Nosso sistema respiratório funciona de maneira perfeita ao nível do mar com a pressão atmosférica de 1atm de forma que nossos pulmões se encham de oxigênio na medida certa.
Já na altitude, onde existe uma redução da pressão parcial de oxigênio, nosso corpo sofre uma sobrecarga do sistema pela dificuldade de passar o oxigênio dos pulmões para o sangue. Esta situação compromete todo o processo de produção de energia por essa via de oxigenação, porém, o organismo tem uma possibilidade de adaptação interessante: com menor disponibilidade de oxigênio o corpo aumenta a produção de glóbulos vermelhos (hemácias), na tentativa de otimizar o processo de absorção e transporte do oxigênio e minimizar os efeitos deletérios do ar rarefeito.
A ideia central do treinamento em altitude é expor o organismo à situação de hipoxia (diminuição de oxigênio nos tecidos) para estimular diversos processos, como o aumento do endotélio vascular (capilares sanguíneos nos músculos) e da produção de hemácias e de mioglobina (proteína responsável por carregar o oxigênio dentro das células musculares) apostando na melhora do seu sistema de produção de energia aeróbica.
É nessa adaptação que as equipes de elite apostam.
Alguns estudos mostram que entre 2.000 e 2.600 metros de altitude é onde você encontra melhor essa adaptação e resultado sem perder muito a performance, e o período não menor que 21 dias, para que está adaptação perdurem por mais tempo assim concretizando ganhos fisiológicos por pelo menos dois a três meses.
Para acompanhar os atletas nesses treinamentos, nós fisioterapeutas temos que compreender esse processo para especificar nossas ações.
-A recuperação entre treinos desses atletas será mais lenta nesse período, conforme a adaptação vai acontecendo teremos uma resposta melhor, porém, a carga interna gerada vai aumentando, tornando muito importante o trabalho de recovery.
-Outro ponto importante é a sobrecarga da musculatura inspiratória acessória, principalmente na primeira semana de treinamento em altitude. Esternocleidomastóideo, Escalenos (Anterior, Médio e Posterior), Peitoral Menor e Maior, Latissimo do dorso, Serrátil Anterior e intercostais são músculos que estarão super ativados na tentativa de ajudar a captar mais oxigênio, esses músculos além de ajudarem no processo de respiração, tem papel fundamental na biomecânica da coluna cervical, torácica, ombros e MMSS. Lembrando que no nado esses músculos já se encontram em sobrecarga.
Tendo conhecimento de todo o processo podemos identificar com mais facilidade nossos alvos terapêuticos em possíveis desconfortos e, principalmente, antecipar disfunções neuromusculares adaptativas nesse período, que possam resultar em lesões.
Referências:
Chapman RF, Karlsen T, Resaland GK, Ge RL, Harber MP, Witkowski S, Stray-Gundersen J, Levine BD. Defining the “dose” of altitude training: how high to live for optimal sea level performance enhancement. J Appl Physiol (1985). 2014 Mar 15;116(6):595-603. doi: 10.1152/japplphysiol.00634.2013. Epub 2013 Oct 24. PMID: 24157530.
Rodríguez FA, Iglesias X, Feriche B, Calderón-Soto C, Chaverri D, Wachsmuth NB, Schmidt W, Levine BD. Altitude Training in Elite Swimmers for Sea Level Performance (Altitude Project). Med Sci Sports Exerc. 2015 Sep;47(9):1965-78. doi: 10.1249/MSS.0000000000000626. PMID: 25628173.
Contra o Relógio. Treinamento em altitude, um caminho para a elite. Disponível em:
https://contrarelogio.com.br/antigas/como-funciona/treinamento-em-altitude-um-caminho-para-a-elite/.
Sitkowski D, Szygula Z, Surała O, Orysiak J, Zdanowicz R, Pokrywka A, Starczewski M, Malczewska-Lenczowska J. Hematological status and endurance performance predictors after low altitude training supported by normobaric hypoxia: a double-blind, placebo controlled study. Biol Sport. 2019 Dec;36(4):341-349. doi: 10.5114/biolsport.2019.88760. Epub 2019 Oct 31. PMID: 31938005; PMCID: PMC6945048.