram os maiores do planeta, por exemplo (por ordem de apuramento para a final): Mykhailo Romanchuk, vice-campeão olímpico na prova (Ucrânia), Ahmed Hafnaoui (o mais que improvável campeão olímpico dos 400m livres nos Jogos de Tóquio, natural da Tunísia), Florian Wellbrock, bronze em Tóquio nos 1500m, campeão nos 10 km (Alemanha), e Gregorio Paltrinieri (Itália), ‘apenas’ o recordista europeu e campeão olímpico em 2016.

Na sétima vez em que nadou abaixo da barreira dos 15 minutos aos 1500 metros, Zé Lopes regressa a Braga com o sentimento de dever cumprido: dois recordes de Portugal nas duas provas que nadou (ainda os 400m livres), optando, e bem, por abdicar dos duros 400m estilos que estava previsto nadar hoje, antes dos 1500m.
Venha o Mundial FINA de piscina longa, de 13 a 29 de maio (Fukuoka), onde quererá ser o novo autor do único recorde português que ainda lhe falta das seis provas de meio-fundo e fundo (400, 800 e 1500m) entre piscina curta e longa; é que só os 1500m em longa não são seus, mas de Guilherme Pina (Sporting) com 15:15.12 (2017), sendo o segundo melhor Fernando Costa (Leixões) com 15:16.22 (2017). O Zé ainda ‘só’ tem o terceiro melhor registo, com 15:19.76 em 2020. Algo me diz que isso vai mudar dentro de cinco meses.
Melhores nadadores ibéricas da história – 1500m livres (piscina curta)
1. Marc Sanchez Torrens (Espanha) – 14:30.79 – 923 pts – 24ª posição – 20 Dez. 2014 – Palma de Mallorca (ESP)
2. Marcos Rivera Miranda (Espanha) – 14:32.56 – 918 pts – 33ª posição – 12 Dez. 2009 – Istanbul (TUR)
3. José Paulo Lopes (Portugal) – 14:39.82 – 895 pts – 70ª posição – 20 Dez. 2021 – Abu Dhabi (EAU)
4. Miguel Duran Navia (Espanha) – 14:43.92 – 883 pts – 83ª posição – 04 Nov. 2019 – Gijon (ESP)
Miguel Nascimento em bom nível nos 100m livres
Em bom plano apresentou-se o experiente Miguel nascimento, que obteve a sua segunda melhor marca de sempre ao hectómetro livres: 47.51 (22.44, e 25.07 na segunda metade da prova), apenas a 20 centésimos do exigente apuramento para a meia-final (47.31).
Foi o 19º melhor entre 100 participantes (!), ex-aequo com o sérvio Velimir Stjepanovic.
O seu recorde de Portugal de 47.26 está cada vez mais em risco, embora esta época não deva nadar mais em piscina curta.
Ficou à frente da estrela Chad Le Clos (23º, 47.83) que foi medalha de bronze nesta prova no Mundial de 2018, sendo o melhor ibérico e segundo ibero-latino (Gabriel Santos foi o 7º melhor de manhã em 46.95).

O atleta do SL Benfica, que treina com Alberto Silva no Centro de Alto Rendimento no Jamor, pode regressar a casa com a consciência tranquila, pois as indicações para o futuro são positivas, sabendo-se que três meses e pouco no CAR é insuficiente para mostrar grande evolução; além de que a aposta do atleta e equipa técnica é em piscina longa…Mundial e Europeu de agosto (Roma).
Amanhã, terça-feira, no sexto e último dia do 15º Mundial, nada Francisco Santos (Sporting) nos 200m costas, e a esposa de Miguel, Victoria Kaminskaya (SLB) nos 200m bruços.



































