O que Etiene Medeiros, Guilherme Guido e Felipe França têm em comum?
No ano passado, Etiene terminou na liderança do ranking mundial dos 50m costas.
Em 2009, Guido chegou a ser recordista de campeonato mundial nos 50m costas.
Felipe França foi recordista e campeão mundial dos 50m peito.
Ou seja, a resposta é: em piscina longa, sempre brilharam em provas de 50m. Não-olímpicas.
Mas já vinham em busca de transferir essa habilidade para provas de 100m. E, em maior ou menor grau, apresentaram evolução nos últimos tempos.
Pois hoje, no quarto dia de natação do Pan de Toronto, os três mostraram que, definitivamente, deixaram de ser aspirantes ao sucesso em provas de 100 metros. E se colocaram com categoria entre os melhores do mundo.
O caso mais emblemático é o de Etiene. Com a americana Natalie Coughlin, a primeira da história a nadar os 100m costas abaixo do minuto, assistindo a prova das arquibancadas, a brasileira terminou com recorde do Pan com 59s61.
6º tempo do ranking mundial de 2015. Tempo que lhe daria final na Olimpíada de 2012 e Mundial de 2013.
E a primeira brasileira campeã e recordista mundial em piscina curta também é a primeira mulher a trazer um ouro pan-americano para o país.
Suas parciais deixaram claro o treinamento voltado para os 100m. Em sua melhor marca anterior (1min00s61), as parciais foram 29s32 e 31s29. Hoje, sua parcial de ida foi similar (29s10). A volta foi matadora: 30s51, quase meio segundo melhor que a polonesa naturalizada americana Olivia Smoliga.
O tempo é de finalista olímpica. Mas Etiene, a conquistadora de marcas inéditas na natação feminina brasileira, almeja mesmo mais um feito inédito para as mulheres nos Jogos de 2016: uma medalha. Para isso, 58s é necessário. Pelo que ela vem fazendo nos últimos tempos, não dá para duvidar.
O tempo de Etiene a deixaria na quinta posição no Mundial de Barcelona, em 2013. Exatamente a mesma colocação que teria obtido Guilherme Guido com o tempo de hoje, 53s35, marca espetacular, sétimo melhor tempo do mundo. Foi superado pelo vice-olímpico Nick Thoman, 53s20.
Mas só há motivos para comemorar: conseguiu segurar bem a volta, seu ponto fraco por ser velocista; a exemplo de Etiene uma marca também de finalista olímpico (para classificação em Londres-2012 foi necessário 53s74); representa um salto na expectativa para o revezamento 4x100m medley, que já tinha os nados de peito e livre de nível mundial, e agora também o costas.
Para Felipe França, seu 59s20, ouro e recorde do Pan, tem sabor especial. Para quem quase parou de nadar após a decepção da Olimpíada de 2012, marcar o terceiro melhor tempo do mundo a um ano dos Jogos do Rio atesta que ele está no páreo. Mais até do que em 2012.
A marca que lhe daria medalha em qualquer competição internacional até hoje, incluindo Olimpíadas e Mundiais. Passagem (27s41) e volta (31s80) fortes. Uma grande evolução, pois ele só conseguia voltar abaixo de 32s quando fazia uma passagem na casa dos 28s.
A prata de Felipe Lima representou a primeira vez na história da natação dos Pans que uma dobradinha se repete por duas edições.
Se a prova foi boa para França, nem tanto para Lima: 1min00s01. Ele havia nadado para 59s no Maria Lenk em abril e esperava melhorar para voltar ao nível do bronze mundial em 2013. Ele terá em Kazan outra oportunidade para isso.
Entre os outros destaques do dia, menção especial para a americana Katie Meili: 1min05s64 nas eliminatórias dos 100m peito, segundo melhor tempo do mundo e marca que só perde hoje para a lituana Ruta Meylutite. E pensar que Meili não estará no Mundial de Kazan. Mas já se coloca entre as prováveis concorrentes a medalha para a Olimpíada de 2016.
Etiene ainda voltaria para bater o recorde sul-americano dos 50m livre com 24s55 e conquistar a prata, à frente justamente de Natalie Coughlin.
Bruno Fratus com 21s91 terminou na segunda posição nos 50m livre em uma disputa acirrada com o americano Josh Schneider (21s86). A sexta vitória consecutiva brasileira na prova ficou perto de sair, mas o foco é o ouro no Mundial de Kazan. O tempo não agradou e ele não mostrou a segunda metade da prova voraz e costumeira, a qual se espera estar de volta daqui duas semanas.
Leonardo de Deus não melhorou sua marca mas levou medalha nos 400m livre (bronze com 3min50s30), e Manuella Lyrio melhorou o recorde brasileiro (4min10s92) mas não levou medalha, terminando na quarta posição. Entre tempos e medalhas no final venceram todos.
A liderança do quadro de medalhas fica muito difícil, pois é improvável que o Brasil leve ouros em outras provas além dos 200m medley e 4x100m medley masculino amanhã, e com isso os Estados Unidos precisariam somente de uma vitória para garantirem a liderança, o que é muito difícil de não acontecer.
Mas a competição só acaba quando termina, e depois do que vimos nadadores como Etiene fazer hoje, e do que aconteceu no Mundial de Curta no ano passado, melhor esperar até a última prova. Com ou sem liderança no quadro de medalhas, o Pan já é inesquecível o Brasil.
Por Daniel Takata