A World Aquatics publicou no sábado a lista de partida (‘start list’) para o Mundial de Fukuoka (natação entre os dias 23 e 30), e Portugal surge – como previsto – com Diogo Ribeiro no top 8 dos 50m mariposa, e no top 16 dos 100m mariposa.
Por um lapso (não sei a origem) a Camila Rebelo surge aos 200m costas apenas com o tempo que realizou no Europeu de Roma ’22, e não com o recorde absoluto e mínimo olímpico de 2:09.84, que lhe daria o 14º lugar na ‘pole position’ no Japão (ver quadro em baixo de resumo).
Assim, e em teoria, Portugal é muito forte candidato a alcançar três meias-finais e uma final neste 20º Mundial, mas (avaliados vários pontos) acredito que chegaremos a sete meias-finais, o que repetiria o feito de Gwangju 2019.
A diferença é que em Fukuoka temos a possibilidade real (mas não fácil, óbvio) de estar numa final apenas pela segunda vez na história, depois do brilhante quinto lugar de Alexandre Yokochi há 37 anos…quando em Madrid 1986 o – ainda – melhor português de sempre nadou a final dos 200m bruços, na altura com 21 anos.
A progressão que Diogo (18 anos, primeiro ano de sénior) tem tido e a sua forte ambição (reforçada em declarações à imprensa à partida para o Japão) fazem dele o foco principal das esperanças lusas no país do Sol Nascente, ao qual os navegadores e missionários portugueses foram os primeiros Ocidentais a chegar, em 1543 (celebram-se este ano 480 anos das relações Portugal-Japão).
E é em Nagasaki – cidade exatamente com fortes ligações históricas ao nosso país – que Portugal apura a forma, sob as orientações de Alberto Silva e restante equipa técnica (ver em baixo quem são).
Diogo candidato a 1 final e 4 ‘meias’
Se Diogo (SL Benfica) continuar a evoluir como tem feito desde que começou a dar nas vistas em julho de 2021 (quando foi prata no Europeu Júnior aos 100m mariposa, ainda pelo União de Coimbra; e que culminou nos três ouros no Mundial Júnior de setembro, mais um recorde mundial da categoria), poderá ambicionar claramente a um Mundial histórico, com uma final e – porque não – um total de quatro meias-finais, superando o feito-recorde de Alexis Santos, que já esteve em três ‘meias’.
Até porque nadará sem a pressão da obtenção de mínimos olímpicos para Paris 2024, pois está já apurado para três inéditas provas (50m e 100m livres e 100m mariposa), algo que também ninguém antes conseguiu. Referir medalhas no Japão parece-me prematuro, mas é por certo legítimo que o próprio atleta sonhe com elas…
Gabriel, Tamila e Camila…
Tenho muita expectativa num atleta que também aprecio muito, pela sua humildade e capacidade de trabalho, e que (tal como Ribeiro) foi nada menos que medalha de bronze no Europeu de Roma em 2022: Gabriel Lopes (Louzan) é forte candidato às ‘meias’ dos seus 200m estilos, mas acredito que estará ainda mais focado em cumprir os 1:57.94 de acesso aos seus segundos Jogos Olímpicos. Se o fizer por certo nadará à noite (20h do Japão, 12h em Portugal) entre os 16 melhores.
Além da sua colega de clube e no CAR de Coimbra, a estreante Camila Rebelo (já referi, é forte candidata à meia-final de 200m costas), também da experiente Tamila Holub se espera um bom terceiro Mundial de piscina longa.
Vem motivada de uma época em que alcançou algumas das suas melhores marcas, a que juntou pódios em importantes competições internacionais, e pode muito bem em ambas as provas de fundo (talvez até mais nos 1500m) realizar ótimas prestações, terminando no top 16 do Mundial (não há meias-finais nas provas de 400m e acima).
A melhor classificação feminina em Mundiais de longa pertence-lhe, quando foi 10ª classificada em 2017, exatamente aos 1500m livres.
Nascimento e Costa
Miguel Nascimento (também no seu terceiro Mundial) e o estreante João Costa terão claramente que fazer os seus melhores tempos para chegar às ‘meias’ dos 50m livres e 100m costas respetivamente. O pai Miguel (SLB) também já obteve o tão desejado mínimo para Paris, pelo que nadará solto e sem essa pressão.
Quanto ao João (Vitória SC), tem progredido de forma regular, e terá ‘afixado’ no quarto o tempo-mínimo olímpico de 53.74, curiosamente a marca que em teoria lhe dará o acesso à meia-final.
Diana e Ana
As muito experientes e já olímpicas Diana Durães e Ana P. Rodrigues realizaram época bem distinta uma da outra (as suas provas são bem diferentes, claro), mas que quererão terminar de forma semelhante, com boas marcas.
Diana (SLB) detém a segunda melhor classificação do setor, um 11º posto no Mundial de Budapeste 2022 nos 1500m (onde é a recordista nacional), mantendo-se na luta olímpica pois – como referiu também à partida para o Japão na passada quarta-feira, “nunca baixou os braços”.
Ana (Escola Desportiva de Viana), vem de uma época positiva e sempre em crescendo (com vários recordes nacionais), que só a pode animar para um bom Mundial, e dar um ótimo exemplo de dedicação e longevidade.
Estafeta de 4x100m estilos
Finalmente, de saudar o regresso das estafetas portuguesas ao Mundial, e que era uma das apostas e objetivos do treinador de alto rendimento da FPN, Alberto Silva, neste seu projeto em Portugal (no qual começou em setembro de 2021).
