Fazia 21 anos que uma nadadora de clube baiano não subia ao pódio no Troféu Brasil, e 22 que não levava uma medalha de ouro. A revelação do Troféu Brasil 2023 tem nome e sobrenome, é Celine Souza Bispo, 18 anos de idade completados em março e que deixou Recife com conquistas e feitos inéditos.
Foram quatro provas, quatro finais A e todas com melhores marcas pessoais e recordes baianos absolutos. Os 50m borboleta lhe deu um ouro (26s26), os 100m borboleta (59s45) um bronze, e os 100m livre (55s49) a quarta colocação e vagas para as Seleções Brasileiras Absolutas.
No total, Celine saiu de Recife com três convocações para representar o Brasil. A mais importante, e surpreendente delas foi a que vai para o Mundial de Fukuoka onde irá nadar o 4x100m livre. A segunda era a esperada, e o objetivo de voltar a integrar o time do Brasil no Mundial Júnior. No ano passado, Celine estava no time do Mundial de Lima e ainda voltou com uma medalha de bronze no 4x100m livre. Agora, vai para Netanya, em Israel, com marcas bem mais expressivas. A terceira ainda é a se confirmar, mas seu nome está na lista para fazer parte da equipe que estará nos Jogos Pan Americanos de Santiago.
Este é o segundo ano de Celine participando do Troféu Brasil. Na temporada passada ela chegou a apenas uma final A, e terminou em oitavo lugar nos 50m borboleta, a prova que ela venceu este ano.
Revelada na equipe do CEPE de Salvador, Celine é outra jóia baiana descoberta pelo falecido treinador Luiz Antonio Menezes, o Baixinho, o mesmo que revelou Ana Marcela Cunha. Desde 2020 ela está na equipe do Yacht Clube da Bahia. Depois de uma temporada com Ricardo Santana agora ela treina com Murilo Barreto.
Com passagem de destaque pelo Comitê Paralímpico Brasileiro, Murilo não é só um bom treinador, mas um grande gestor de pessoas. E o trabalho com Celine mostra muito isso.
A jovem baiana sempre foi um talento, mas faltava o equilíbrio, o controle, a maturidade. E veio sob todas as formas. Técnica, fisicamente e comprometimento colocaram suas performances em outro nível.
Logo após a disputa da Copa das Federações no mês passado, Murilo tinha a certeza de que os resultados viriam no Troféu Brasil. Os tempos vieram, “eram esperados” diz ele, as colocações foram as surpresas.
Este é um ano diferente para Celine. Com o colégio concluído, ela tirou a temporada para se dedicar exclusivamente aos treinos. São nove sessões semanais em treinos em média de 5 quilômetros por etapa. Num programa onde a preparadora física Vitória Veiga foi fundamental, Celine teve uma melhora significativa na sua forma. São cerca de 5% a menos de gordura corporal em relação a temporada passada e um significativo aumento da massa muscular.
Quando perguntado por qual a melhor característica de Celine, Coach Murilo não hesita: “sua inteligência”. É uma nadadora que entende e executa a estratégia adequada para a prova. Ele também cita que ela tem dificuldades em trabalhar na zona anaeróbica. Suas séries são quase sempre progressivas, onde ela vai se sentindo bem e crescendo nas performances.
A temporada de 2023 também trouxe uma programação e um planejamento mais longo. Foram 12 semanas de base já prevendo que o segundo semestre seria mais competitivo, e cheio de eventos importantes. Os resultados do Troféu Brasil também determinaram uma mudança no planejamento. O Campeonato Brasileiro marcado para Salvador deixou de ser objetivo para ser mais uma competição. Aliás, Celine volta a competir neste final de semana.
Ela vai estar no Campeonato Baiano de Inverno e nadará algumas provas diferentes como 200m e 400m livre, além dos 200m borboleta. É a oportunidade para a comunidade aquática da Bahia celebrar sua nova estrela. As imagens da comemoração do ouro no Troféu Brasil em telão na sede do Yacht Clube da Bahia entram para a história como das mais significativas da natação brasileira este ano.
Yacht, o clube de Celine, é o mesmo clube de Nayara Ledoux Ribeiro, a última nadadora de equipe baiana a brilhar no Troféu Brasil. A última medalha baiana da natação feminina tinha sido na edição de 2002, um bronze nos 800m livre. No ano anterior, o último ouro, também na prova dos 800m livre.
Celine traz a natação feminina da Bahia de volta ao cenário nacional. A tradição local sempre teve mais expoentes nas provas de fundo com Ana Marcela Cunha, Viviane Motti e Nayara. Agora, é a vez da velocidade onde Celine não para de bater recordes.
Suas performances tem sido recompensadas num plano estabelecido pela Federação Baiana de Desportos Aquáticos. Recordes estaduais e medalhas em campeonatos nacionais ganham premiação em bônus da entidade. Ao terminar a sua campanha em Recife, Celine já tinha faturado mais de 2 mil reais com seus recordes e medalhas.
Com Fukuoka, Netanya, e Santiago no radar, Celine tem agora novos desafios, vôos mais altos e premiações mais expressivas. Tudo devidamente planejado e em busca de novos sonhos. Ela até revelou que uma antiga aspiração ainda vem da época que treinava com Baixinho, o sonho de virar olímpica.
A Bahia teve Flávia Rey com medalhas no Troféu Brasil de 1993 e 1994 nas provas de 50m livre e 10pm livre