A maratona aquática, prova de natação em águas abertas com distância de 10K, só veio a ser introduzida nos Jogos Olímpicos, na edição de 2008 em Pequim. Assim, podemos dizer que é uma modalidade olímpica nova, com apenas quatro edições.
A modalidade é um sucesso mundial e cada vez mais vem acalcando índices de audiência em transmissão pelo mundo todo e mais do que isso, o ganho de novos praticantes, não importando a idade.
Quem rege a natação em águas abertas é a FINA, desde os anos 1990. A partir do ano de 2001, a modalidade em questão vem fazendo parte do Campeonato Mundial, ao lado da natação de piscina, a cada biênio.
Mas ao que parece, a FINA ainda não entendeu o real potencial da natação em águas abertas. Mas antes de analisar as ações da Federação, vale uma breve retomada das distâncias.

5K
A distância sempre é realizada em Campeonato Mundial e também pode ser chamada de Meia Maratona
10K
A distância oficial da maratona aquática. Esta é a única versão que existe nos Jogos Olímpicos e obviamente também é disputada no Campeonato Mundial
25K
Na prática, qualquer prova que ultrapasse a distância de 15K, já é considerada ultramaratona aquática, mas no Campeonato Mundial, a prova é disputada em 25K

Na última semana, a FINA anunciou que a próxima edição de Campeonato Mundial, que acontecerá em Fukuoka no ano de 2023, não terá a ultramaratona aquática de 25K. Tal notícia foi uma “surpresa” para o mundo inteiro e também para os brasileiros, afinal de contas, Ana Marcela Cunha é pentacampeã mundial da prova.
Mas a pergunta que fica é: a ultramaratona é uma distância sem relevância para os nadadores?
A resposta é simples: é claro que é relevante. A ultramaratona aquática, seja uma travessia de ponto a ponto ou no formato de circuito, é atrativo para profissionais (como o caso de Ana Marcela) e também amadores, iniciantes, master e atletas vindo de outras modalidades, como o triatlo.

A verdade é que a FINA não sabe trabalhar a ultramaratona aquática. Até pouco tempo atrás, ela produzia o Grand Prix, um circuito mundial, sempre com distancias acima dos 15K. O circuito nunca fez muito sucesso, pois a própria Federação restringia o número de atletas por etapa. Provas com organização impecável, como Capri-Napoli na Itália, Santa Fé na Argentina, Lac. Saint Jean no Canada, são exemplos de arenas esportivas, como apoio das cidades anfitriãs e também da população local.
Mesmo assim a FINA não deu continuidade ao circuito, pois acredita que o mesmo não tinha relevância ou procura. Como a FINA restringia o numero de participantes é como se ela mesmo auto sabotasse.
Já em Campeonato Mundial, a relevância da ultramaratona de 25K era mais evidente e mesmo assim a entidade optou por cancelar a prova. Em nota oficial a mesma informou que a procura e quantidade de atletas inscritos era pequena.

Novamente é um erro da FINA, que não sabe gerenciar a natação em águas abertas. Desde 2001 até 2019, dentro do Campeonato Mundial, a natação em águas abertas acontecia na primeira semana e a natação de piscina na segunda semana. Isso sempre foi um impeditivo para o crescimento das águas abertas, afinal, a natação de piscina é muito mais tradicional e fica difícil para uma atleta estar nas duas modalidades ao mesmo tempo. Na edição de Budapeste-2022, foi a única vez que a ordem foi trocada e podem acreditar, ajudou muito na audiência das águas abertas
Mas novamente a FINA errou duas vezes: para a edição de Fukuoka, colocou as águas abertas antes da natação de piscina e cortou a ultramaratona aquática. Para piorar a situação, existe uma comissão de atletas internacionais nomeados pela própria Federação Internacional, a qual Ana Marcela faz parte e a mesma sequer foi consultada, nas últimas decisões da FINA
Vale ressaltar que a FINA rege também o polo aquático, nado artístico e saltos ornamentais. Mas a Federação precisa entender que a natação de águas abertas não é menor e nem menos importante que a natação de piscina

Análise Mundial
Nos últimos Campeonatos Mundiais e também nos Jogos Olímpicos, a Europa tem esmagadora vantagem no quadro de medalhas. Até aí tudo bem, mas o agravante é que nem Austrália nem Estados Unidos tem medalha em Jogos Olímpicos na maratona aquática masculina? Como que os dois países mais fortes do mundo na natação, não tem sequer uma medalha olímpica na maratona aquática? Fica claro que a FINA pode melhorar muito a gestão na modalidade
Voltando a falar exclusivamente da ultramaratona, uma maneira de tornar a prova ainda mais atrativa em Campeonatos Mundial, seria transformar a prova em travessia, ou seja, largar de um ponto A e chegar em um ponto B, cortando o circuito de voltas em boias, como vinha sendo realizado.
Esperamos que a FINA volte atrás e que passe a encarar a ultramaratona aquática, como um produto relevante, pois mercado para isso, a modalidade tem de sobra.