Nadaremos os 4x100m estilos masculinos, onde a marca de inscrição é apenas uma referência. Se tudo decorrer pelas expectativas mínimas, e cada atleta realizar ‘apenas’ o seu atual melhor tempo, poderemos terminar com uma marca próxima dos 3:35, teoricamente longe da final, mas a dar boas indicações para um potencial apuramento…olímpico.
Passo a explicar: são apuradas apenas 16 estafetas para Paris 2024, sendo que os três países que forem medalhados em Fukuoka estão automaticamente apurados (no caso de haver empate no terceiro lugar, as quatro equipas do pódio são qualificadas).
Depois, a decisão final será no Mundial de Doha (Catar) de 2 a 18 de fevereiro (de acordo com as classificações nas eliminatórias), no qual serão apuradas as restantes melhores 13 seleções (ou 12, se forem apuradas quatro em Fukuoka).
Ou seja, Portugal ensaia no Japão uma forte estafeta que poderá ser apurada para Paris, pelo que terminar claramente entre as 13 primeiras (em 29 países) será um dos objetivos lusos. Até porque poderá haver evolução nas decisões do Comité Olímpico Internacional e da World Aquatics em relação à participação da Rússia e Bielorússia (devido às sanções pela guerra na Ucrânia), o que no limite (uma hipótese remota, julgo) poderá permitir-lhes competirem em Doha 2024 e serem potencialmente mais dois países candidatos.
De notar que, pelas regras do COI, podem participar nas estafetas atletas que não tenham obtido mínimos nas provas individuais.
O quarteto nacional será composto por:
Costas – João Costa – RP de 53.8
Bruços – Gabriel Lopes – RP de 1.01.65 (por isso nada esta prova individual em Fukuoka)
Mariposa – Diogo Ribeiro – RP de 51.4
Livres – Miguel Nascimento – RP de 49.0
Total: 3:35.8
Se nadar abaixo de 3:40.19 Portugal melhora o recorde nacional de seleções que dura há mais de 11 anos…e foi obtido no Europeu de Debrecen 2012 pelo quarteto de luxo composto por Pedro D. Oliveira, Carlos Almeida, Simão Morgado e Tiago Venâncio (11º lugar, a quatro décimos da final).
‘Start list’ dos oito portugueses a uma semana do Mundial de Fukuoka 2023
Lugar Prova Marca Atleta 16ª Marca Notas
8º 50m M 22.96 Diogo Ribeiro (SLB) 23.20 RNA/RM Júnior
15º 100m M 51.45 Diogo Ribeiro (SLB) 51.45 RNA; 4 atletas empatados
17º 200m E 1:58.34 Gabriel Lopes (Louz.) 1:58.29 RP, bronze Euro ‘22
17º 100m L 47.98 Diogo Ribeiro (SLB) 47.97 RNA; 1º em menos 48s.
17º 50m L 21.87 Diogo Ribeiro (SLB) 21.86 RNA; 1º em menos 21.90
19º 50m L 21.91 Miguel Nascimento (SLB) 21.86 RP; mínimo JO
19º 1500m L 16:18.64 Tamila Holub (SCB) 16:14.09 Não há meias-finais
20º 800m L 8:34.25 Tamila Holub (SCB) 8:29.08 Não há meias-finais
21º 100m C 53.87 João Costa (VSC) 53.74 RNA
22º 200m C 2:11.03 Camila Rebelo (Louz.) 2:10.19 c/ 2:09.84 seria 14ª
22º 200m C 1:58.68 João Costa (VSC) 1:57.26 Marca do Euro ‘22
24º 1500m L 16:25.23 Diana Durães (SLB) 16:14.09 Não há meias-finais
24º 50m B 30.96 Ana P. Rodrigues (EDV) 30.56 RNA dela: 30.73 (’23)
26º 100m C 1:00.66 Camila Rebelo (Louz.) 59.70 RNA
27º 50m L 25.25 Ana P. Rodrigues (EDV) 24.78 RNA
31º 100m B 1:08.29 Ana P. Rodrigues (EDV) 1:06.69 RNA dela = 1:08.22 (’23)
32º 50m C 25.51 João Costa (VSC) 24.93 RP
34º 50m M 23.49 Miguel Nascimento (SLB) 23.20 RP
35º 50m C 28.81 Camila Rebelo (Louz.) 27.88 RP
36º 100m B 1:01.65 Gabriel Lopes (Louz.) 59.95 RP
27º 4x100m E 3:59.95 Portugal – masculinos 3:33.61 RN seleções: 3:40.19
Legenda: RNA – recorde nacional absoluto; RP – recorde pessoal; RM – recorde mundial
Técnicos dos atletas portugueses (ordem alfabética) e restante equipa:
Alberto Silva – FPN/Centro de alto rendimento do Jamor; em Fukuoka pela FPN
Gonçalo Neves – Associação Louzan (Coimbra)
Luís Cameira – SC Braga (Braga)
Rafael Ribas – Escola Desportiva de Viana (Viana do Castelo)
Ricardo Santos – SL Benfica (Lisboa)
Rui Costa – Vitória Sport Clube (Guimarães); em Fukuoka pela FPN
Vítor Ferreira – Associação Louzan/CAR de Coimbra; em Fukuoka pela FPN
Daniel Moedas (fisioterapeuta/CAR)
Igor Silveira (preparador físico/CAR)
Samie Elias (biomecânico/CAR)
Rui Escaleira (médico FPN)
Alexandre Fernandes (árbitro/CNA)
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