A Rússia tem uma rica história na natação olímpica. São 91 medalhas e 22 de ouros, mas Tóquio marcou o fim do maior jejum de ouros do país na modalidade. Quando Evgeny Rylov venceu os 100m costas em 27 de julho marcando 51s98, novo recorde europeu para a prova, e três dias depois ainda levou os 200m costas, estava quebrando uma sequência de 25 anos sem uma vitória de seu país na Olimpíada.
O último campeão olímpico da natação russa tinha sido Alex Popov e sua dupla vitória nos 50m e 100m livre nos Jogos de Atlanta, em 1996. Interessante que Rylov, com dez anos de idade, conseguiu uma disputada foto com seu maior ídolo, Alex Popov.
Rylov sempre gostou de natação. Evgeny Mikhalovich Rylov, nasceu na pequena Novotroitsk, uma cidade industrial com menos de 100 mil habitantes próximo a fronteira do Cazaquistão. O pai, treinador de futebol, até tentou, mas o filho queria mesmo era ser nadador.
Sua estreia internacional, depois de um bom Europeu Júnior foi os Jogos Olímpicos da Juventude, em Nanjing 2014. De lá, saiu como um dos melhores nadadores da competição vencendo os 50m e 100m costas, além de uma prata nos 200m costas. No ano seguinte, ele estava no time principal da Rússia e já foi medalhista de bronze nos 200m costas do Mundial de Kazan. A primeira Olimpíada foi o Rio-2016, bronze nos 200m costas.
Os russos queriam muito o fim deste jejum em Tóquio. E tinham chances em várias provas, mas foi Rylov que conseguiu a dupla vitória. Nos 100m costas fez dobradinha com o também russo Kliment Kolesnikov e nos 200m bateu o americano Ryan Murphy.
Com Murphy até rolou uma controvérsia na coletiva de imprensa. Murphy citou que por conta do histórico de doping não concordava com a presença da Rússia na competição que competiu sem o direito ao uso de bandeira ou execução do hino. Rylov não fala inglês e foi questionado para falar a respeito da declaração, mas saiu com “eu não quero falar sobre isso, pois não tenho nado a ver com isso”. Murphy viu que se meteu em uma grande celeuma internacional, inclusive afrontado por jornalistas mais agressivos e no mesmo dia acabou pedindo desculpas.
A resposta de Rylov foi na água. Ele sempre foi assim, quieto, reservado. Amante dos seus seis gatos, ficou famoso pela sua máscara de gato que virou febre no seu retorno a Rússia. No aeroporto, na sua chegada, além de familiares e amigos, até dirigentes e políticos usavam a máscara do gato de Rylov.
Rylov não só ganhou os dois ouros em Tóquio, também foi integrante do revezamento 4x200m livre medalha de prata além de duas finais dos revezamentos 4x100m medley (quarto lugar) e 4x100m medley misto (sétimo lugar). Muitos especialistas russos comentaram que ele fez falta no 4x100m livre que era apontado como favorito para uma medalha, até de ouro, e acabou num decepcionante sétimo lugar.
A performance de Rylov não foi surpresa para o seu treinador de longa data Andrei Shishin. Segundo ele, poderia ter sido até melhor. Rylov superou o recorde olímpico que era de Tyler Clary desde 2012 com 1min53s41 para 1min53s27. Shinshin queria era o recorde mundial que ainda pertence a Aaron Peirsol com 1min51s92 imbatível desde 2009.
As duas medalhas de ouro abriram novas oportunidades para Rylov na Rússia. Foi um dos homenageados pelo Presidente Vladimir Putin na recepção feita aos atletas olímpicos no Kremlin. No dia do aniversário de Putin, Rylov fez uma homenagem em seu Instagram postando uma foto onde mostra que sua medalha ganhou o autógrafo do Presidente.
Um patrocinador também fez uma ação nacional promovendo um concurso onde as famosas máscaras de gato eram sorteadas. Mesmo com a personalidade arredia e o jeito caladão, a idolatria de Rylov hoje é absoluta.
Rylov não teve férias depois de Tóquio. Nem tanto pela posição de sargento da polícia de Moscou Oblast no distrito de Lobnya, onde mal cumpre responsabilidades, mas principalmente por estar na disputa da ISL onde defende o Energy Standard, clube que fez a maior pontuação na primeira fase da Liga.
E não vai descansar tão cedo, pois deve participar da Copa do Mundo, volta para a ISL e ainda nada o Mundial de Curta no final do ano. Como um gato, Rylov parece ter sete vidas.